CP reduz oferta do comboio histórico do Douro

Depois de anunciar o fim do comboio Miradouro, empresa reduz para metade as viagens da composição a vapor que no Verão circula entre a Régua e o Tua. Este ano só haverá comboio histórico aos sábados.

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O comboio a vapor que é uma atracção turística do Douro Vinhateiro (região classificada pelo UNESCO como Património Mundial) e tem circulado durante o Verão aos fins-de-semana e feriados, só vai este ano ser efectuado aos sábados. A CP não explicou ao PÚBLICO as razões desta decisão. Esta medida coincide com a extinção de uma outra oferta turística - o comboio Miradouro - que tinha sido criado há dois anos e que a empresa decidiu não manter este ano, retirando-o de serviço.

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O comboio a vapor que é uma atracção turística do Douro Vinhateiro (região classificada pelo UNESCO como Património Mundial) e tem circulado durante o Verão aos fins-de-semana e feriados, só vai este ano ser efectuado aos sábados. A CP não explicou ao PÚBLICO as razões desta decisão. Esta medida coincide com a extinção de uma outra oferta turística - o comboio Miradouro - que tinha sido criado há dois anos e que a empresa decidiu não manter este ano, retirando-o de serviço.

O comboio a vapor foi lançado em 1998 e tem sido um ex libris do turismo do Douro. É composto por uma locomotiva a vapor de 1925 e cinco carruagens de madeira (três datam dos anos 30 e duas dos finais do séc. XIX). Circula, ou melhor, tem circulado, entre a Régua e o Tua, aos fins-de-semana, num troço particularmente bonito, com a linha a bordear o rio.

Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte, que já esta sexta-feira se tinha insurgido contra o fim do comboio Miradouro, não escondeu ao PÚBLICO a sua surpresa. “Não conheço as razões que levaram a estas decisões de reduzir a oferta ferroviária turística, mas é estranho que sejam tomadas numa altura em que se inicia a época alta, o que contraria qualquer lógica de mercado”, disse, acrescentando que vai solicitar “com toda a urgência” uma reunião com o presidente da CP “pois são duas notícias seguidas graves para a região e completamente em contra-ciclo com o crescimento do turismo”.

A região Norte recebe anualmente 4,3 milhões de turistas e o responsável pelo sector do turismo diz que 75% concentra-se na área metropolitana do Porto, sendo desejável a oferta de produtos turísticos também no interior. O comboio, diz, é o meio ideal para estes se deslocarem, sendo o turismo ferroviário um complemento importante para atrair mais gente ao Douro.

 A própria entidade do Turismo do Porto e Norte de Portugal emitiu esta sexta-feira um comunicado onde manifesta a sua “total discordância com a posição da CP e faz um apelo para que a decisão seja revertida”. O documento diz que “quando tanto se fala na necessidade de dinamizar o interior do país, uma decisão destas, tomada por uma empresa de serviço público, parece-nos desalinhada com a vontade demonstrada pelas entidades governamentais de apostar numa política de desenvolvimento das regiões do interior”.

Também o presidente da Régua, José Manuel Gonçalves, se manifestou contra esta decisão, que considera lesiva dos interesses do Douro. E, somando o fim do Miradouro à redução do comboio histórico, conclui que “está na hora de haver uma verdadeira regionalização em que as regiões trabalhem por si mesmo”.

Sucesso ou prejuízo?

A CP não diz por que motivo este ano o comboio histórico só vai realizar 22 viagens quando costuma realizar o dobro. A empresa sempre o apresentou como um produto icónico, publicitado nos vídeos promocionais do Alfa Pendular e como verdadeira imagem de marca do turismo ferroviário e da região do Douro.

Entre 2008 e 2011, e segundo dados da CP fornecido ao PÚBLICO em Maio de 2013, o comboio histórico tinha acumulado prejuízos de 370 mil euros e a empresa ponderou mesmo acabar com o serviço, sobretudo devido aos elevados custos da locomotiva a carvão.

A solução passou por transformar a caldeira da máquina a vapor, que passou a ser alimentada a diesel em vez de carvão. O combustível mudou, mas o efeito visual é o mesmo porque continua a ser o vapor de água a empurrar as bielas da locomotiva e a provocar o esfumaçar característico deste tipo de comboios.

Enquanto a caldeira esteve a ser adaptada, o comboio histórico do Douro fez-se com uma locomotiva a diesel, mais barata do que a tracção a vapor. Em Maio de 2015 a CP dizia ao PÚBLICO que “em 2014 viajaram mais de 3400 clientes numa taxa média de ocupação por comboio na ordem dos 74%”. Nesse ano, o comboio dava lucro pela primeira vez: receitas de 118.300 euros para custos de 100.500 euros.

A CP não divulgou os resultados dos últimos anos. Inquéritos realizados pela empresa mostram que a maioria dos clientes deste serviço são oriundos das regiões de Lisboa e Porto, havendo também muitos estrangeiros, com destaque para ingleses, espanhóis e franceses, muitos dos quais integrados em circuitos turísticos no Douro.

Quanto ao Miradouro, a CP diz que “mesmo considerando um cenário de lotação completa, este comboio gera prejuízo”. Mas há precisamente um ano, em Março de 2018, fonte oficial da empresa dizia ao PÚBLICO que “na sequência do sucesso obtido pelos comboios turísticos “Miradouro” e “Vouguinha”, a CP procurará assegurá-los igualmente no próximo verão [2018], nomeadamente o primeiro”.