Bolsonaro, o presidente eleito que celebra a ditadura
Três meses depois de ter tomado posse, o novo Presidente confirma-se como um perigo. Haja quem o ponha na ordem.
Primeiro, o Presidente do Brasil quis “comemorar” o golpe militar de 1964 que instituiu no país uma feroz ditadura de duas décadas. Depois, já não estava em causa “comemorar” mas apenas “rememorar”. Retirando a possibilidade de haver no recuo uma réstia de vergonha, entre um e outro verbo permanece uma mesma atitude: Jair Bolsonaro tem simpatia por um regime que assassinou 450 opositores, que torturou entre 30 e 50 mil cidadãos que discordavam da supressão das liberdades civis ou recusavam a inexistência de um Estado de Direito, que obrigou ao exílio de centenas de brasileiros. Já sabíamos que tinha lamentado que a ditadura não tivesse matado mais 30 mil pessoas, e se alguns fossem inocentes “tudo bem”, já sabíamos que o torturador-mor Carlos Brilhante Ustra é um dos seus ídolos, mas Bolsonaro já não é o irrelevante deputado com propensão para a grosseria e a estupidez: é o Presidente do Brasil e isso faz toda a diferença.
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Primeiro, o Presidente do Brasil quis “comemorar” o golpe militar de 1964 que instituiu no país uma feroz ditadura de duas décadas. Depois, já não estava em causa “comemorar” mas apenas “rememorar”. Retirando a possibilidade de haver no recuo uma réstia de vergonha, entre um e outro verbo permanece uma mesma atitude: Jair Bolsonaro tem simpatia por um regime que assassinou 450 opositores, que torturou entre 30 e 50 mil cidadãos que discordavam da supressão das liberdades civis ou recusavam a inexistência de um Estado de Direito, que obrigou ao exílio de centenas de brasileiros. Já sabíamos que tinha lamentado que a ditadura não tivesse matado mais 30 mil pessoas, e se alguns fossem inocentes “tudo bem”, já sabíamos que o torturador-mor Carlos Brilhante Ustra é um dos seus ídolos, mas Bolsonaro já não é o irrelevante deputado com propensão para a grosseria e a estupidez: é o Presidente do Brasil e isso faz toda a diferença.
Debater uma ditadura e as suas consequências faz parte do exercício normal da memória das democracias. Mas convocar os quartéis para a rememorarem, ou comemorarem, é uma profissão de fé. Que afronta os valores da Constituição brasileira e agride os democratas – mesmo os que, em desespero de causa, votaram em Bolsonaro a pensar na necessidade de expurgar o Brasil da violência e da corrupção. O que este triste episódio confirma é por isso a existência de um programa político que insiste no extremismo ideológico da direita militar e aposta na teoria do confronto para se sustentar. Com o apoio popular em níveis muito baixos, com o cenário da ingovernabilidade a consolidar-se no Congresso, com o Governo dividido em hostes radicais no qual os generais se revelaram como os garantes do bom senso e da estabilidade, Bolsonaro precisa de agitar o espantalho da ditadura para esconder as suas dificuldades para governar em democracia.
Não se sabe onde este clima tenso, caótico e irresponsável criado por um Presidente capaz de rivalizar com o patético Jânio Quadros (que governou meses antes do golpe de 1964) vai levar o Brasil. A principal esperança está na sociedade, na ciência ou nas empresas brasileiras, que demonstraram nos últimos anos uma extraordinária capacidade de resistir à loucura que os políticos criaram no país. Entretanto, a guerra ideológica que Bolsonaro leva até à apologia da ditadura cria novas ameaças. Três meses depois de ter tomado posse, o novo Presidente confirma-se como um perigo. Haja quem o ponha na ordem.