O passo “planetário” do Westway Lab para uma música sem fronteiras

Rumo à 6.ª edição, com 29 concertos, 14 conferências e 4 residências artísticas, o festival que quer o mundo musical cada vez mais próximo arranca esta quarta-feira em Guimarães com concerto do holandês Jacco Gardner, mas com a mira apontada para o Canadá, que leva a Guimarães cinco bandas.

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“Esta banda é muito boa, não tivesse o azar de ter nascido em Portugal e já tinha chegado mais longe.” Durante décadas esta ideia feita e generalizada foi inimiga da música feita em solo nacional, que, salvo raras excepções, esbarrava com um muro logo ali na fronteira com Espanha. Atravessar o Atlântico, nem com os nossos irmãos de língua no Brasil, era tarefa simples. De resto, este continua a não ser um mercado fácil de furar para os músicos portugueses, que dali bebem mais influências do que as que passam.

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“Esta banda é muito boa, não tivesse o azar de ter nascido em Portugal e já tinha chegado mais longe.” Durante décadas esta ideia feita e generalizada foi inimiga da música feita em solo nacional, que, salvo raras excepções, esbarrava com um muro logo ali na fronteira com Espanha. Atravessar o Atlântico, nem com os nossos irmãos de língua no Brasil, era tarefa simples. De resto, este continua a não ser um mercado fácil de furar para os músicos portugueses, que dali bebem mais influências do que as que passam.

Nos últimos anos, contra fronteiras geográficas ou linguísticas, muitas vezes estas últimas apontadas como o maior empecilho, houve quem provasse que a indústria — a nova versão desta indústria pós-Internet — é realmente cada vez mais global e são já muitos os exemplos de bandas que não se deixaram ficar pelos limites deste país periférico, no que aos centros de influência diz respeito, e furaram Europa e mundo fora, a maior parte de forma ainda tímida, alguns, caso do híbrido Buraka Som Sistema, tornando-se fenómenos de culto.

É exactamente para que o percurso até aos centros de decisão para chegar à internacionalização se torne mais curto que o Westway Lab nasceu em Guimarães, em 2014. A meta definida era tornarem-se tubo de ensaio de novos projectos, palco e montra virada para os agentes internacionais. É seguindo esta lógica tridimensional que o festival regressa esta quarta-feira para até 13 de Abril se pensar, criar e ouvir música a uma escala global.

Se noutros anos o raio de actuação estava quase circunscrito ao espaço europeu, pela primeira vez, os responsáveis do evento, arriscam ter uma perspectiva “planetária”, ao virarem o foco para o Canadá, que leva a Guimarães cinco bandas. À margem da comitiva canadiana, reservou-se a Jacco Garden as honras de abrir a secção de concertos do evento. Esta quarta-feira, o holandês, que passa na quinta-feira pelo Tremor, nos Açores, e dia 13 passa por Lisboa (Teatro Ibérico), apresenta o novo Somnium, terceiro álbum de estúdio, que no Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) — quartel-general do Westway Lab — será tocado com todos em cima do palco — músico e público.

Do programa fazem parte 29 concertos, 14 conferências, 2 keynotes, 2 workshops, 3 sessões networking, 20 export offices europeus, 2 talks e 4 residências artísticas. Desde o início do mês que quatro parelhas musicais compostas por músicos nacionais e internacionais já trabalham no Centro de Criação do Candoso, onde estão a morar temporariamente exclusivamente para criar música que será apresentada em showcases que decorrem no Café-concerto do CCVF.

Alguns dos músicos internacionais que ali estão fazem parte da comitiva canadiana que na sexta-feira sobe aos diferentes palcos do CCVF, em sessão dedicada a este país. Passam por lá as cantautoras Sarah MacDougall e Megan Nash, The East Pointers, Tribe Royal e a dupla Les Deuxluxes.

Espicaçar à colaboração

O director artístico do festival, Rui Torrinha, diz ao PÚBLICO que esta parceria transatlântica nasce do contacto realizado com a CIMA — Canadian Independent Music Association, numa tentativa de “espicaçar os dois países a colaborarem mais”. Depois de no ano passado o país em foco ter sido a Áustria, este ano, pela primeira vez, dá-se destaque a um país fora das redes europeias ETEP e INES, das quais vários festivais fazem parte.

A opção pelo Canadá surge por ser um país “exemplo” em matéria de “internacionalização” e de “criação”. “Queremos aprender com quem faz isto bem”, diz o director artístico, que sublinha estarem a aproveitar um momento em que músicos portugueses já estreitaram essa relação. Exemplo disso é o novo álbum de Branko, Nosso, sucessor de Atlas, que conta com a colaboração do afro-canadiano Pierre Kwenders.

Como em outros anos, através do gabinete de internacionalização da música portuguesa, Why Portugal, seleccionaram-se três projectos nacionais — a pop de Neev, o indie de Vaarwell e o fado saído da guitarra de Marta Pereira da Costa — para uma montra que quer mostrar a “diversidade da criação portuguesa”. Os City Showcases também voltam no sábado para percorrer vários espaços de Guimarães, como o Convívio, Oub’lá ou o Bar da Ramada, que recebem o indie-pop do duo austríaco Mickey, o pop da sueca Elin Namnieks, o indie-rock de Izzy and the Black Trees, da Polónia, o multi-intrumentista e compositor grego Theodore e os portugueses Holy Nothing, o guitarrista Francisco Sales, a cantora Beatriz Nunes e o rock dos Smartini.

Destacando o que se faz na cidade, Captain Boy, Paraguaii e Mister Roland, os três com novo álbum, integram a secção City Showcases, a decorrer no sábado, dia que termina com actuações no CCVF de The Black Mamba, Batida que apresenta: The Almost Perfect DJ e Tashi Wada Group com Julia Holter.

Esta quarta-feira, quem dá o pontapé de saída para os concertos é Jacco Garden, com um concerto “especial”. Desvenda Rui Torrinha que o holandês usará o palco para tocar e também será lá que estará colocada a plateia; o público rodeará o músico para uma experiência em “quadrifonia” num festival que, diz Rui Torrinha, está assente em três P: “Processo, Pensamento e Produto” (residências artísticas, conferências e concertos).