Miguel Serrano: o construtor de carros que rolam ao vento

Foi, durante muitos anos, um homem das tecnologias. Quando sentiu que era a hora de mudar, juntou a paixão pela vela à dos carros e lançou-se na produção do Windroller.

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Se todas as histórias começam com um “era uma vez”, esta obriga-nos a recuar algumas décadas e a viajar a outro continente. Miguel Serrano era pequeno mas lembra-se de ficar fascinado quando “via estrangeiros” a usarem carros à vela nas praias de Moçambique, a sua terra natal. Mais tarde, e já em Portugal, aventurou-se a construir um, juntamente com uns amigos da vela. Longe de imaginar que seria este o modo de vida que ia escolher no momento em que decidiu deixar o emprego que já não o motivava. Miguel Serrano, 56 anos, trocou a área das tecnologias pela produção de carros à vela. O nome que escolheu para a sua marca diz tudo: Windroller. “Porque, no fundo, é disso que se trata, rolar ao vento”, vinca.

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Se todas as histórias começam com um “era uma vez”, esta obriga-nos a recuar algumas décadas e a viajar a outro continente. Miguel Serrano era pequeno mas lembra-se de ficar fascinado quando “via estrangeiros” a usarem carros à vela nas praias de Moçambique, a sua terra natal. Mais tarde, e já em Portugal, aventurou-se a construir um, juntamente com uns amigos da vela. Longe de imaginar que seria este o modo de vida que ia escolher no momento em que decidiu deixar o emprego que já não o motivava. Miguel Serrano, 56 anos, trocou a área das tecnologias pela produção de carros à vela. O nome que escolheu para a sua marca diz tudo: Windroller. “Porque, no fundo, é disso que se trata, rolar ao vento”, vinca.

Engenheiro geólogo de formação, acabou por fazer carreira na PT Inovação (actual Altice Labs). “Estava dedicado à área do GPS, mas quando ela deixou de existir na empresa migrei para uma componente mais comercial”, recorda. Entrou num “território” com o qual não se identificava e decidiu que tinha de mudar. “Desliguei-me das áreas das tecnologias e quis voltar ao básico”, testemunha. Voltou-se para algo que sempre o apaixonou, a natureza – diz que aprendeu inglês por conta de andar a folhear, ainda criança, as revistas da National Geografic que o pai recebia.  Após dois anos a “fazer protótipos, ensaios, afinações”, em Setembro do ano passado lançou o seu primeiro modelo de carro à vela. Já está a trabalhar na evolução, mas por ora há ainda muito trabalho a fazer na divulgação do veículo junto do público português.

“Em Portugal, é uma actividade que ainda tem muito poucos praticantes. Estão espalhados aqui e acolá e não há actividades organizadas de âmbito nacional ou internacional”, traça, destacando, pela positiva, um grupo de Leiria (Carro à Vela Portugal). Lá fora a coisa parece ser levada bem mais a sério. “Todos os países da Europa do Norte praticam imenso esta actividade, desde há dezenas de anos”, afiança. Prova disso é o facto de existir “uma federação internacional e federações nacionais em vários países”, sustenta.

Miguel Serrano, actualmente a viver em Aveiro, quer dar uma ajuda na divulgação da actividade simultaneamente desportiva e lúdica. “O carro tanto pode ser usado numa perspectiva mais desportiva, como de lazer e descontracção”, argumenta. “E para quem gosta de estar ao ar livre, é muito interessante”, acrescenta, a propósito da actividade que segue os mesmos princípios da vela, desporto ao qual Miguel Serrano está, há muitos anos, ligado. E se a isto juntarmos a sua paixão pelos carros, então, é como somar um mais um.

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Fotografia da esposa (Manuela) e do filho (Pedro) no jipe, simboliza o que mais preza: a família e o velho e fiel companheiro de quatro rodas

A atracção pelas máquinas simples

Miguel Serrano gosta particularmente de automóveis antigos. Ainda hoje mantém o seu primeiro carro, um Land Rover de 1957. “Foi um carro que eu comprei quando estava na universidade, tive de pedir dinheiro para o comprar e depois não tinha dinheiro para o combustível”, recorda. Quando foi desafiado a escolher três objectos de eleição, a prioridade recaiu numa fotografia da esposa e do filho no jipe. Porque simboliza o que mais preza: a família e o seu “fiel companheiro de quatro rodas”.

Gosta de “máquinas simples e directas”, dessas que “duram sempre”, diz, para justificar a sua queda pelos carros antigos. Em 1994 aderiu ao Clube Aveirense de Automóveis Antigos (CAAA), do qual é, actualmente, presidente. Miguel Serrano faz eco daquele que é um dos principais objectivos do CAAA, promover a preservação do património – confessa-se um aficionado do coleccionismo em geral –, destacando o trabalho que a colectividade tem vindo a desenvolver com a promoção da Automobilia. É tida como a mais antiga feira de Portugal dedicada ao coleccionismo da temática dos transportes rodoviários e não pára de atrair cada vez mais visitantes – acontece em Maio.

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Adriano Miranda

Muito embora a Windroller esteja ainda a dar os primeiros passos, Miguel Serrano acredita que os seus carros à vela têm condições para conquistar um espaço no mercado. Sem ambicionar estender-se à “produção de modelos de classes de topo”, diz estar mais focado no modelo actual e na sua evolução. “O carro que eu fabrico pertence à classe minikart, que é uma classe mais simples”, introduz .“Depois há classes mais sofisticadas e que implicam também custos maiores na sua prática; este que produzo desmancha-se todo e mete-se na mala de um carro e há alguns que já não são assim”, compara. E quanto custam? A partir de 1850 euros, dependendo das configurações.

Miguel Serrano garante que a condução do veículo não exige que se seja um expert na arte de velejar, podendo o carro ser usado por pessoas de várias idades, “dos mais pequenos aos mais velhos”. “No estrangeiro, há praticantes já de alguma idade, uma vez que este é um desporto seguro, o esforço está associado ao vento”, nota, explicando: “Se está mais vento faz-se mais força, se está menos é relaxante”. O criador da marca Windroller dá também o exemplo da prática por parte dos mais novos, especificando que, “em França, há escolas que usam o carro à vela como prática desportiva”.