O organismo que produz clorofila sem fazer a fotossíntese
É a primeira vez que os cientistas dizem ter encontrado um organismo que produz clorofila sem fazer a fotossíntese.
É invisível a olho nu e está em 70% dos corais de todo o mundo. Apelidado de corallicolid, este organismo vive em simbiose com os corais e consegue produzir clorofila sem fazer a fotossíntese. Estes são os principais resultados de um estudo publicado na última edição da revista científica Nature.
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É invisível a olho nu e está em 70% dos corais de todo o mundo. Apelidado de corallicolid, este organismo vive em simbiose com os corais e consegue produzir clorofila sem fazer a fotossíntese. Estes são os principais resultados de um estudo publicado na última edição da revista científica Nature.
Este organismo foi observado pela primeira vez em 1985 e deram-lhe o nome de Gemmocystis. Ao longo de 30 anos, sugeriu-se que este organismo estava nos corais, mas não se tinha a certeza sobre qual era a relação entre os dois organismos. Neste trabalho, esclarece-se que vive em simbiose com os corais. “Descrevemos o corallicolid como uma linhagem distinta que abrange várias espécies e géneros de organismos como o Gemmocystis”, explica ao PÚBLICO Waldan Kwong, da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) e primeiro autor do artigo.
A equipa de Waldan Kwong usou diferentes métodos genómicos e microscópicos para perceber melhor que organismo é este. O que é então? É tão minúsculo que não se vê a olho nu e está nos tecidos dos corais, nomeadamente na cavidade gástrica. E pertence a um vasto grupo de parasitas chamado “apicomplexa”: o elemento mais famoso deste grupo é o parasita responsável pela malária.
O corallicolid foi encontrado em corais da Grande Barreira de Coral (Austrália), do mar Vermelho e das Caraíbas. Ao todo, estima-se que estejam em 70% dos corais de todo o mundo. “Este é o segundo co-habitante mais abundante nos corais no planeta [a seguir ao grupo Symbiodiniaceae]”, refere Patrick Keeling, botânico da Universidade da Colúmbia Britânica e outro dos autores do trabalho, num comunicado da sua instituição.
Verificou-se ainda que se comporta de forma muito peculiar: é capaz de produzir clorofila (pigmento verde encontrado nas plantas e nas algas que lhes permite absorver energia do sol durante a fotossíntese), mas não faz a fotossíntese. É a primeira vez que os cientistas dizem ter encontrado um organismo que produz clorofila sem fazer a fotossíntese.
“Ter clorofila sem fazer a fotossíntese é na verdade muito perigoso porque a clorofila é óptima a captar energia, mas sem a fotossíntese para libertar essa energia aos poucos é como viver com uma bomba nas células”, indica Patrick Keeling.
Portanto, este é um grande mistério que terá de ser esclarecido em novos estudos. No comunicado, refere-se ainda que este organismo nos pode dar pistas para proteger os recifes de coral no futuro. Contudo, Waldan Kwong ressalva: “Ainda não sabemos o suficiente sobre o papel deste organismo na saúde dos corais e na recuperação do [fenómeno de] branqueamento.”