IPMA admite que é cada vez mais difícil prever risco de incêndio
“Estamos em território não explorado, nunca passámos por isto”, afirma o presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera à TSF. Há zonas do país onde têm deflagrado incêndios que nem sequer estavam assinaladas como tendo risco elevado.
É cada vez mais difícil prever com exactidão o risco de incêndio no país, reconhece o presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Miguel Miranda, apontando o dedo às alterações climáticas. “Não estamos perfeitamente capazes de antever estes impactos”, admite numa entrevista à TSF divulgada nesta quarta-feira, adiantando ainda que todo o cuidado é pouco quando o país está há meses sem chuva significativa.
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É cada vez mais difícil prever com exactidão o risco de incêndio no país, reconhece o presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Miguel Miranda, apontando o dedo às alterações climáticas. “Não estamos perfeitamente capazes de antever estes impactos”, admite numa entrevista à TSF divulgada nesta quarta-feira, adiantando ainda que todo o cuidado é pouco quando o país está há meses sem chuva significativa.
Ainda que as cartas de risco de incêndio feitas para o mês de Março (feitas em conjunto com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas – ICNF) identifiquem já algumas situações de risco elevado ou muito elevado, a situação não é particularmente dramática. “[Mas] estamos a ter focos de incêndios significativos em zonas onde à partida nem sequer estamos a admitir que o risco é muito grande, tendo em conta o passado”, diz Miranda à TSF.
“Estamos em território não explorado, nunca passámos por isto, e somos um bocadinho como as crianças: temos de passar por aquilo que já vivemos uma vez para sermos capazes de o reconhecer”, vinca o presidente do IPMA. É uma “situação de mudança”, que exige adaptação, assevera, lembrando que há variáveis na equação que antes não eram um problema, como a persistência de falta de chuva no Inverno e os seus efeitos na agricultura.
O risco de incêndio determinado pelo IPMA tem cinco níveis, que vão de “reduzido” a “máximo”, sendo o “elevado” o terceiro nível mais grave. Os cálculos para este risco são obtidos a partir da temperatura do ar, humidade relativa, velocidade do vento e quantidade de precipitação nas últimas 24 horas.
Reagindo aos incêndios dos últimos dias (o calor de Março provocou 135 incêndios que mobilizaram mais de 1600 bombeiros, grande parte deles no maior incêndio registado, no concelho de Oliveira de Azeméis), Miguel Miranda diz que estes fogos são “preocupantes”. “E estão a chamar à atenção para termos de mudar a forma de avaliar, de trabalhar, e voltando à ideia de que todo o cuidado é pouco”, conclui.
Risco vai manter-se elevado nos próximos dias
O risco de incêndio vai manter-se elevado genericamente em todo o território do continente nos próximos dias, sendo esta quarta-feira máximo em quatro concelhos do distrito de Faro, disse à Lusa a meteorologista Maria João Frada.
“O risco de incêndio está elevado em todo o território porque os ventos são secos. Está tudo muito seco. Os solos estão secos e não tem chovido. Além disso, o vento é de leste soprando com alguma intensidade sobretudo nas terras altas onde sopra moderado a forte”, indicou a meteorologista do IPMA.
Segundo Maria João Frada, esta situação tem-se agravado devido à humidade baixa e às temperaturas máximas elevadas atípicas para esta altura do ano.
O IPMA colocou em risco máximo de incêndio nesta quarta-feira os concelhos de Loulé, São Brás de Alportel, Tavira e Alcoutim, no distrito de Faro. Em risco muito elevado, segundo o IPMA, estão os concelhos de Castro Marim, Silves, Portimão, Silves, Lagos e Aljezur, em Faro, Gavião, em Portalegre, e Vinhais, em Bragança.
O IPMA colocou ainda em risco elevado de incêndio 43 concelhos de Faro, Évora, Beja, Santarém, Portalegre, Castelo Branco, Coimbra, Viana do Castelo, Viseu e Bragança.
Situação de Alerta até domingo
Na terça-feira, o Governo assinou um despacho que determina a declaração de Situação de Alerta até domingo, com base nas previsões meteorológicas, que apontam para um “significativo agravamento do risco de incêndio florestal”.
“Face às previsões meteorológicas para os próximos dias que apontam para um significativo agravamento do risco de incêndio florestal no território do Continente e considerando a decisão da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, que determinou a passagem do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais ao Estado de Alerta Especial Amarelo em todos os distritos, os Ministros da Administração Interna e da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural assinaram hoje o Despacho que determina a Declaração da Situação de Alerta”, lê-se no comunicado do Governo.
A declaração da Situação de Alerta, prevista na Lei de Bases de Protecção Civil, vai obrigar à adopção de medidas “de carácter excepcional”, como a “elevação do grau de prontidão e resposta operacional da GNR e PSP”, reforçando “meios para operações de vigilância, fiscalização, patrulhamentos dissuasores de comportamentos de risco e de apoio geral às operações de protecção e socorro que possam vir a ser desencadeadas"; proibição de queimadas e queimas; e a dispensa de trabalhadores, quer do sector público, como do privado, que desempenhem funções de bombeiro voluntário.