“Pechinchas” do Novo Banco incluem casas de 70 mil euros

A venda de carteiras de activos a fundos de investimento geraram perdas na ordem dos 270 milhões de euros. Imóveis foram transaccionados ao preço patrimonial.

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Rui Gaudencio

Em 2018 as perdas do Novo Banco associadas à protecção estatal ficaram a volta dos 480 milhões de euros. Nos últimos dois anos somaram 2,48 mil milhões de euros, o que justificou o acesso ao mecanismo de capitalização pública, de reposição dos rácios de capital nos níveis exigidos pelo BdP. Entre 30 de Junho de 2016 e 30 Setembro de 2017 o Novo Banco perdeu cerca de dois mil milhões de euros em imparidades, venda de activos e insolvências. Este bolo constitui as perdas associadas ao universo dos activos tóxicos que ficaram na instituição chefiada por António Ramalho, com protecção da garantia contingente do Fundo de Resolução.

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Em 2018 as perdas do Novo Banco associadas à protecção estatal ficaram a volta dos 480 milhões de euros. Nos últimos dois anos somaram 2,48 mil milhões de euros, o que justificou o acesso ao mecanismo de capitalização pública, de reposição dos rácios de capital nos níveis exigidos pelo BdP. Entre 30 de Junho de 2016 e 30 Setembro de 2017 o Novo Banco perdeu cerca de dois mil milhões de euros em imparidades, venda de activos e insolvências. Este bolo constitui as perdas associadas ao universo dos activos tóxicos que ficaram na instituição chefiada por António Ramalho, com protecção da garantia contingente do Fundo de Resolução.

A par desta situação, o Novo Banco apurou outras perdas, de 270 milhões de euros, relacionadas com duas operações de grande dimensão. 

Uma delas envolveu a venda de 8700 imóveis ao fundo Anchorage Capital em torno de 400 milhões de euros, dali resultando um prejuízo para o vendedor de 150 milhões de euros.

Esta verba já foi registada nas contas do Novo Banco de 2018. Trata-se da operação baptizada  Viriato com activos do banco ou de fundos de investimento da sua esfera, e cujas avaliações chegaram aos seguintes preços unitários: residências no valor de 70 mil euros; terrenos de 50 mil euros; imóveis industriais de cerca de 50 mil euros. Estes preços correspondem, regra geral, ao valor patrimonial dos activos, abrindo margem de rentabilização, pelos compradores, numa eventual venda a preços de mercado.

Sobre este tema, o presidente executivo do Novo Banco disse ontem no Parlamento que o momento actual do mercado imobiliário justifica que se acelere a venda de activos que estão a gerar perdas para o banco. “Os activos imobiliários estão a beneficiar de circunstâncias de mercado positivas: vale a pena vender hoje e não guardar [os negócios] para amanhã. As condições de mercado actuais parecem-me mais seguras agora do que no futuro e aconselham que se aproveitem todas as oportunidades para vender”, explicou o CEO do Novo Banco, no Parlamento.

Acerca deste negócio, que valeu 389 milhões de euros, António Ramalho revelou aos deputados que os activos residenciais foram vendidos com um desconto de 16%. “Sobre o residencial, 70% estava há cinco anos do banco sem capacidade de venda. O haircut [desconto] foi de 16%”. E adiantou mais pormenores sobre o Viriato: 43% desta carteira era residencial (3000 imóveis), localizado na periferia das cidades, o restante eram propriedades e 2335 terrenos, pequena terra, “lotes que para desbastar, custaram-nos 4 milhões de euros”. No total da carteira, o desconto fixou-se nos 32%.

O Novo Banco convidou 59 investidores a avaliar a operação Viriato, tendo 23 entidades mostrado interesse em participar no negócio. E, destas, apenas sete apresentaram propostas não vinculativas, das quais apenas três entregaram ofertas vinculativas. A Anchorage Capital foi a seleccionada. Foi, aliás, sobre este negócio que a deputada do Partido Socialista Helena Roseta falou em “pechinchas” para se referir ao valor dos activos que o Novo Banco negociou com a Anchorage. 

A segunda operação designada Nata abrangeu a carteira de crédito malparado, referenciado como NPL, non performing loans, com um valor bruto 2,1 mil milhões de euros. Os compradores foram empresas de recuperação de crédito, a KKR (um dos grandes fundos de investimento a nível mundial) e a LX Partners (uma sociedade portuguesa, com ligações a Malta). O negócio resultou num prejuízo para o Novo Banco de 120 milhões de euros.

A equipa de António Ramalho deu entretanto o tiro de partida a uma outra operação deste género, a Nata II, que inclui uma carteira de malparado no valor de três mil milhões de euros. Segundo noticiou o Eco, na corrida estão novamente grandes fundos internacionais, com destaque para a Bain, o Cerberus e novamente a KKR. Este negócio tem como assessora a sociedade espanhola Alantra, que conta com Rita Barosa, antiga directora do BES de Ricardo Salgado.

Sobre esta operação Bracinha Vieira, um dos responsáveis por acompanhar a venda deste activos ao abrigo do Mecanismo de Capital Contigente, disse na semana passada no Parlamento que em 2019 prevê-se prejuízos de 400 milhões de euros decorrentes da “venda de um grande conjunto créditos (projeto Nata II)”. Além disso, passaram para este ano 649 milhões de euros de stock de prejuízos anteriores com esses activos que não foram superados através do mecanismo de compensação.

Assim, segundo afirmou Bracinha Vieira, do total de 3890 milhões de euros possíveis, o Novo Banco deverá pedir 3000 milhões de euros – o que significa que, além dos 1941 milhões já pedidos, poderá pedir mais cerca de 1000 milhões de euros.

A 1 de Março o Novo Banco anunciou que ia pedir uma nova injecção de capital ao Fundo de Resolução de 1149 milhões de euros para cobrir as perdas relativas a 2018 com os activos (crédito malparado, imóveis) incluídos no mecanismo de compensação acordado aquando da venda do Novo Banco ao fundo norte-americano Lone Star, em Outubro de 2017.

Este valor, a concretizar-se, soma-se aos 792 milhões de euros que o Novo Banco recebeu no ano passado do Fundo de Resolução, aumentando as injecções públicas ao abrigo do mecanismo de compensação para 1941 milhões de euros. Contudo, o Novo Banco poderá pedir ainda mais dinheiro, uma vez que este mecanismo determina que pode solicitar até 3890 milhões de euros até 2026.

Em Dezembro do ano passado, os activos cobertos pelo mecanismo de compensação (designado oficialmente Mecanismo de Capital Contingente) correspondiam a 4,0 mil milhões de euros (valor líquido de provisões).

Notícia actualizada com declarações de António Ramalho no Parlamento