Um gajo que não presta para nada é um javardo
A um diplomata exige-se muito mais em termos de emoções. Tem de saber aguentar. É essa a sua arte, o seu ofício. Ouve a pior das notícias como se nada fosse. Sabe ouvir e sabe dizer.
No dicionário de sinónimos da Porto Editora encontram-se para a palavra javardo os seguintes significados – abrutalhado, asqueroso, asselvajado, besuntão, imundo, grosseiro.
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No dicionário de sinónimos da Porto Editora encontram-se para a palavra javardo os seguintes significados – abrutalhado, asqueroso, asselvajado, besuntão, imundo, grosseiro.
Estes sinónimos já dão uma ideia de onde chafurdam os javardos. Aceitar-se-á que uma linguagem abrutalhada será própria de certos animais omnívoros que fossam onde outros não se metem.
Um javardo não prima pela elegância nem pelo culto de dizer as coisas dentro de um espírito diplomático.
Um fulano que preze a arte e o ofício da elegância diplomática tem aversão a uma linguagem grosseira.
Ensina-nos a vida que os diplomatas têm um jeito único que mais ninguém tem quer para ouvir, quer para dizer.
Há uma escola que os ensina a serem capazes de fintarem os tímpanos e onde alguém ferveria, eles fazendo jus ao seu estatuto de passar a vida a ouvir, encaixam. É a “souplesse” que possuem os diplomatas.
Há muita gente que gostaria de ter essa couraça de diplomata. Um caso evidente é o de Sérgio Conceição.
O treinador do Porto não frequentou altas escolas, nem o Palácio das Necessidades, nem os salões da diplomacia portuguesa.
Quando fala, tem em vista a defesa da sua equipa e ser campeão, o que não é nenhuma javardice, antes o supremo desejo de qualquer treinador.
Sérgio não utiliza a linguagem prendada, oriunda das escolas em moda da Tia Bobone. É um tudo nada explosiva. Quem o vê a falar em certas circunstâncias parece que tem, dentro dele, uma panela a ferver e que tem de expulsar o que está no peito para não rebentar.
Quando os estados de alma atingem certo grau de fervura é o que se sabe. Diz-se o que não se quer.
Sérgio Conceição dá sinais de ferver em pouca água, tendo em conta que estar à frente do Porto significa sujeitar-se a uma pressão altíssima, sobretudo por ser o clube da cidade Invicta que desde o 25 de abril mais conquistas tem alcançado.
Mas não se pode perder de vista que ele foi contratado para ser campeão e não para utilizar o verbo com todo o rigor.
Em Sérgio Conceição, a linguagem corporal bate certo com a verbal, seja nos momentos de grande sofrimento ou nas explosões de alegria. Quem pode esquecer a corrida de Mourinho no Teatro dos Sonhos ao longo da linha lateral para festejar o golo de Costinha e que levaria o Porto a ser campeão europeu? Tudo menos um exemplo de bem falar... e de comportamento diplomático.
A um diplomata exige-se muito mais em termos de emoções. Tem de saber aguentar. É essa a sua arte, o seu ofício. Ouve a pior das notícias como se nada fosse. Sabe ouvir e sabe dizer.
A todas as luzes, a linguagem de Sérgio não é a de um diplomata. Diz o que se diz no futebolês. Há os que falam espanholês como se falassem o mais puro castelhano; há os que atropelam com um camião TIR a gramática; e até houve um poeta, o rei de Paris em tempos atrás, de seu nome Artur Jorge, também um campeão europeu pelo Porto.
O que nunca se tinha visto era um diplomata primar em termos de futebol pela imundície. Na semana passada, um diplomata de reconhecido mérito e de elevada craveira intelectual deixou que a sua caldeira fervesse sem controlo despejando numa rede social a sua raiva.
Um eurodeputado tinha classificado S. Conceição como um gajo que não presta para nada. O nosso diplomata não quis deixar também ele de atropelar o treinador do Porto. Ficou registada a javardice. E a prova que mesmo um diplomata pode usar a linguagem própria do que o dicionário da Porto Editora designa como asselvajada, imunda e besuntona.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico