Crianças, bicicletas, escola e liberdade
Aprender a andar de bicicleta é aprender liberdade. Precisamos de mais medidas destas no nosso ensino.
As crianças e jovens de agora serão os adultos deste século XXI, tão cheio de desafios identificados e por identificar. O futuro é incerto, mas decerto necessitará que sejam pessoas imaginativas, criativas, com espírito crítico, autónomas, empáticas, curiosas, com espírito de comunidade e de trabalho de grupo, participativas. Ou seja, pessoas livres.
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As crianças e jovens de agora serão os adultos deste século XXI, tão cheio de desafios identificados e por identificar. O futuro é incerto, mas decerto necessitará que sejam pessoas imaginativas, criativas, com espírito crítico, autónomas, empáticas, curiosas, com espírito de comunidade e de trabalho de grupo, participativas. Ou seja, pessoas livres.
A Escola tem aqui um papel determinante e deve ser capaz de dar todas as ferramentas para que os seus alunos cresçam. A mobilidade e a autonomia são duas ferramentas básicas e é por isso tão importante saber andar de bicicleta, a pé e de transportes públicos nas nossas cidades para conhecer os caminhos, cruzarmo-nos com estranhos e conhecidos, viver o espaço público, criar responsabilização e desembaraço.
Mas são precisas mais ferramentas. Maior empatia requer mais mundo, requer conhecer realidades que não são a nossa. Participação requer cultura democrática, conhecimento e experiência de como funcionam as instituições. Espírito crítico requer ouvir e discutir pontos de vista diversos. Criatividade requer tempo e cruzamento de conhecimentos e sensibilidades. É necessário que a Escola promova no seu ensino todos estes conceitos, através de mecanismos internos – como incorporar filosofia ou teatro nos seus currículos, por exemplo – mas sobretudo através de mecanismos de abertura. É preciso derrubar os muros escolares, garantir que a Escola não se fecha sobre si mesma e que toda a comunidade trabalha em conjunto no que é a Educação. E para isso é importante integrar nas políticas públicas as medidas no âmbito da escola e da vida escolar, garantindo que há recursos para as implementar.
A Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa (ENMA 2020-2030) foi apresentada esta semana e está agora em consulta pública até dia 28 de abril.
Uma das medidas mais emblemáticas e que tem sido mais noticiada é a inclusão do ciclismo no currículo escolar. Esta medida 7.1.2 da ENMA prevê que todos os alunos tenham oportunidade de aprender a pedalar, tanto em espaço delimitado como em espaço público, desde o 1.º ciclo ao secundário.
Em conjunto com outras medidas previstas na ENMA, como “a educação para a mobilidade ativa e sustentável, e para a cidadania rodoviária”, a promoção de “medidas de acalmia de tráfego, com implementação de “zonas 30” e “zonas 20”, que proporcionem a necessária segurança a peões e ciclistas”, “a formação, credenciação e atividade de patrulheiros civis de trânsito, tornando mais segura a circulação junto a escolas e outros equipamentos, facilitando o desenvolvimento de “pedibus” e “ciclobus”” e a avaliação do alargamento do seguro escolar para cobrir as deslocações de bicicleta para a escola, serão dadas ferramentas a todas as crianças e jovens de Portugal para que se possam deslocar em autonomia e segurança nos seus percursos.
Esta é uma medida maravilhosa e que já tardava há muito. É maravilhosa porque terá efeitos concretos na mobilidade e na vida das nossas cidades – a bicicleta fará parte da normalidade de todas as crianças e jovens. É maravilhosa porque terá consequências ambientais e ajudará a que a pegada ecológica da nossa mobilidade diminua. É maravilhosa porque promove comportamentos mais saudáveis e combate o sedentarismo, num país com uma das mais altas taxas de inatividade física e obesidade (nomeadamente infantil) da Europa.
Mas é sobretudo maravilhosa porque é uma medida de liberdade. E é uma medida de liberdade que parte do sítio certo: a Escola.
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico