Coordenador de serviço de hospital do Funchal acusa colegas de mortes por negligência médica

Serviço regional de saúde madeirense reagiu em defesa dos médicos visados e suspendeu exames a doentes oncológicos, até ser reposta a serenidade do serviço.

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Rui Gaudêncio

Morte de doentes por negligência médica. Incompetência. Favorecimento do sector privado em detrimento do hospital público. Gestão deficiente dos recursos de saúde regionais. Assédio moral e ameaças. As acusações do coordenador do serviço de Medicina Nuclear do Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal, estão a provocar uma onda de choque no arquipélago.

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Morte de doentes por negligência médica. Incompetência. Favorecimento do sector privado em detrimento do hospital público. Gestão deficiente dos recursos de saúde regionais. Assédio moral e ameaças. As acusações do coordenador do serviço de Medicina Nuclear do Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal, estão a provocar uma onda de choque no arquipélago.

A primeira consequência das declarações que Rafael Macedo fez na quarta-feira na comissão parlamentar de inquérito ao serviço de Medicina Nuclear, que está a decorrer no parlamento madeirense, foi a suspensão dos exames urgentes a doentes oncológicos que estavam marcados para esta quinta-feira. A segunda, poderá ser uma investigação do Ministério Público.

“Os tratamentos que foram suspensos, estão a ser avaliados, remarcados e reorientados”, confirmou nesta quinta-feira de manhã aos jornalistas a presidente do Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (SESARAM), Tomásia Alves, adiantando que estão em causa quatro ou cinco exames, e que não existe data para serem retomados.

A decisão de os suspender, disse, foi tomada depois do responsável pelo serviço, Rafael Macedo, ter faltado nos últimos dois dias.

“Os exames serão retomados quando forem devolvidas a serenidade dos profissionais para garantir qualidade dos registos, a segurança dos doentes e a integridade dos profissionais e dos utentes”, adiantou Tomásia Alves, sem se comprometer com datas.

Falando numa conferência de imprensa marcada para reiterar a “confiança total e inequívoca” do corpo clínico do SESARAM, Tomásia Alves repudiou o que garante serem “acusações infundadas, falsas e injuriosas” feitas na véspera por Rafael Macedo.

“As acusações infundadas, de grande irresponsabilidade, são uma ofensa à instituição e aos seus profissionais, com repercussões na credibilidade e confiança e será alvo das medidas adequadas”, sublinhou, ressalvando que foi aberto um inquérito, mas o médico em causa mantêm-se em funções.

O coordenador do serviço de Medicina Nuclear foi quarta-feira à comissão de inquérito, requerida pelo PSD em resposta a uma reportagem da TVI em Fevereiro passado, em que o próprio Rafael Macedo acusa o SESARAM de desviar para uma clínica privada exames e tratamentos que poderiam ser feitos, a custos significativamente mais baixos, no serviço que coordena no hospital público. Perante os deputados, o médico não só repetiu o que tinha dito na reportagem como ainda visou vários colegas por “forte negligência” e de “tratamentos não adequados”.

Episódios, vincou em resposta a um pedido de esclarecimento da presidente da comissão, Fernanda Cardoso (PSD), que levam à morte de doentes. “Pelo que tenho visto, sim”, disse Rafael Macedo, apontando o dedo aos directores dos serviços de Ortopedia, Urologia e Hemato-Oncologia.

Referindo ter dado conta de várias irregularidades à Ordem dos Médicos e ao Ministério Público – alguns partidos também já manifestarem essa intenção – Rafael Macedo diz que tem sido ameaçado e alvo de assédio moral, desde que começou a falar das relações entre o SESARAM e a Clínica de Radioncologia da Madeira, do universo da Joaquim Chaves Saúde.

Nas contas do SESARAM, entre 2009 e 2018, o governo madeirense pagou 22 milhões de euros à Clínica de Radioncologia para a prestação de serviços. Deste montante, contabiliza o Funchal, apenas 10% foi relacionado com a área da medicina nuclear, sendo que o restante foi para tratamentos e exames de radioterapia, um serviço de que o hospital público não dispõe. Rafael Macedo rejeita estas contas. Diz que o serviço que coordena está subaproveitado (funciona apenas a 15%) e que o serviço regional de saúde pouparia milhares de euros por ano, se o utilizasse com mais eficiência.