Alterações climáticas estão a impedir a recuperação da Grande Barreira de Coral
Cientistas da Austrália e do Estados Unidos verificaram uma descida histórica no surgimento de novos corais na Grande Barreira de Coral causada pelo aquecimento global.
Em 2016 e 2017, a Grande Barreira de Coral, na Austrália, foi atacada pelo fenómeno de branqueamento em massa: muitos corais morreram e outros ficaram desnutridos. Embora o branqueamento – que está associado às alterações climáticas – não tenha atingido este ecossistema em 2018, continua a influenciar a vida dos seus organismos. Segundo um artigo publicado na revista científica Nature, estes branqueamentos consecutivos causaram uma diminuição de 89% no surgimento de novos corais no ano passado.
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Em 2016 e 2017, a Grande Barreira de Coral, na Austrália, foi atacada pelo fenómeno de branqueamento em massa: muitos corais morreram e outros ficaram desnutridos. Embora o branqueamento – que está associado às alterações climáticas – não tenha atingido este ecossistema em 2018, continua a influenciar a vida dos seus organismos. Segundo um artigo publicado na revista científica Nature, estes branqueamentos consecutivos causaram uma diminuição de 89% no surgimento de novos corais no ano passado.
Em 20 anos, a Grande Barreira de Coral enfrentou quatro branqueamentos em massa: em 1998, 2002, 2016 e 2017. O que é que isto que dizer? Influenciada pelas alterações climáticas, a água aquece mais do que seria de esperar e os corais ficam brancos.
Tudo acontece porque as algas – que vivem em simbiose com os corais e lhes dão cor – produzem substâncias tóxicas e deixam de fazer a fotossíntese. É assim que os corais as expulsam e ficam com o seu esqueleto esbranquiçado à vista. Como os corais ficam sem acesso aos nutrientes dados pelas algas, ficam desnutridos e podem morrer. As perdas causadas por este fenómeno foram substanciais: só em 2016, morreram 30% dos corais rasos da Grande Barreira.
Agora, uma equipa de cientistas liderados por Terry Hughes, director do ARC – Centro de Excelência para o Estudo dos Recifes de Coral (Austrália), analisou as relações entre os corais adultos e a produção de larvas antes e depois dos branqueamentos de 2016 e 2017.
Essa relação é conhecida como “recrutamento de larvas” (da expressão em inglês larval recruitment). Simplificando, neste processo, os corais reproduzem-se através da produção de larvas designadas plânulas. Depois, essas larvas dispersam-se no plâncton até colonizarem o recife. No final, darão origem a novos corais. “Geralmente, este recrutamento é considerado essencial para a recuperação [dos recifes] de alguma perturbação [como o branqueamento]. Sem bebés não pode haver adultos”, explica ao PÚBLICO Andrew Baird, do ARC e um dos autores do artigo.
O que se verificou então? “Como consequência da mortalidade em massa de corais adultos em 2016 e 2017 devido ao stress térmico, a quantidade de recrutamento de larvas desceu para níveis históricos de 89% em 2018”, lê-se no artigo. Portanto, como houve uma perda de corais adultos, houve uma diminuição de 89% na reposição de novos corais na Grande Barreira. “Corais mortos não têm bebés”, ressalva Terry Hughes num comunicado do ARC.
“As larvas de corais que são produzidas todos os anos são componentes vitais da resiliência da Grande Barreira de Coral”, salienta Andrew Baird, destacando que a diminuição no recrutamento de larvas foi mais grave na secção Norte da Grande Barreira e nos corais do género Acropora. Neste tipo de organismos, houve uma descida de 93% na reposição de corais.
“O aquecimento global comprometeu gravemente a capacidade de os recifes recuperarem dos branqueamentos”, resume Andrew Baird. Liguemos então todas as peças deste puzzle: as alterações climáticas causam o branqueamento, o branqueamento mata os corais adultos, os corais mortos não produzem larvas e sem larvas não se pode recuperar da perda de adultos causada pelas alterações climáticas.
Uma boa notícia
Sobre a recuperação de toda a Grande Barreira, Andrew Baird refere que este ecossistema só regenenará se os branqueamentos em massa acabarem. “Espero que o recrutamento [de larvas] nos corais recupere gradualmente nos próximos cinco a dez anos, à medida que os corais sobreviventes crescem e muitos deles atingem a maturidade sexual”, diz Terry Hughes.
Contudo, isto só acontecerá se o fenómeno de branqueamento não atingir a Grande Barreira na próxima década. “É impossível prever quando será o próximo branqueamento em massa mas é muito provável que aconteça outro fenómeno destes entre os próximos cinco e dez anos”, estima Andrew Baird. Já Terry Hughes destaca que a única forma de resolver este problema é atacar directamente a causa do aquecimento global, ou seja, reduzir rapidamente as emissões de gases com efeito de estufa.
Resta uma boa notícia: em 2018 e 2019 (em princípio) os corais não estão a ficar esbranquiçados.