Odemira e Aljezur: o novo paradigma de agricultura sustentável
De zona deprimida e desertificada, passou-se para uma região pujante de atividade. O saldo entre os benefícios e os problemas é largamente positivo.
Os concelhos de Odemira e Aljezur apresentam, desde sempre, um potencial agrícola invejável, devido à conjugação de um conjunto único de fatores edafoclimáticos, como são as características dos seus solos, o clima temperado e a disponibilidade de água de qualidade e em quantidade. Por isso mesmo, em 1965 foi criado o Perímetro de Rega do Mira (PRM), que permitiu equipar e regar cerca de 12.000 hectares de terreno.
É somente em 1988 que é constituída uma região de Paisagem Protegida, que evoluiu posteriormente para a criação de um Parque Natural, cuja área se sobrepõe à quase totalidade do PRM, criado uma vintena de anos antes. A partir desse momento, Natureza e Agricultura ficaram inevitavelmente ligados e obrigados a entender-se e a coexistir para grande benefício da região.
Ao longo dos anos, a região foi consciencializando-se da importância de aperfeiçoar as suas práticas, seguir regras impostas e indo além destas, assegurando com isso a sustentabilidade do território. E é assim que em 1997 surge a AHSA, que ostenta hoje a designação de Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur. A associação reúne empresas agrícolas e agroindustriais nacionais e internacionais e contribui hoje, na economia local e nacional, com uma faturação de mais de 200 milhões de euros, grande parte dela destinada à exportação.
Assenta numa agricultura moderna, intensiva, mas sustentável, produzindo mais kg por unidade de área, com menores consumos de água e com necessidade reduzida de utilização de fitofármacos ou fertilizantes. É prática comum a utilização de auxiliares biológicos.
Dos 12.000 de hectares disponíveis no PRM, apenas 58% está a ser regado, 4000 dos quais dedicados a horticultura e apenas 1500 dispondo de algum tipo de cobertura. Está, assim, a ser utilizada pouco mais de uma terça parte da área que a legislação atual prevê poder ser coberta.
Reconhecendo, apesar disso, o impacto visual que as áreas cobertas podem ter, tomou a AHSA, proactivamente, a decisão de ir implementando cortinas de abrigo que, simultaneamente, protegem as culturas, promovem a fauna e a flora locais, enquanto minimizam a intrusão visual das estufas existentes.
Um dos efeitos colaterais de todo este desenvolvimento prende-se com uma alteração substancial do tecido social da região. De zona deprimida e desertificada, com uma população envelhecida e carência de mão-de-obra, passou-se para uma região pujante de atividade, atraindo migrantes de natureza temporária, mas também potencialmente permanente.
Cremos que o saldo entre os benefícios colhidos e os problemas suscitados é largamente positivo, mas não deixam de ser grandes os entraves que se colocam. Entre eles, o maior será provavelmente o do alojamento dos trabalhadores pelo impacto que provoca nos próprios e na população local. Algumas empresas associadas da AHSA participam ativamente na inclusão harmoniosa da mão de obra migrante, através das ações do PMIM (Plano Municipal de Integração de Migrantes) e do CLAIM (Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes).
A Associação tem tido um papel decisivo nos trabalhos do Grupo de Trabalho do PRM, onde os vários ministérios e entidades relevantes tentaram reunir consenso relativamente a um conjunto de matérias, nomeadamente quanto ao alojamento da mão de obra não residente dentro das quintas, facilitando, desta forma, as deslocações dos mesmos e superando o problema da falta de casas disponíveis nos núcleos urbanos. Urge concluir os resultados desse Grupo de Trabalho, alinhando posições da câmara municipal, ministérios do Ambiente e da Agricultura, ICNF e CCDR.
Reconhecendo os problemas de vária ordem que ainda subsistem, temos hoje, no entanto, o privilégio de viver numa região que era tradicionalmente conhecida pelas elevadas taxas de desemprego, desertificação e suicídios e que hoje vê crescer a agricultura de sucesso, a par do turismo, bem como todos os serviços de suporte que lhe são subjacentes.
