Francisco J. Marques em tribunal: “O Benfica fazia espionagem aos concorrentes e aos árbitros”

Director de comunicação dos “dragões” afirma que e-mails continham lista com alegadas amantes de árbitros, negando que membros do FC Porto tenham analisado dados confidenciais presentes na correspondência electrónica “encarnada” por esta não ser relevante para o interesse público.

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Francisco J. Marques à saída do Tribunal Cível do Porto Inês Fernandes

O FC Porto não analisou os dados sensíveis ao Benfica contidos nos e-mails do clube da Luz. A garantia foi dada nesta quarta-feira, no Tribunal Cível do Porto, por Francisco J. Marques, director de comunicação do FC Porto e réu no processo em que os “encarnados” pedem uma indemnização de 17,7 milhões de euros por danos causados pela revelação dos e-mails privados. As alegações finais serão apresentadas por escrito e o juiz terá até ao dia 20 de Maio para ditar a sentença. 

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O FC Porto não analisou os dados sensíveis ao Benfica contidos nos e-mails do clube da Luz. A garantia foi dada nesta quarta-feira, no Tribunal Cível do Porto, por Francisco J. Marques, director de comunicação do FC Porto e réu no processo em que os “encarnados” pedem uma indemnização de 17,7 milhões de euros por danos causados pela revelação dos e-mails privados. As alegações finais serão apresentadas por escrito e o juiz terá até ao dia 20 de Maio para ditar a sentença. 

Para provar que a única motivação nas revelações feitas foi o interesse público, Francisco J. Marques garantiu ter deixado de fora muitos dos detalhes pessoais das pessoas envolvidas nos e-mails, especialmente do mundo da arbitragem. Um dos e-mails recebidos, afirmou em tribunal, continha uma lista com as alegadas amantes de alguns dos árbitros do principal escalão. “Estamos aqui sentados porque o Benfica acha que o FC Porto fazia espionagem. O Benfica fazia espionagem aos concorrentes e aos árbitros”, ironiza.

Como ficheiros anexos aos e-mails recebidos pelos portistas, seguiam vários documentos que detalhavam metodologias de treino das camadas jovens dos “encarnados”. Francisco J. Marques, porém, garantiu que essa informação não foi usada em benefício dos “dragões”, por não ter dados que levantassem a suspeita de actividades ilícitas.

“O meu comportamento [perante os ficheiros] foi puramente jornalístico. O que está aqui [nesses e-mails ​com informações tácticas] é, quanto muito, a estratégia dos juvenis. Não era isso que procurávamos. Procurávamos as tramóias do Benfica. Os esquemas de marcação não eram tramóia. Não nos interessava nada. O Diogo [Faria] tê-los-á visto e disse que não eram relevantes”, afirmou Francisco J. Marques em tribunal.

O director de comunicação do FC Porto é um dos réus neste processo cível e foi chamado pela equipa de defesa dos “dragões” no passado dia 28 de Março, mas apenas conseguiu ser ouvido esta quarta-feira. Garante ter recebido os primeiros e-mails em Abril de 2017, no endereço institucional. Depois de confirmar a veracidade dos mesmos, criou um endereço registado na plataforma tutanota, que encripta o conteúdo dos mesmos e aumenta a segurança da informação partilhada.

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Diogo Faria já tinha explicado como tinham chegado os e-mails ao FC Porto NELSON GARRIDO

“Recebi o primeiro e-mail em Abril de 2017. Estava num almoço e vi no telemóvel um e-mail com aquilo que viria a ficar conhecido como ‘a cartilha’. Esta correspondência foi enviada para o meu endereço do FC Porto. Passados dois, três dias criei um e-mail no tutanova”. Foi comprado um computador da Apple para analisar o conteúdo dos e-mails porque, garante, alguns dos ficheiros apenas conseguiriam ser abertos naquela marca de computador. E corrobora o testemunho de Diogo Faria quando diz que apenas eles tiveram acesso aos e-mails.

“Disse-lhe para entregar os e-mails à polícia”

O director de comunicação dos “dragões” negou qualquer conhecimento da identidade da pessoa responsável pelo roubo de informação aos “encarnados”, acrescentando, ainda, que tentou que a fonte anónima enviasse os e-mails à polícia. Francisco J. Marques afirmou, ainda, que foi a própria Polícia Judiciária a entrar em contacto com ele para que aquela força policial pudesse analisar a informação contida na correspondência electrónica.

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Direcção da SAD portista não teve responsabilidade na divulgação dos e-mails, de acordo com Francisco J. Marques ESTELA SILVA / LUSA

“A primeira entrega de e-mails à polícia foi em Junho de 2017. Há uma pessoa da PJ que me liga a dizer que precisava de falar comigo. Nesse encontro disse-me que queria [os e-mails]. Foram ao Dragão Caixa buscá-los. Continuei a receber e-mails e comprometi-me a avisá-los quando isso acontecesse. A segunda entrega foi feita ao lado da prisão de Caxias. Depois houve uma terceira entrega realizada num serviço semelhante ao ‘we transfer’, criado pela própria polícia”, relembrou.

A divulgação semanal no programa Universo Porto - da Bancada era da responsabilidade exclusiva dos intervenientes, deixou claro Francisco J. Marques, afastando a hipótese de uma estratégia gizada com a SAD “azul-e-branca”. Deste modo, o director de comunicação dos portistas afastou responsabilidades de Jorge Nuno Pinto da Costa, Adelino Caldeira e Fernando Gomes, dirigentes do FC Porto e também réus no processo (tal como o FC Porto, a SAD portista, a FC Porto Média e a Av dos Aliados-Sociedade de Comunicação), de qualquer intervenção na análise e partilha do conteúdo da correspondência electrónica.

Diogo Faria esteve em Budapeste

No dia 28 de Março, já Diogo Faria tinha sido ouvido no Tribunal Cível do Porto. O membro da equipa de comunicação dos “dragões” — e comentador no programa onde eram revelados os e-mails — afirmou ter sido uma das duas pessoas da estrutura do clube com acesso à correspondência electrónica do Benfica. Os ficheiros estavam armazenados num computador sem acesso à rede interna do clube, numa sala onde o acesso seria apenas permitido a Francisco J. Marques e a Diogo Faria.

“Sei que o Francisco J. Marques recebia a correspondência electrónica por e-mail, enviada do endereço ‘elements123@tutanota.com’. O nosso objectivo era analisar as caixas de correio para ver se existiria informação do interesse público e confirmar as suspeitas que já existiam no futebol português”, afirmou.

Questionado sobre uma possível ligação a Rui Pinto, Diogo Faria confirmou ter sido colega de faculdade dele, mas negou qualquer contacto com o denunciante do Football Leaks desde 2013, altura em que deixou de frequentar a faculdade diariamente.

Na passada semana soube-se, contudo, que o comentador tinha visitado Budapeste em Novembro. No Twitter, Diogo Faria garantiu que a viagem tinha sido feita com a companhia da namorada, exclusivamente em lazer, acrescentando que não escondeu o destino da viagem. “Cheguei a ponderar não realizar a viagem, para não dar azo a falatório escusado. Mas fui, por motivos muito simples: não iria lá fazer nada de mal e/ou que tivesse de esconder. Não escondi a viagem de ninguém. Durante os três dias em que estive em Budapeste não vi o Rui Pinto nem tive qualquer contacto com ele, mantendo-se que não o vejo, pelo menos, desde 2013”, justificou.