A caça à cabra-brava, espécie até há bem pouco tempo extinta em Portugal, pode voltar ao Gerês
Em causa está um evento marcado para os dias 13 e 14 de Abril que, segundo o FAPAS, promove a caça de uma espécie que já esteve extinta em Portugal, mas que entretanto voltou a viver no Parque Nacional da Peneda-Gerês.
O Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS) pediu esta sexta-feira à Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez que não autorize a realização das Jornadas Internacionais — Sustentabilidade Económica dos Espaços Ordenados e Protegidos, marcadas para os dias 13 e 14 de Abril, por considerar que promovem a caça de uma espécie que já esteve extinta em Portugal.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS) pediu esta sexta-feira à Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez que não autorize a realização das Jornadas Internacionais — Sustentabilidade Económica dos Espaços Ordenados e Protegidos, marcadas para os dias 13 e 14 de Abril, por considerar que promovem a caça de uma espécie que já esteve extinta em Portugal.
Em causa está a preservação da cabra-brava do Gerês que a associação diz ter sido dada como extinta em 1892 devido ao excesso de caça e que regressou a Portugal em 1998.
Segundo o FAPAS, a iniciativa é promovida pelo Clube Português de Monteiros e o Safari Clube Internacional — Lusitânia Chapter, com o apoio do município de Arcos de Valdevez, do Ministério da Agricultura, Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), do Turismo do Norte e com a anunciada presença do ministro do Ambiente e do secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural.
Numa página de anúncio ao evento, pode ler-se que as jornadas têm como objectivo “analisar as alternativas à disposição dos responsáveis autárquicos para o reforço das bases económicas locais e regionais, particularmente as que estão associadas à gestão cientificamente sustentada da Paisagem e dos Ecossistemas, e também confirmar que os objectivos estratégicos da Conservação da Natureza e dos Habitats têm instrumentalmente a Caça como uma ferramenta de gestão essencial”.
“O FAPAS apela à Câmara Municipal de Arcos de Valdevez para que anule este evento e ao ministro do Ambiente e ao secretário de Estado das Florestas para que nele não participem”, lê-se num comunicado da associação a que o PÚBLICO teve acesso.
O vice-presidente do FAPAS, Miguel Dantas da Gama, explica ao PÚBLICO que esta espécie teve um percurso difícil em Portugal. “Depois de ser extinta em Portugal, passou só a existir em Espanha. Lógico que o lobby da caça nunca quis devolver as cabras a Portugal para manter essa exclusividade”, explica o ambientalista.
Existem hoje algumas centenas de cabras-bravas a viver no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Para o FAPAS, o receio é que a caça a este animal se torne num interesse económico para entidades exteriores ao Parque.
“Tudo isto começou a aguçar o apetite da caça, e a presença destas cabras em Portugal é uma novidade. Achamos que é uma afronta e um insulto ao próprio Parque Nacional da Peneda-Gerês, uma área que é a única deste tipo em Portugal. Depois deste esforço todo, voltar a haver pressão para caçar este animal é injusto”, afirma Miguel Dantas da Gama.
Outro dos factores de risco que o ambientalista destaca é o facto de a caça a este animal poder levar a um desequilíbrio ecológico, uma vez que as cabras são alimento para outras espécies. “Perdemos estas espécies por falta de alimento, como é o caso da águia-real, ou elas viram-se para o gado doméstico. O lobo, por exemplo, mata as vacas e os cavalos das populações”.
Em comunicado, a associação afirma também que “a vocação de um qualquer Parque Nacional é a conservação do património natural e cultural e o recreio de contacto com a Natureza”.
Para Miguel Dantas da Gama, outro problema no início da caça a esta espécie está no facto de os animais não estarem habituados a ser perseguidos. “Neste momento eles andam muito descontraídos, deixam que as pessoas se aproximem, e se se começar a abrir a caça vai ser uma mortandade”, garante o ambientalista.
À agência Lusa, o presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, João Manuel Esteves, referiu que o município “apenas apoia o evento” e adiantou que o pedido para a sua anulação “deve ser dirigido à organização”.
No entanto, João Manuel Esteves referiu que o tema das jornadas “é, e sempre foi, do interesse” do concelho de Arcos de Valdevez, integrado no Parque Nacional da Peneda-Gerês “assim como deve ser um tema de interesse para todos”, adiantando que “a caça, desde que devidamente enquadrada na lei e na preservação da natureza é uma actividade, tal como é reconhecido por todos, de grande relevância económica”.
Também o FAPAS tem agendadas as XX Jornadas sobre Conservação da Natureza e Educação Ambiental para 27 e 28 de Abril, em Arcos de Valdevez, mas a associação garante que “perante o anúncio destas jornadas de propaganda da caça, teremos de repensar o programa do nosso evento e usá-lo para um adequado esclarecimento sobre a caça no Parque Nacional”.