Letrux: “Cantar é o que me conecta ao mistério, ao desconhecido”
Cantora, actriz, escritora e compositora, a brasileira Letrux abre esta quarta-feira com Lula Pena o festival MIL, que atrai artistas e agentes musicais de todo o mundo ao Cais do Sodré, em Lisboa.
Costuma dizer-se que à terceira é de vez, e o caso de Letrux confirma-o. Esteve em Portugal em 2013, no duo Letuce; voltou em 2018, aproveitando umas férias para curtas apresentações; e regressa agora, desta vez com todo o arsenal sonoro e cénico que serviu de base ao disco Em Noite de Climão, o seu primeiro a solo, lançado em 2017. É a ela que cabe a abertura, junto com Lula Pena, do festival MIL, que trará mais de 70 novos artistas e agentes musicais a Lisboa. Será no B.Leza, esta quarta-feira à noite, das 22h às 2h.
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Costuma dizer-se que à terceira é de vez, e o caso de Letrux confirma-o. Esteve em Portugal em 2013, no duo Letuce; voltou em 2018, aproveitando umas férias para curtas apresentações; e regressa agora, desta vez com todo o arsenal sonoro e cénico que serviu de base ao disco Em Noite de Climão, o seu primeiro a solo, lançado em 2017. É a ela que cabe a abertura, junto com Lula Pena, do festival MIL, que trará mais de 70 novos artistas e agentes musicais a Lisboa. Será no B.Leza, esta quarta-feira à noite, das 22h às 2h.
Nascida Letícia Pinheiro de Novaes, em 5 de Janeiro [de 1982] e no Rio de Janeiro, Letrux teve na adolescência uma banda de rock chamado Letícios, depois uma banda de electrónica (Menage à Trois) e em 2008 fundou com Lucas Vasconcellos o duo Letuce, que em 2010 se estreou com o CD Plano de Fuga Pra Cima dos Outros e de Mim. Seguiram-se Manja Perene (2012) e Estilhaça (2015), até à separação do duo, em 2016. Mas antes, em 2013, Letrux esteve em Portugal com o duo: “Fizemos uma tournée rápida, porém super intensa”, diz ela ao PÚBLICO. “Foi a minha primeira vez em Portugal e em 2018 voltei para umas férias. Como estava com o meu melhor amigo e tecladista da banda, o Arthur [Braganti], fizemos dois pocket shows, e foi bem divertido. Agora é a nossa primeira vez com a banda toda.” Será, diz ela, “o show completo.”
De Lula Pena, com quem partilhará a noite de abertura, diz: “Não a conhecia. Mas depois que falaram que eu ia fazer uma participação com ela, comecei a ouvir, achei maravilhosa, uma mulher poderosa, voz forte, e estou muito animada. A gente já tem conversado um pouco, sobre o que a gente vai brincar, juntas, e vai ser um momento bem único, bem especial e curioso.”
Sentimentos em palavras
Embora tenha vários músicos na família, foi pelos palcos da representação que ela começou. “Sou formada em teatro. Mas sempre fui muito observadora da música. O meu pai tocava violão, meu avô também, tal como meu irmão, mas eu era só uma observadora, uma ouvinte. Aí entrei na Faculdade de Teatro e acho importante ter feito teatro antes de ter entrado no mundo da música. Porque me deu uma base forte, cénica, performática, para me tornar a cantora que gostaria de ser. Antes de cantora ou actriz, a minha essência é mais de compositora. Sou uma pessoa que observa o mundo, tenho uma sensibilidade aguçada e gosto de botar em palavras o que estou sentindo.”
Considera-se, por isso, mais escritora e compositora. E dias antes de começar o MIL lançou em Portugal o seu livro Zaralha - Abri Minha Pasta, editado no Brasil em 2015: “É uma colectânea de muitos momentos poéticos da minha vida, desde a alfabetização, desde o colégio, até à vida adulta. É mais um almanaque poético. São as minhas considerações, num livro bem divertido.”
No disco Em Noite de Climão, Letrux tem o seu nome em todos os temas, vários deles compostos em parceria. “O embrião é geralmente sempre meu, com proposta de melodia, música e letra. Mas confio muito na banda que me acompanha. Então o Arthur, que é esse meu melhor amigo, me ajudou muito em várias harmonias e melodias. E a Bruna Beber, que é uma poeta maravilhosa, fez comigo a música Que Estrago, que virou hino das lésbicas do Brasil, uma coisa impressionante. Já recebi vídeos de duas mulheres casando ao som da música que a gente fez.” Neste caso, sucedeu o contrário do que é hábito: a letra foi de Bruna, sendo a composição de ambas. “Geralmente”, diz Letrux, “eu faço o embrião, sou o espermatozóide, mas preciso de alguém que fecunde comigo. Porque não sou formada em música, não tenho um conhecimento vasto. A ideia musical, da melodia e da letra, começa comigo. Aí, procuro parcerias para desenvolver aquela ideia.”
A par da música e do teatro, Letrux também participou em filmes (como actriz ou compositora musical) e séries de televisão. “Mas cantar ainda é o que mais me conecta ao mistério, ao desconhecido. O filme, o teatro, têm um roteiro. É claro que a música também tem um roteiro, eu tenho de seguir o set list, a ordem, mas existe qualquer coisa, que eu nem sei explicar, de muito misteriosa e delicioso que a música traz para a minha vida e que eu acho que ainda prefiro.”
“O apelido me protege”
O disco Em Noite de Climão, com dois anos, já tem sucessor à vista num horizonte próximo: “Estou começando a gerar esse segundo filho. No final do ano, a gente entra em estúdio.” E deve ser lançado no Brasil em 2020, mas só a partir de Março. “Depois que o carnaval passar”. Será, como o primeiro, assinado Letrux, nome artístico que ela prefere ao seu Letícia de baptismo:
“O meu nome, Letícia Novaes, acho muito sério. Por mais que tenha terminado o projecto Letuce, Letícia não daria para o meu projecto a solo, é meio adulto. Eu tenho 37 anos mas ainda me acho com 5 anos fazendo coisas de adulto. Gosto de usar o radical do meu nome, ‘Let’, que em inglês quer dizer ‘to allow something to happen’, que é bonito, porque eu permito realmente as coisas acontecerem. Ora os meus amigos começaram a me chamar de Letrux, é uma brincadeira. Uma variadinha para ficar mais divertido. Acho que só vou usar o meu nome assim, composto, nome e sobrenome, quando for escritora, porque enquanto eu cantar, acho que o apelido me protege.”