ONU assume gestão da ajuda humanitária na Beira
O objectivo é criar uma ordem para que todos os voluntários e organismos internacionais no terreno cumpram a sua missão. A prioridade é reabrir estradas e identificar os que ainda têm que ser salvos, diz Pedro Matos, coordenador do PAM.
A partir deste sábado, a gestão da ajuda humanitária na Beira vai mudar. Não só porque deixará de ser o caos dos primeiros dias, em que equipas de voluntários, de organismos internacionais e de organizações não-governamentais se acotovelavam num par de salas num dos extremos do aeroporto internacional.
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A partir deste sábado, a gestão da ajuda humanitária na Beira vai mudar. Não só porque deixará de ser o caos dos primeiros dias, em que equipas de voluntários, de organismos internacionais e de organizações não-governamentais se acotovelavam num par de salas num dos extremos do aeroporto internacional.
A OCHA, sigla em inglês para o Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários, é a parte das Nações Unidas responsável por assegurar uma resposta coerente dos actores da ajuda humanitária no terreno. Chegou para pôr ordem no caos nas dezenas de grandes, médias e pequenas organizações que se apresentaram na Beira e esgotaram toda a oferta hoteleira da cidade.
Também a partir deste sábado, muda a estratégia no terreno. “Agora que temos comunicações, vamos poder coordenar a partir daqui toda a assistência. Temos meios aéreos, e muitas comunidades que estão isoladas, apesar de estarem do outro lado deste grande lago, vão começar a ser cobertas. E é aqui, no comando operacional, que vamos poder decidir qual é a assistência que vai por terra, qual a que vai por ar e quais as pessoas mais necessitadas e de quê”, explica Pedro Matos, coordenador do Programa Alimentar Mundial (PAM) e até esta sexta-feira co-coordenador de toda a operação.
“Vamos abrir uma nova base em Chimoio, ao pé do Zimbabwe, para conseguir coordenar toda a assistência, porque o ciclone entrou pela Beira e saiu pelo Chimoio e toda essa zona está afectada. Vamos ter uma base em Quelimane, na Zambézia, e a partir de Maputo vamos conseguir cobrir praticamente metade de Moçambique”, acrescentou.
Pedro Matos está confiante que nos próximos dias se possa restabelecer a ligação por terra entre a Beira e Maputo, quando estiverem terminados os desvios que estão a ser feitos na zona onde a estrada abateu ou foi destruída pelas águas. Quando falou com ao PÚBLICO e a Lusa, estava a ser despejada gravilha na estrada Beira-Maputo.
“Isto é muito importante porque nos mantém as redes de abastecimento de comida e de bens não alimentares. Cada helicóptero leva um décimo de um camião, cada helicóptero pesado leva o equivalente um camião. Esta operação não vai ser possível se tivermos que enviar tudo por ar para todas as zonas necessitadas”, explicou o coordenador do PAM.
A estratégia continua a ser a de não dar actualização dos mortos, mas concentrar as mentes no salvamento de pessoas. Até porque “só à medida que as águas forem retrocedendo vamos poder fazer a avaliação”, explica.
“O nosso foco é os sobreviventes, aqueles que conseguimos encontrar e detectar as suas necessidades. Antes das águas retrocederem não vamos poder ter uma avaliação total dos estragos”, acrescenta.
Esta sexta-feira, o objectivo era resgatar mais 100 pessoas por avião e outras mil por barco. “Continuamos a fazer voos de avioneta para identificar pessoas que estão isoladas, depois mandamos os helicópteros com as equipas de resgate salvarem pessoas isoladas. Estas 100 de hoje [sexta-feira] foram identificadas no voo de ontem”.
“Uma decisão que vamos ter de tomar agora nos próximos tempos, à medida que as águas desaparecem, é se já há condições para assistir as pessoas lá, para começarmos a fazer a assistência no local ou se temos de continuar a ver”, concluiu Pedro Matos.