O trap vive – e em Portugal também

Como género ou influência de outros géneros, o trap parece estar em quase toda a parte da produção pop actual. Em Portugal, nomes como Profjam, Sippinpurpp e Benji Price ajudam a pô-lo na agenda.

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Um momento do videoclip de Sauce, de Sippinpurpp DR

De subcategoria do hip-hop, o trap adquiriu, nos últimos anos, um espaço próprio, que também em Portugal já se popularizou.

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De subcategoria do hip-hop, o trap adquiriu, nos últimos anos, um espaço próprio, que também em Portugal já se popularizou.

Em 2018, a lista de canções mais ouvidas do serviço de streaming Spotify era encabeçada por God´s Plan, de Drake, SAD!, de XXXtentacion, e Rockstar, de Post Malone com 21 Savage, artistas com ligações a este género.

Para além de Drake, XXXtentacion e Post Malone, o top de músicas mais ouvidas no Spotify em Portugal durante 2018 contou com nomes como Blaya, Wet Bed Gang, MC Kekel, MC Rita, Juice WRLD, Lartiste, Bad Bunny e Ozuna. Recentemente, com o seu aguardado (e aclamado) disco de estreia, o lisboeta Profjam tornou-se um dos artistas portugueses mais ouvidos no Spotify e no concorrente Apple Music. Os 11 temas de #FFFFFF  - uma visão pessoalíssima do trap – conseguiram a proeza de marcar presença no top das principais plataformas de streaming.

“Basta ouvir como elementos de trap têm sido incorporados em todo o tipo de música pop na última década, da Rihanna à Beyoncé, ou do rap português ao k-pop da Coreia do Sul, para constatar a influência desta sonoridade à escala mundial”, diz Benji Price, rapper, produtor e membro da editora Think Music (criada por Profjam).

O subeditor do Rimas & Batidas, site especializado na cultura hip-hop, Alexandre Ribeiro acrescenta que, hoje em dia, “é raro encontrar músicas de hip-hop populares sem elementos de trap”.

Em Dezembro de 2018, o New York Times descrevia, sob o título “Como um novo tipo de estrela pop invadiu 2018”, a forma como estes novos artistas dominam o streaming “com origens em cenas diferentes” enquanto “performers, extremamente dotados em autoapresentação nas redes sociais” e que “trabalham com uma gramática comum, ambos cantam e fazem rap”.

“As redes sociais são absolutamente fulcrais” para estes músicos, diz Alexandre Ribeiro, explicando que, no trap, “o artista se liga directamente com o público” e as redes sociais substituem o papel intermediário das editoras e promotoras entre os músicos e público.

“As editoras portuguesas não conseguem apanhar 1% dos fenómenos mais ligados ao trap que já têm números assinaláveis nas redes sociais, Youtube e Spotify”, diz o editor da publicação dedicada ao hip-hop.

Portugal ainda “está a abraçar o trap”

Nascido na década de 2000, no sul Estados Unidos, em bairros sociais nas cidades de Houston, Texas, Atlanta e Georgia, o termo “trap” refere-se às casas onde se traficava droga e o estilo desenvolveu-se num ambiente de criminalidade.

Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, Portugal ainda “está a abraçar o trap”, diz Alexandre Ribeiro, explicando que na América o trap “é matéria pop há algum tempo”, e já originou subgéneros como o emo-trap e o latin-trap.

O subeditor da Rimas e Batidas explica que só em 2019 com o novo disco de Profjam, #FFFFFF, é que se assistiu pela primeira vez a “um artista com características trap ser domínio pop em Portugal”.

De acordo com Alexandre Ribeiro, “dum ponto de vista sociológico”, pode-se dizer que a “agressividade” sonora e temática do trap serve as necessidades dos adolescentes actuais ocupando o lugar do “punk e do rock há umas décadas”, “apesar de agora completamente inserido na esfera pop.”

No mesmo sentido vão as palavras de Ice Burz, produtor de artistas como Sippinpurpp e Mike El Nite, considera que a adolescência se caracteriza por uma fase de “violência, consumo [de substâncias lícitas ou ilícitas] e depressão” – temas dominantes no trap, o que explica a adesão.

No entanto, Benji Price lembra que, em termos temáticos, o trap “não há de ser diferente” de qualquer forma de arte, havendo no género musical uma grande variedade temática, desde tristeza, ao sexo e à violência, que “são temáticas universais”, o que faz com que seja “inevitável” a presença desses assuntos.

Benji Price não vê o trap como o “futuro” da música mainstream: é o seu presente, num panorama em que a “música dita urbana como o hip-hop e o r&b dominarão o mainstream por alguns anos”.