Famílias de imigrantes detidas “de forma desumana” no Texas

Instalações da agência de imigração norte-americana estão sobrelotadas. Foram construídas para receber menos pessoas, e desenhadas para adultos, mas agora há mais crianças a passar a fronteira.

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Centenas de imigrantes estão detidos num pequeno recinto improvisado ao ar livre em El Paso, no estado norte-americano do Texas, na fronteira com o México. A agência de imigração dos EUA diz que as instalações da cidade estão sobrelotadas.

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Centenas de imigrantes estão detidos num pequeno recinto improvisado ao ar livre em El Paso, no estado norte-americano do Texas, na fronteira com o México. A agência de imigração dos EUA diz que as instalações da cidade estão sobrelotadas.

No recinto estão pessoas que passaram a fronteira em família, e sem documentos, na área metropolitana de El Paso, uma cidade que fica praticamente colada a Ciudad Juárez, no lado mexicano. A maioria vem de países mais a Sul, como a Guatemala, as Honduras ou El Salvador.

Ninguém sabe quanto tempo ficarão lá, enquanto aguardam que as autoridades tratem dos seus processos, disse à agência Reuters o agente Ramiro Cordero – quando chegam a território norte-americano, os imigrantes entram no sistema da Agência de Segurança na Fronteira para serem abertos processos de deportação ou permanência.

“Pode ser um par de horas, pode ser mais do que isso, pode ser uma noite, não sei dizer. Não é possível dizer, com tanta gente que está aqui”, disse Cordero.

O agente disse que, por esta altura, uma média de 570 pessoas passam a fronteira a cada dia entre Ciudad Juárez e El Paso. Segundo a agência, este é o número mais elevado da última década.

Segundo as estatística oficiais, o número de imigrantes que passam a fronteira sozinhos é muito inferior ao que acontecia no início dos anos 2000, mas nos últimos anos registou-se um aumento do número de famílias – ainda assim, o número total tem vindo a descer todos os anos.

Em 2018 entraram pela fronteira entre o México e os EUA 521.000 pessoas sem documentos, um aumento em relação a 2017 (415.000), mas menos do que em 2016 (553.000).

Qualquer um dos números nos últimos cinco anos é muito inferior aos registados nas décadas de 1980, 1990 e primeira década de 2000, quando a cada ano eram detidas mais de um milhão de pessoas na fronteira entre o México e os EUA.

Em El Paso, os imigrantes são enviados para a cerca de metal com cobertores e, segundo os agentes norte-americanos, podem ter acesso a água, comida e avaliação médica.

Um fotojornalista da agência Reuters viu crianças a dormir ao relento no interior da cerca, por baixo da Ponte Internacional Paso del Norte, que liga o México aos EUA. Na noite de domingo, a temperatura na área era de 8 graus Celsius.

“Isto é uma forma desumana e indesculpável de tratar pessoas”, disse Taylor Levy, coordenadora no centro de imigração Annunciation House, em El Paso.

Levy disse à Reuters que viu crianças a dormir em cima de terra e gravilha, e que as pessoas ficam detidas na cerca entre um e quatro dias.

Numa conferência de imprensa em El Paso, o comissário da agência de imigração, Kevin McAleenan, disse que há planos para a construção de edifícios temporários, até que seja construído o complexo definitivo, que vai custar 192 milhões de dólares.

Mais de mil imigrantes foram detidos no sector de El Paso na segunda-feira, elevando o número de pessoas à guarda da agência de imigração naquela área para quase 3500 na quarta-feira. Os imigrantes estão detidos em instalações antigas, que foram criadas para albergar menos pessoas e desenhadas para receber adultos.

Mas agora há mais famílias e crianças detidas na fronteira entre o México e os EUA. Em Março, ao longo de toda a fronteira, entre a Califórnia e o Texas, foram detidas 55.000 famílias.

Os abrigos em El Paso, geridos por grupos de acolhimento, estão a receber todos os dias 700 pessoas que passam pelas autoridades de imigração, em comparação com o anterior recorde de 2000 pessoas por semana em finais de 2018, disse Dylan Corbett, do Instituto Hope Border.

“Não é sustentável e não podemos aguentar muito mais tempo”, disse Corbett.