A guerra comercial entre os EUA e a China pode vir a destruir 13 milhões de hectares da Amazónia
A floresta amazónica pode vir a sair prejudicada na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. Em causa está a produção da soja necessária para abastecer o mercado chinês.
A floresta da Amazónia pode vir a ser a maior vítima da guerra comercial entre os Estados Unidos da América e a China e tudo devido à exportação de soja. Pelo menos 13 milhões de hectares da floresta tropical — uma área equivalente ao tamanho da Grécia — teriam de ser “desocupados” para que o Brasil e outros exportadores preenchessem o défice de oferta de soja à China.
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A floresta da Amazónia pode vir a ser a maior vítima da guerra comercial entre os Estados Unidos da América e a China e tudo devido à exportação de soja. Pelo menos 13 milhões de hectares da floresta tropical — uma área equivalente ao tamanho da Grécia — teriam de ser “desocupados” para que o Brasil e outros exportadores preenchessem o défice de oferta de soja à China.
O problema surgiu quando os EUA e a China se envolveram, há um ano, numa guerra comercial. Donald Trump subiu as tarifas sobre o aço e alumínio oriundos da China e criou taxas sobre alguns produtos tecnológicos chineses. Por sua vez, a China subiu as tarifas de importação de carne de porco, fruta e outros produtos dos Estados Unidos. O Ministério das Finanças de Pequim também anunciou que iria “suspender as concessões relativas a tarifas de importação” em mais de 120 bens provenientes dos EUA.
Mais de 57% da soja exportada pelos Estados Unidos tem como destino a China, uma transacção que equivale a cerca de dez mil milhões de dólares. Isto, combinado com o facto de Pequim já ter acusado Washington de subsidiar o seu sector agrícola, torna este produto num dos alvos mais óbvios nesta batalha.
Agora, num artigo publicado esta quarta-feira na revista científica Nature, um grupo de investigadores chama a atenção para o facto de as pressões de desflorestação terem aumentado como resultado do choque comercial nos mercados globais de soja.
Além de levantarem o problema dos bens alimentares estarem a ser usados como uma arma económica, os autores do estudo realçam também a consequência ecológica que este conflito pode ter em zonas que já são altamente exploradas, particularmente na Amazónia.
Para compensar a lacuna que as exportações dos Estados Unidos iriam deixar, a China precisaria de ir buscar entre 22,6 e 37,6 milhões de toneladas de soja a outros países, nota o artigo. Os chineses poderiam alargar a procura de soja aos 94 países mundiais que a produzem, no entanto, o Brasil está na linha da frente da produção e do negócio, ou seja, é um dos maiores fornecedores de soja do mundo e está a tentar impulsionar as exportações agrícolas.
Os hectares de terra necessários poderiam ser reduzidos se os produtores conseguissem aumentar os seus rendimentos nas áreas já existentes. No entanto, a agricultura mais intensiva é dificultada pela qualidade dos solos brasileiros que são, normalmente, pobres em nutrientes e requerem quase três vezes mais fertilizantes que os dos EUA e Canadá.
Os autores do estudo alertam para o facto de o conflito comercial poder levar ao desmatamento da Amazónia muito além dos piores níveis até agora registados, com sérias implicações para o volume das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera. Em 2018, a floresta brasileira perdeu uma área total de 7900 km2, o equivalente a 987.500 campos de futebol. Foram abatidas cerca de 1.185.000.000 árvores, para abrir caminho a projectos agrícolas, barragens e estradas, dizia a Greenpeace Brasil no final do ano, citando os números de vários organismos oficiais de vigilância do desmatamento da Amazónia: são os piores números da última década.
Com a governação de Michel Temer houve já um agravamento da exploração da Amazónia – o Presidente fez várias concessões à bancada ruralista e Jair Bolsonaro parece ir pelo mesmo caminho. O político é um conhecido apoiante do sector mineiro e durante a campanha prometeu autorizar a exploração de recursos em áreas indígenas protegidas.
Os detalhes em relação às negociações comerciais entre os Estados Unidos e a China nos últimos meses ainda não são conhecidos. No entanto, Donald Trump já deu sinal de que um entendimento entre os dois países pode estar perto de ser alcançado, anunciando um prolongamento da trégua que era suposto terminar no dia 1 de Março e afirmando que Xi Jinping visitará os EUA para selar o acordo já durante este mês.
Ainda não foi revelado qualquer acordo entre as duas partes, mas Donald Trump garantiu haver compromissos estabelecidos em questões-chave, como a não obrigatoriedade de entrega de tecnologia por parte das empresas americanas que queiram operar na China e o reforço das compras de produtos agrícolas (principalmente soja) e energéticos (gás natural) aos EUA por parte da China.