Desta vez, a música portuguesa gosta dela própria num piquenique em Viana do Castelo
A segunda edição do piquenique organizado pelo projecto A Música Portuguesa a Gostar dela Própria realiza-se no domingo, dia 7 de Abril, no Parque da Cidade de Viana do Castelo.
Depois do sucesso alcançado com a primeira edição do piquenique, realizado em Janeiro de 2018 em Monforte da Beira, o projecto A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (AMPAGDP) vai rumar a Viana do Castelo, este domingo, 7 de Abril, para mais uma iniciativa que promete ser muito mais do que um convívio musical. O objectivo é reunir, fora dos grandes centros urbanos, músicos, amadores ou profissionais, dos mais variados cantos do país e celebrar o património etnomusicológico português que já se tinha como esquecido.
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Depois do sucesso alcançado com a primeira edição do piquenique, realizado em Janeiro de 2018 em Monforte da Beira, o projecto A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (AMPAGDP) vai rumar a Viana do Castelo, este domingo, 7 de Abril, para mais uma iniciativa que promete ser muito mais do que um convívio musical. O objectivo é reunir, fora dos grandes centros urbanos, músicos, amadores ou profissionais, dos mais variados cantos do país e celebrar o património etnomusicológico português que já se tinha como esquecido.
A partilha musical e gastronómica dá-se de forma orgânica, já que para participar no evento não é necessário qualquer tipo de requisito prévio. Basta as pessoas aparecerem com o seu farnel e, caso queiram actuar, fazerem-se acompanhar de um instrumento ou apenas da sua voz. A espontaneidade é explorada ao máximo e renuncia-se a elementos supérfluos que podem minar a naturalidade típica destes costumes. De facto, é assim que Tiago Pereira, criador do projecto AMPAGDP, explica ao P3 a ausência de um palco que poderia fragmentar o espírito de união e partilha desejados: “O objectivo é estarmos todos juntos e reforçarmos que somos todos iguais. Este dispositivo parece estar esquecido.”
No ano passado, cerca de 400 pessoas passaram pelo piquenique de Monforte da Beira, um número que surpreendeu a organização, tanto pela dimensão como pelo empenho demonstrado pelo público que “dormiu de véspera” no recinto do evento. Na edição de este ano, e face ao sucesso alcançado em 2018, espera-se “um alto grau de mobilização”, já que foram muitos os contactos encetados por potenciais interessados no sentido de perceber se as condições climáticas desfavoráveis podem motivar o cancelamento do evento. Ainda assim, e caso as previsões de chuva se confirmem, a iniciativa decorrerá no Pavilhão de Santa Maria Maior.
De facto, nem a distância que separa Viana do Castelo dos restantes pontos do país parece assustar Tiago Pereira que enaltece a vontade dos participantes em contrariar o “espírito preguiçoso” da população que já se esqueceu do que é fazer planos e encontros cara-a-cara. Segundo o próprio, o modelo de piquenique promovido pela AMPAGDP deve ser “replicado”, uma vez que representa um “modelo social” oposto ao praticado actualmente.
O projecto A Música Portuguesa a Gostar dela Própria surgiu em Janeiro de 2011 devido à necessidade de Tiago Pereira, realizador de profissão, ver documentado e mapeado o património artístico popular português, o que inclui cantigas, romances, contos, práticas sacro-profanas, músicas ou danças. E mostra como, para lá do levantamento exaustivo feito a partir dos anos 60 pelo etnomusicólogo corso Michel Giacometti, ao longo de três décadas, ainda há muito para descobrir por esse país fora.
Há oito anos que Tiago dedica o seu tempo a percorrer o país e a eternizar estas experiências culturais protagonizadas por pessoas reais – são estas mesmas pessoas que no piquenique têm oportunidade de levar a sua arte a sítios que seriam impensáveis. Actualmente, a página do Vimeo associada ao projecto conta com 42 000 vídeos publicados. Para além desta página, a iniciativa possui também um site próprio onde é também possível aceder a todo o acervo de recolhas, organizadas por regiões.
Para o criador de A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, o projecto deve ser interpretado como uma forma de “activismo social que visa honrar a memória cultural portuguesa”. A luta do grupo que o acompanha na associação homónima passa por derrubar os muros criados pela indústria musical que deixou de se preocupar com aqueles que não pertencem às massas e que ignora os meandros da cultura portuguesa.
Texto editado por Abel Coentrão