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Os concelhos de Odemira e Aljezur apresentam, desde sempre, um potencial agrícola invejável, devido à conjugação de um conjunto único de fatores edafoclimáticos, como são as características dos seus solos, o clima temperado e a disponibilidade de água de qualidade e em quantidade. Por isso mesmo, em 1965 foi criado o Perímetro de Rega do Mira (PRM), que permitiu equipar e regar cerca de 12.000 hectares de terreno.
É somente em 1988 que é constituída uma região de Paisagem Protegida, que evoluiu posteriormente para a criação de um Parque Natural, cuja área se sobrepõe à quase totalidade do PRM, criado uma vintena de anos antes. A partir desse momento, Natureza e Agricultura ficaram inevitavelmente ligados e obrigados a entender-se e a coexistir para grande benefício da região.
Ao longo dos anos, a região foi consciencializando-se da importância de aperfeiçoar as suas práticas, seguir regras impostas e indo além destas, assegurando com isso a sustentabilidade do território. E é assim que em 1997 surge a AHSA, que ostenta hoje a designação de Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur. A associação reúne empresas agrícolas e agroindustriais nacionais e internacionais e contribui hoje, na economia local e nacional, com uma faturação de mais de 200 milhões de euros, grande parte dela destinada à exportação.
Assenta numa agricultura moderna, intensiva, mas sustentável, produzindo mais kg por unidade de área, com menores consumos de água e com necessidade reduzida de utilização de fitofármacos ou fertilizantes. É prática comum a utilização de auxiliares biológicos.
Dos 12.000 de hectares disponíveis no PRM, apenas 58% está a ser regado, 4000 dos quais dedicados a horticultura e apenas 1500 dispondo de algum tipo de cobertura. Está, assim, a ser utilizada pouco mais de uma terça parte da área que a legislação atual prevê poder ser coberta.
Reconhecendo, apesar disso, o impacto visual que as áreas cobertas podem ter, tomou a AHSA, proactivamente, a decisão de ir implementando cortinas de abrigo que, simultaneamente, protegem as culturas, promovem a fauna e a flora locais, enquanto minimizam a intrusão visual das estufas existentes.
Um dos efeitos colaterais de todo este desenvolvimento prende-se com uma alteração substancial do tecido social da região. De zona deprimida e desertificada, com uma população envelhecida e carência de mão-de-obra, passou-se para uma região pujante de atividade, atraindo migrantes de natureza temporária, mas também potencialmente permanente.
Cremos que o saldo entre os benefícios colhidos e os problemas suscitados é largamente positivo, mas não deixam de ser grandes os entraves que se colocam. Entre eles, o maior será provavelmente o do alojamento dos trabalhadores pelo impacto que provoca nos próprios e na população local. Algumas empresas associadas da AHSA participam ativamente na inclusão harmoniosa da mão de obra migrante, através das ações do PMIM (Plano Municipal de Integração de Migrantes) e do CLAIM (Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes).
A Associação tem tido um papel decisivo nos trabalhos do Grupo de Trabalho do PRM, onde os vários ministérios e entidades relevantes tentaram reunir consenso relativamente a um conjunto de matérias, nomeadamente quanto ao alojamento da mão de obra não residente dentro das quintas, facilitando, desta forma, as deslocações dos mesmos e superando o problema da falta de casas disponíveis nos núcleos urbanos. Urge concluir os resultados desse Grupo de Trabalho, alinhando posições da câmara municipal, ministérios do Ambiente e da Agricultura, ICNF e CCDR.
Reconhecendo os problemas de vária ordem que ainda subsistem, temos hoje, no entanto, o privilégio de viver numa região que era tradicionalmente conhecida pelas elevadas taxas de desemprego, desertificação e suicídios e que hoje vê crescer a agricultura de sucesso, a par do turismo, bem como todos os serviços de suporte que lhe são subjacentes.
Cabe uma palavra importante ao Estado e aos municípios, no sentido de melhorar acessibilidades, infraestruturas de saúde e de educação, que acolham novos e velhos habitantes numa convivência que tem sido, e se pretende continue a ser, saudável.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico