Eleições em Israel: a batalha de Netanyahu contra Gantz
O mais político dos políticos enfrenta um grande desafio de um recém-chegado à política nas eleições desta terça-feira em Israel.
Há dezenas de partidos, muitos candidatos, tendências políticas muito diferentes, mas as eleições em Israel desta terça-feira estão a ser vistas como uma corrida entre o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que venceu três eleições consecutivas (e uma ainda antes destas) e está no Governo há dez anos seguidos (e uma vez antes), e Benny Gantz, de algum modo o seu contrário, um antigo chefe do Exército que fundou um partido há poucos meses.
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Há dezenas de partidos, muitos candidatos, tendências políticas muito diferentes, mas as eleições em Israel desta terça-feira estão a ser vistas como uma corrida entre o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que venceu três eleições consecutivas (e uma ainda antes destas) e está no Governo há dez anos seguidos (e uma vez antes), e Benny Gantz, de algum modo o seu contrário, um antigo chefe do Exército que fundou um partido há poucos meses.
Netanyahu, do Likud (centro-direita), fortaleceu a imagem internacional de Israel, manteve o país seguro face a várias ameaças, conseguiu aumentar alianças (mesmo que algumas com líderes controversos como Rodrigo Duterte, das Filipinas, ou Viktor Orbán, da Hungria). As recentes ajudas vindas de Washington e de Moscovo não passaram despercebidas: o Presidente norte-americano, Donald Trump, disse que iria reconhecer a soberania israelita sobre os Montes Golã; o líder russo, Vladimir Putin, ajudou a fazer voltar a Israel o corpo de um soldado desaparecido em combate no Líbano há 37 anos.
Lugar na História
Se for eleito, Netanyahu ficará na História como o primeiro-ministro que mais tempo ficou no cargo.
Mas também poderá ficar na História como o primeiro chefe de Governo a ser acusado enquanto está em funções: o procurador-geral já disse que prepara a acusação e que esta está apenas dependente de ouvir Netanyahu, um procedimento formal.
O primeiro-ministro é suspeito em três casos: um envolve o possível favorecimento de um grupo de telecomunicações detentor de um site que lhe terá dado cobertura noticiosa positiva; noutro é suspeito de ter prejudicado a concorrência de um jornal que lhe deu cobertura noticiosa favorável, e ainda é suspeito de aceitar presentes de empresários em troca de favores políticos.
E o quadro legal de Israel permite que, mesmo acusado, se possa manter no cargo enquanto se defende em tribunal, algo que Netanyahu já garantiu que faria, dizendo que se trata de uma “caça às bruxas”. Anúncios de campanha do Likud põem em dúvida a motivação dos jornalistas que têm noticiado os casos de corrupção. “Eles não decidem, você decide”, dizia um cartaz com as caras destes jornalistas de televisão. “Vota Likud.”
No entanto, Netanyahu está tão presente há tanto tempo na política israelita que há também quem já esteja cansado. O modo como desacreditou não só os jornalistas, mas também organizações não-governamentais que criticam a política do Governo valeu-lhe o epíteto de arrogante.
Este descontentamento com Netanyahu encontrou um veículo na figura do antigo chefe do Exército Benny Gantz. Sem experiência política, Gantz traz a imagem de alguém nas mãos de quem Israel ficará seguro e, mais importante, de alguém que não é corruptível.
Como explicou recentemente o especialista em ciência política da Universidade Hebraica de Jerusalém Yonathan Freeman ao PÚBLICO, os chefes militares são vistos em Israel como pessoas de valores morais sólidos – que não são corruptas.
Gantz foi vencendo etapa após etapa: fossem semanas de silêncio, fossem semanas de campanha, a sua popularidade foi-se mantendo. Fez uma aliança com o partido do centro de Yair Lapid, e os dois abdicaram do plano de rotatividade na chefia do Governo caso cheguem ao poder – as sondagens diziam que poderiam ganhar mais dois lugares com esta mudança.
"Netanyahu é que está em perigo"
Netanyahu tem apresentado Gantz como sendo de esquerda e repetido que só ele é que pode gerir o país. Avisou os eleitores da direita contra a “complacência” e disse que “a direita está em perigo”, numa visita ao popular mercado Mehane Yehuda, em Jerusalém Ocidental. Antes, prometeu anexar a Cisjordânia, depois de questionado numa entrevista – algo que foi visto como um modo de ganhar votos à direita.
Gantz criticou as duas afirmações de Netanyahu: “A direita não está em perigo – Netanyahu é que está”, declarou, argumentando que, se não for eleito, Netanyahu será certamente julgado por crimes que acarretam penas consideráveis de prisão. Se for eleito, o processo poderá ser diferente.
Quanto à anexação da Cisjordânia: “Não se pode ficar entusiasmado com uma coisa que alguém atira um minuto antes das eleições, quando teve 13 anos para o fazer. É obviamente apenas um truque eleitoral”, declarou.
Mas se Netanyahu, mais, e Gantz, menos, são os protagonistas, há hipóteses de que quem decida o próximo primeiro-ministro seja um dos líderes de um dos partidos mais pequenos.
Nunca na história de Israel um partido conseguiu eleger 61 deputados no Knesset (Parlamento) para ter uma maioria absoluta, e foi sempre necessário recorrer a coligações que podem ser mais alinhadas ou mais ou menos oportunistas, mas que dão sempre um maior peso aos pequenos partidos do que o expresso pela sua votação.
A importância da coligação
E aqui surge a outra oportunidade para Netanyahu. Mesmo que perca, o primeiro-ministro pode vencer, se conseguir convencer suficientes partidos à sua direita. Com base nas sondagens (notando, no entanto, que já erraram muitas vezes em Israel), é Netanyahu quem terá a maior hipótese de conseguir uma coligação.
Mais, lembra Allison Kaplan Sommer no Ha’aretz, esta não seria a primeira vez: em 2009, Tzipi Livni venceu, mas foi o segundo mais votado, Netanyahu, quem convenceu partidos suficientes, seis, para formar uma coligação. “Basta ver onde estão hoje Livni, retirada da política, e Netanyahu para perceber o que é que realmente interessa.”
Mas há ainda outra hipótese: um Governo de “bloco central” entre o Likud e a aliança Azul e Branca. Este seria uma hipótese especialmente favorável para que Donald Trump conseguisse fazer aprovar, pelo menos do lado de Israel, o seu “acordo do século”, como o próprio Presidente norte-americano se referiu ao plano de paz que será apresentado após as eleições. Nenhum dos líderes fechou totalmente a porta à possibilidade. A eleição “Netanyahu versus Gantz” poderia afinal resultado num Governo “Netanyahu & Gantz”.