Um “laboratório ambulante” para eliminar todo o Plástico à Vista

Uma mini-estação itinerante de transformação de resíduos plásticos vai viajar pela zona costeira da margem Sul do Tejo. O objectivo do Plástico à Vista é sensibilizar e partilhar soluções para os problemas do lixo marinho.

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Plástico à Vista

Mesas, cadeiras, equipamentos audiovisuais e máquinas de tratamento de plástico: às costas de uma carrinha, estas ferramentas de sensibilização para os problemas do plástico e do lixo marinho fazem-se à estrada a 4 de Abril. Chama-se PAVan e é apenas uma das várias acções que o projecto Plástico à Vista (PAV) tem desenvolvido no concelho de Almada.

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Mesas, cadeiras, equipamentos audiovisuais e máquinas de tratamento de plástico: às costas de uma carrinha, estas ferramentas de sensibilização para os problemas do plástico e do lixo marinho fazem-se à estrada a 4 de Abril. Chama-se PAVan e é apenas uma das várias acções que o projecto Plástico à Vista (PAV) tem desenvolvido no concelho de Almada.

“É basicamente um projecto de sensibilização ambiental para o problema do plástico enquanto lixo marinho”, diz Dolores Papa, a gestora de projectos da Ensaios e Diálogos Associação (EDA) e uma das fundadoras do PAV. “Tentamos fazer uma coisa objectiva e simples. Não vamos inventar a roda, vamos tentar trabalhar com um tema que seja possível. E vamos trabalhar com proximidade, olho no olho com a comunidade.”

O Plástico à Vista arrancou em 2018, inserido noutro projecto — o No Planet B!. O concurso da Assistência Médica Internacional (AMI) financia projectos que promovam acções enquadradas nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável. “Eu e uma parceira começamos a tentar identificar problemas comuns a todos os territórios nos quais costumamos trabalhar”, revela Dolores ao P3. “E foi aí que demos conta do problema do lixo. E por ser uma zona costeira, onde todas as pessoas dependem ou do mar ou do rio, nós pensamos em trabalhar a questão do lixo marinho.” Fundado pelas mãos da EDA, o projecto Plástico à Vista foi seleccionado pelo No Planet B!, o que lhe garantiu o financiamento por parte da União Europeia e do Instituto Camões.

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A PAVan, aqui ainda em construção, vai viajar pela Trafaria e pela Costa da Caparica já a partir de 4 de Abril. Plástico à Vista

A mais recente ferramenta de acção da Plástico à Vista começou a ser planeada em Novembro de 2018. Após desenhos, workshops de construção e várias modificações, a Plástico à Vista Van (PAVan) vai fazer-se à estrada a 4 de Abril, percorrendo as freguesias da Trafaria e da Costa da Caparica. Na sua criação estiveram envolvidos arquitectos, produtores culturais, engenheiros, cenógrafos, carpinteiros, estudantes, “vários voluntários da comunidade e estrangeiros, para criar uma estação itinerante, quase como um laboratório ambulante, para levar o tema da sensibilização ambiental a todo o canto.”

A PAVan é constituída pela carrinha para transporte, a estrutura onde serão as actividades, “um conjunto de 25 cadeiras e mesas desmontáveis e desdobráveis que podem ser montadas em qualquer lugar aonde a carrinha chegue”, equipamentos audiovisuais e máquinas de tratamento de plástico que foram construídas numa parceria com o FabLab Benfica e a Escola Superior de Educação de Lisboa.

“A ideia não era criar um projecto fixo num único lugar ou numa única instituição, mas sim criar um projecto que tivesse a capacidade de se iniciar num lugar e, a partir da experiência desse projecto-piloto, circular por todos os cantos, para poder gerar o maior impacto”, refere a produtora sociocultural de 41 anos. A agenda para 2019 já está preenchida com viagens pela margem Sul do Tejo e Dolores espera que 2020 abra as portas para irem mais longe. O modelo da PAVan será eventualmente publicado numa plataforma online para que qualquer um possa seguir o exemplo da Plástico à Vista.

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Os kits lúdico-pedagógicos ajudam a sensibilizar os mais jovens. Plástico à Vista

Mas a mini-estação itinerante de tratamento do plástico não é a única ferramenta na qual a Plástico à Vista se apoiou para o projecto. “A PAVan é, obviamente, um grande momento”, admite a fundadora do projecto. “Mas já passámos por várias outras acções porque acreditamos que essa mudança de comportamento só acontece se as pessoas forem, aos poucos, tomando consciência do grande problema que é o plástico, hoje em dia, no nosso planeta. Não é a PAVan que, de um dia para o outro, muda tudo.” Kits lúdico-pedagógicos com “12 objectos, jogos e brincadeiras” são entregues nas escolas para sensibilizar o público mais jovem e “trabalhar a questão do consumo consciente do plástico, bem como os objectivos do desenvolvimento sustentável da Agenda 2030”.

Para Dolores, o sucesso do projecto não seria o mesmo sem os seus principais contribuidores: as pessoas. “Não foi um projecto distante, não contratámos uma empresa, não comprámos as máquinas prontas e não fizemos nada fechado numa sala com quatro paredes. Todo o processo foi desenvolvido em parceria com outras instituições e com os próprios beneficiários, trabalhando sempre com as pessoas.” Dolores acrescenta que o projecto não seria possível sem a extensa rede de colaboradores, “voluntários dos 18 aos 73 anos”, desde estudantes vindos do Chile a ex-moradores da Costa da Caparica, passando por professores das escolas que recebem as actividades, representantes das associações de pais, membros da autarquia local e até a Dona Libânia, “a senhora do centro de dia que costurou todas as bolsinhas que vão fazer parte do kit”.

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A Dona Libânia, de 94 anos, não se recusou a ajudar e costurou as bolsas dos kits. Plástico à Vista

A principal inspiração para o Plástico à Vista — e aquela que é também responsável pelas máquinas da PAVan — foi o projecto Precious Plastic. Criado pelo holandês David Hakkens, o projecto disponibilizou em open source os modelos das máquinas de tratamento do plástico para que qualquer um as possa reproduzir e fazer a diferença. Em Portugal, o mapa da Precious Plastic Community revela um grande número de interessados em “mudar o mundo”, mas o número de máquinas continua diminuto, destacando-se as oficinas de Santarém e do Porto, que têm combatido o uso do plástico.