Criação de comissões já está a travar pagamentos com MB Way

Anúncio do BPI de que vai passar a cobrar uma comissão a alguns clientes nas transferências através MB Way fez cair a utilização desse meio de pagamento. EUPAGO, empresa especializada em soluções de pagamentos, defende vantagens da aplicação a um custo ajustado.

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Comissionamento do MB Way está a retrair a sua utilização por parte dos clientes particulares. Ines Fernandes

Os pagamentos realizados através do MB Way, aplicação para telemóveis que dispensa o uso físico de cartões de débito e de crédito, diminuíram a partir do momento em que o BPI criou uma comissão de 1,20 euros a aplicar às transferências de dinheiro realizadas através deste serviço. A referida comissão, a cobrar a partir de Maio aos clientes com menor envolvimento com o banco (que não utilizam a app BPI e não subscrevam a sua Conta Valor), criou uma elevada desconfiança entre os utilizadores dessa funcionalidade, visível no número de transacções que passam pela EUPAGO, empresa portuguesa especializada no apoio a pagamentos realizados através da Internet.

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Os pagamentos realizados através do MB Way, aplicação para telemóveis que dispensa o uso físico de cartões de débito e de crédito, diminuíram a partir do momento em que o BPI criou uma comissão de 1,20 euros a aplicar às transferências de dinheiro realizadas através deste serviço. A referida comissão, a cobrar a partir de Maio aos clientes com menor envolvimento com o banco (que não utilizam a app BPI e não subscrevam a sua Conta Valor), criou uma elevada desconfiança entre os utilizadores dessa funcionalidade, visível no número de transacções que passam pela EUPAGO, empresa portuguesa especializada no apoio a pagamentos realizados através da Internet.

A criação da comissão do BPI, comunicada em Fevereiro aos clientes, acabou por chamar à atenção para o que estava previsto nos preçários de vários bancos, que ainda não cobram qualquer valor, mas já têm acautelada essa possibilidade, em montantes que variam entre 0,15 euros e 1,50 euros, por cada ordem.

Embora nas operações de pagamento online “o consumidor nunca seja debitado pelo pagamento online, a sua percepção enquanto utilizador foi afectada pelo ruído mediático que se gerou em torno do tema”, disse ao PÚBLICO José Veiga, presidente executivo (CEO) da EUPAGO, empresa que no ano passado “geriu” 400 milhões de euros de pagamentos. “Na vertente dos comerciantes que aderiram ao MB Way, para receber dos seus clientes, notámos uma quebra significativa na sua cobrança na altura da notícia”, adianta o responsável.

Em crescimento acelerado desde o início de 2018, para cerca 1,25 milhões de utilizadores actuais (segundo informação da SIBS), os dados da tecnológica financeira EUPAGO mostram uma quebra na utilização deste tipo de pagamentos, que será transversal a outras entidades financeiras. Depois de uma utilização muito elevada em Novembro (época da Black Friday) e em Dezembro (Natal), com percentagens de 7% e 5% no volume de pagamentos, os números caíram nos primeiros meses do ano. Em Janeiro, mês de maior contenção nas compras, os pagamentos com MB Way representaram 4,03% do total dos 394 milhões de euros de transacções que passaram pela empresa de José Veiga. Em Fevereiro, já depois da polémica aberta pelo BPI, a percentagem caiu ainda mais, para 3,74%, num universo 373 mil transacções. Embora ainda incompleto, os primeiros dias Março parecem acentuar a tendência de queda.

O PÚBLICO pediu à SIBS, entidade gestora do Multibanco, dados recentes sobre a utilização do MB Way, mas a entidade gestora de pagamentos não os forneceu, alegando que “os dados estatísticos que podem ser disponibilizados são agregados e por períodos temporais específicos, como o Natal”. A empresa historicamente liderada por Vítor Bento, que recentemente remeteu para os bancos a responsabilidade pelo comissionamento do serviço, que já é pago pelos comerciantes no caso dos pagamentos, apenas adiantou que “há mais de 1,25 milhões de utilizadores da aplicação, que fazem cerca de três milhões de operações por mês, confirmando assim a preferência dos portugueses por pagamentos móveis e imediatos”. A entidade, que tem sido criticada por ter criado uma aplicação a que só acedem os bancos nacionais, destaca a mais recente inovação da aplicação, a de permitir acesso a um qualquer Caixa Automática Multibanco e à maioria das suas operações apenas com recurso a um dispositivo móvel.

José Veiga, um dos fundadores da EUPAGO, que tem capitais próprios de meio milhão de euros, e emite referências Multibanco e Payshop ou permite pagamentos por MB Way, considera que a nova ferramenta “trouxe uma clara mais-valia ao panorama dos pagamentos nacionais e, sem dúvida, que os comerciantes ganharam valor nos seus serviços ao permitir simplificar as transacções”. O gestor considera que o serviço não deveria ter sido criado sem custos para os utilizadores: “Não faz sentido que seja gratuito, porque tem custos, uma vez que funciona através de uma ‘camada’ em cima de cartões bancários, estando sujeita a custos imputados pelos bancos emissores”. Mas daí até aos custos anunciados vai uma grande distância. “Tratando-se de um passo necessário no sentido da digitalização das trocas monetárias, de pequeno valor, o seu preçário deverá ser ajustado a esse fim”, disse ao PÚBLICO.

A EUPAGO é uma das entidades que já pediu autorização ao Banco de Portugal para passar a realizar pagamentos no âmbito da directiva comunitária conhecida por PSD 2, que vem garantir o acesso às contas bancárias e à inicialização de pagamentos a empresas não financeiras. O CEO desta fintech 100% portuguesa garante que, em Setembro, data de início para disponibilização destes serviços, a sua empresa “estará já em condições de prestar a todos os seus clientes os novos serviços que se apresentam na PSD 2”, o que irá impulsionar a sua actividade.

“Como parceiros dos bancos, nós implementamos o MB Way, da mesma forma que iremos implementar o SEPA Instant e a inicialização de pagamentos (PISP)”, diz o gestor, que se considera um parceiro e não um concorrente da banca nacional. “As grandes empresas internacionais, que têm uma relação de grande proximidade com muitos consumidores de serviços bancários, poderão um dia intermediar esses próprios serviços, sem passarem pelos bancos e este é o verdadeiro desafio que se coloca à banca portuguesa”, conclui.

Notícia corrigida no valor das comissões mínimas de 0,15 euros (e não 0,15 cêntimos). E sobre a informação de que a SIBS não tinha respondido à pergunta sobre uma eventual queda nos pagamentos, dado que, por lapso, essa pergunta não chegou a ser colocada. Pelo facto pedimos desculpa aos leitores e aos visados.