Israel bombardeia Gaza, subindo a tensão a duas semanas das eleições
Primeiro-ministro israelita voltou mais cedo de Washington, onde se encontrou com Donald Trump, e tinha prometido uma retaliação "com força".
Israel começou esta segunda-feira a bombardear alvos do Hamas na Faixa de Gaza, como retaliação ao lançamento de um rocket que atingiu uma casa perto de Telavive e que as autoridades israelitas atribuíram ao grupo islamista. A tensão na região surge numa altura delicada para todos os envolvidos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Israel começou esta segunda-feira a bombardear alvos do Hamas na Faixa de Gaza, como retaliação ao lançamento de um rocket que atingiu uma casa perto de Telavive e que as autoridades israelitas atribuíram ao grupo islamista. A tensão na região surge numa altura delicada para todos os envolvidos.
Os bombardeamentos começaram ao início da noite e visaram edifícios e instalações usadas pelo Hamas, de acordo com as Forças de Defesa Israelitas (IDF). Não foi revelado qualquer balanço de mortos ou feridos. Horas antes, uma casa numa comunidade rural a norte de Telavive tinha sido atingida por um rocket lançado a partir da Faixa de Gaza e que Israel atribuiu ao Hamas. O rocket caiu sobre a habitação de um casal britânico-israelita e feriu sete membros da família, incluindo três crianças.
Pouco antes dos bombardeamentos, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em visita aos Estados Unidos, garantia que Israel não iria deixar de se defender e prometeu “responder com força”. “Iremos fazer tudo que for preciso para defender o nosso povo e defender o nosso Estado”, disse Netanyahu, que se viu obrigado a encurtar a estadia nos EUA, onde ia participar na conferência anual do lobby pró-judaico American Israel Public Affairs Committee (AIPAC).
O Hamas não reivindicou o ataque que atingiu a comunidade nas imediações de Telavive. Um dirigente foi citado pela AFP, sob anonimato, a recusar qualquer responsabilidade do grupo e até a sugerir que o rocket tenha sido lançado de forma acidental por causa do “mau tempo”. É pouco comum que os rockets lançados pelo Hamas consigam atingir Telavive. As IDF disseram que o projéctil foi disparado a 120 km de distância.
O líder do grupo, Ismail Haniya, garantiu, porém, que irá resistir à ofensiva israelita. “Temos de enfrentar este massacre numa frente nacional unida, e em coordenação com os nossos aliados árabes. O nosso povo e a resistência não se irão render”, afirmou Haniya, citado pela Al-Jazira. As autoridades da Faixa de Gaza emitiram vários alertas à população para que se tente proteger do impacto dos bombardeamentos.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse estar “muito preocupado” com o agravamento da tensão na Faixa de Gaza e pediu que todos os lados se concentrassem em esforços para apaziguar a situação. “O lançamento de um rocket de Gaza na direcção de Israel é uma violação grave e inaceitável”, afirmou o porta-voz de Guterres, Stephane Dujarric.
Eleições no horizonte
A subida de tensão na Faixa de Gaza acontece num momento muito sensível na região. A 30 de Março assinala-se o primeiro aniversário do grande movimento de protesto organizado pelos palestinianos, que ficou conhecido como Grande Marcha do Retorno e que ficou marcado por uma dura repressão das forças israelitas, que mataram pelo menos 160 manifestantes ao longo de vários meses. O Hamas espera voltar a convocar milhares de pessoas para marcharem até à fronteira com Israel e teme-se que as manifestações voltem a ser reprimidas violentamente.
Ao mesmo tempo, aproximam-se as eleições legislativas em Israel, marcadas para 9 de Abril. Netanyahu está envolvido em vários casos de corrupção e é acusado pela oposição de ter uma postura pouco dura em relação ao Hamas. A visita aos EUA era encarada pelo primeiro-ministro como um impulso muito necessário à sua campanha eleitoral. Mas o seu regresso prematuro poderá ter neutralizado esse efeito, notam os analistas.
Antes de abandonar Washington, Netanyahu conseguiu ainda encontrar-se com Donald Trump, que formalizou o reconhecimento da soberania israelita sobre os Montes Golã, território sírio que Israel anexou após a guerra de 1967 e que a ONU continua a definir como ocupado.
A nível interno, o momento também não é o mais favorável ao Hamas, que enfrentou manifestações nas últimas semanas contra medidas impopulares que aplicou em Gaza, incluindo uma subida de impostos, lembra o Guardian.
A grande dúvida, nesta altura, é saber qual será a extensão da acção israelita em Gaza. O colunista do jornal Haaretz, Amos Harel, prevê uma “reacção militar israelita mais forte do que nos últimos meses”. “Os passos já dados – o primeiro-ministro encurtar a visita aos EUA, chamar reservistas para dirigirem o Iron Dome [o sistema israelita anti-mísseis], enviar forças para o sul – mostram que Israel está a preparar uma campanha que provavelmente irá durar vários dias, se não mais”, observa.