Benfica e Luís Filipe Vieira vão processar eurodeputada Ana Gomes
Fonte do clube confirma que vai avançar com processos contra a eurodeputada por calúnias, falsas declarações e difamação. Ana Gomes não retira o que disse.
O Benfica e o seu presidente, Luís Filipe Vieira, vão interpor processos-crimes e cíveis contra a eurodeputada Ana Gomes, na sequência das suas declarações ao jornal Record, confirmou ao PÚBLICO fonte oficial do clube.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O Benfica e o seu presidente, Luís Filipe Vieira, vão interpor processos-crimes e cíveis contra a eurodeputada Ana Gomes, na sequência das suas declarações ao jornal Record, confirmou ao PÚBLICO fonte oficial do clube.
Em entrevista publicada neste domingo pelo diário desportivo, em resposta à hipótese de o hacker Rui Pinto ter acedido ilegalmente ao correio electrónico do Benfica, Ana Gomes diz que “há um passado de delinquência” ligado a Vieira e que o Benfica pode ter interesse em que alguém como o colaborador do Football Leaks, que está em prisão preventiva, esteja sob controlo.
Fonte do Benfica confirmou ao PÚBLICO a intenção, tanto do clube como de Luís Filipe Vieira, “a nível pessoal”, de processar Ana Gomes por calúnias, falsas declarações e difamação. Não foi emitido nenhum comunicado oficial sobre o assunto, e “a seu tempo” a equipa de advogados irá avançar com os processos.
“Extraordinariamente, a SAD, o clube e o seu dirigente máximo não são acusados [no âmbito do processo e-Toupeira]. Sabemos que o dirigente máximo do clube está referenciado em várias listas de grandes devedores do país por vários empréstimos não pagos. Há todo um passado de delinquência ligado a essa pessoa. Há inúmeros elementos que apontam para o facto de o Benfica poder ter especial interesse em que alguém que tem um acervo considerável de documentos de vários clubes não só possa ser posto sob controlo, mas inclusivamente o seu arquivo também o seja”, afirmou a eurodeputada ao Record.
Neste domingo à noite, no seu espaço de comentário na SIC Notícias, Ana Gomes afirmou que não retira nenhuma das alegações que fez. “O que disse mantenho, não tenho mais nada a dizer”, respondeu ao jornalista Rodrigo Pratas. “Aguardo os desenvolvimentos.”
No processo e-Toupeira, Paulo Gonçalves é acusado pelo Ministério Público (MP), enquanto assessor da administração da Benfica SAD, e no interesse da sociedade, de solicitar a funcionários judiciais informações sobre inquéritos, a troco de bilhetes, convites e merchandising do clube, e terá de responder por crimes de corrupção, violação do segredo de justiça, violação do segredo de sigilo e acesso indevido.
A juíza de instrução decidiu levar Paulo Gonçalves a julgamento, mas não pronunciou a SAD “encarnada”, considerando que a sociedade não pode ser imputada pelos actos do seu antigo assessor jurídico, uma decisão de que o MP recorreu e que Ana Gomes também contesta.
“Há aqui qualquer coisa de muito alarmante dos níveis de intimidação que explicam que certos sectores dentro do sistema policial e judicial não actuem como era suposto exigir-se que actuassem”, acrescenta a eurodeputada.
Nesta entrevista, Ana Gomes voltou a defender Rui Pinto, que é uma das fontes que tem permitido à plataforma digital Football Leaks denunciar casos de corrupção e fraude fiscal no universo do futebol, considerando que “tem razão para temer pela sua vida”, ao ter sido entregue às autoridades portuguesas.
Para a eurodeputada, pessoas como Rui Pinto “fazem um trabalho extraordinariamente importante na defesa do interesse público, para o combate ao crime organizado”, mesmo que no caso do denunciante português recaia pelo menos uma acusação de tentativa de extorsão.
Rui Pinto, que foi detido na Hungria e chegou a Portugal na quinta-feira, com base num mandado de detenção europeu emitido pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), foi indiciado pela prática de quatro crimes: acesso ilegítimo, violação de segredo, ofensa à pessoa colectiva e extorsão na forma tentada.
Na base do mandado estão acessos ilegais aos sistemas informáticos do Sporting e do fundo de investimento Doyen Sports e posterior divulgação de documentos confidenciais, como contratos de futebolistas do clube lisboeta e do então treinador Jorge Jesus, além de outros contratos celebrados entre a Doyen e vários clubes de futebol.