Cinemateca tem modelo de negócio para laboratório e pensa cenários para futuro

A informação foi avançada esta quarta-feira pela direcção da Cinemateca aos deputados da comissão parlamentar de Cultura que fizeram uma visita oficial às instalações do organismo cultural, em Lisboa.

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Cinemateca gmw guilherme marques

A Cinemateca Portuguesa criou um modelo de negócio para manter e rentabilizar o laboratório fílmico, “que está à beira da ruptura”, e vai analisar qual o melhor modelo de gestão do organismo, disse esta quarta-feira a direcção da instituição.

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A Cinemateca Portuguesa criou um modelo de negócio para manter e rentabilizar o laboratório fílmico, “que está à beira da ruptura”, e vai analisar qual o melhor modelo de gestão do organismo, disse esta quarta-feira a direcção da instituição.

A informação foi avançada esta quarta-feira pela direcção da Cinemateca aos deputados da comissão parlamentar de Cultura que fizeram uma visita oficial às instalações do organismo cultural, em Lisboa.

Segundo o director, José Manuel Costa, o Ministério da Cultura deu parecer favorável a uma proposta apresentada pela Cinemateca para “salvar o laboratório” de restauro fílmico, localizado no Arquivo Nacional de Imagens em Movimento (ANIM), em Bucelas, e que aguarda confirmação do Ministério das Finanças.

A Cinemateca espera que a salvaguarda do laboratório, o único na Península Ibérica, possa ser garantida nos próximos meses. É uma “salvação de último minuto do laboratório”, disse.

“É uma unidade muito especializada, pequena, muito específica, cuja manutenção é muito dificultada por causa da questão das regras de contratação. [O modelo de negócio proposto] é uma oportunidade imensa que vem da possibilidade de podermos fornecer serviços especializados para parceiros internacionais”, afirmou o director da Cinemateca à agência Lusa, no final da visita dos deputados.

José Manuel Costa explicou que objectivo é que o laboratório passe a ser uma entidade de direito privado gerida pela Cinemateca, para que possa vender mais serviços especializados a parceiros internacionais que já não têm aquela valência de restauro de película.

“Nós estamos inseridos, nacional e internacionalmente, numa área que só nós é que representamos. Esta conjugação da conservação e a difusão patrimonial do cinema implica toda uma série de valências muito específicas e também necessidades e oportunidades com o contexto actual”, sublinhou o director.

Aos deputados, José Manuel Costa e o subdirector, Rui Machado, revelaram ainda que vão criar um grupo de trabalho para “exaustivamente ver vários modelos de funcionamento da Cinemateca”, porque a tutela descartou a proposta apresentada em Maio de 2018, de transformação em fundação pública de direito privado.

“Neste momento não é previsível que, no horizonte de curto prazo, mesmo na nova legislatura, haja para já abertura para pensar numa fundação, mas há abertura para pensar noutras soluções orgânicas. Para nós é uma tarefa urgente o estudo detalhado dos vários cenários possíveis”, disse José Manuel Costa à Lusa.

Há muito tempo que a actual direcção tem alertado para a ineficácia do actual modelo de instituto público da Cinemateca, por “falta de flexibilidade administrativa” na gestão corrente, por “uma carga burocrática específica” e por constrangimentos legais, por exemplo, para a contratação de trabalhadores muito especializados.

Reconhecendo o “intensíssimo diálogo” e entendimento com a actual ministra da Cultura, Graça Fonseca, sobre o futuro da Cinemateca, José Manuel Costa e Rui Machado reconheceram que a solução para o organismo terá de ser pensada a longo prazo.

“Vamos equacionar todas as possibilidades e quais as vantagens e desvantagens relativamente à questão da burocracia, das aquisições. E há uma componente política associada. Nesta fase é importante a componente técnico-jurídica: O que é que se pode obter de cada um dos cenários possíveis”, disse Rui Machado à Lusa.

A visita da comissão parlamentar de Cultura aos espaços da Cinemateca contou com a participação de deputados do PS, PSD e PCP.

O actual director da Cinemateca Portuguesa, José Manuel Costa, e o subdirector, Rui Machado, foram reconduzidos em Março por mais cinco anos.

A decisão de recondução aconteceu numa altura em que a Cinemateca assinala 70 anos e a actual direcção reclama mais meios e melhores condições no trabalho de preservação e divulgação do património cinematográfico.

Em Janeiro deste ano, a ministra da Cultura admitiu no parlamento que estava empenhada em “dotar a Cinemateca Portuguesa das condições necessárias para o cumprimento da sua missão”.

“Queremos definir um novo modelo de funcionamento que agilize e autonomize o laboratório, um dos únicos no mundo, através de uma política responsável que potencie o conhecimento e experiência dos seus profissionais, se possa constituir como fonte de receita própria e, finalmente, saiba estar à altura do tanto que a Cinemateca tem para oferecer à memória do país”, disse.