Paulo deixa impulso na internacionalização da Sonae para Cláudia

De saída da liderança da comissão executiva, mantendo-se como chairman, Paulo Azevedo admitiu que gostava de ter feito mais pela expansão dos negócios fora do país.

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Paulo Azevedo disse que esteve quase para colocar uma gravata para assinalar a sessão de apresentação de contas que foi, simultaneamente, de despedida da liderança da Comissão Executiva da Sonae, juntamente com Ângelo Paupério. Mas resistiu, mantendo a indumentária casual que lhe é habitual, numa sessão que também foi de balanço dos últimos quatro anos, de despedidas e agradecimentos, de passagem informal de testemunho e com uma boa dose de emoção à mistura.

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Paulo Azevedo disse que esteve quase para colocar uma gravata para assinalar a sessão de apresentação de contas que foi, simultaneamente, de despedida da liderança da Comissão Executiva da Sonae, juntamente com Ângelo Paupério. Mas resistiu, mantendo a indumentária casual que lhe é habitual, numa sessão que também foi de balanço dos últimos quatro anos, de despedidas e agradecimentos, de passagem informal de testemunho e com uma boa dose de emoção à mistura.

As contas do último exercício não foram difíceis de apresentar. O volume de negócios cresceu 8,1%, para 5951 milhões de euros, com contributos positivos de todas as áreas de negócio. O balanço dos últimos quatro anos também não foi problemático: o grupo inverteu a estrutura de capitais, reduzindo o endividamento a um terço e aumentando os capitais próprios, criando “um balanço forte, com capacidade para responder aos novos desafios”.

Numa das “avenidas de crescimento” que tem sido uma grande aposta da Sonae, a internacionalização, Paulo Azevedo, que se mantém como chairman do grupo, fez questão de lembrar que o volume de vendas subiu de 534 milhões de euros, em 2014, para mil milhões, em 2018, um crescimento de 90%. Os capitais empregues no exterior cresceram 70%, passando de 615 milhões de euros para mil milhões de euros.

Paulo Azevedo, que deixa nas mãos da irmã, Cláudia Azevedo, o comando executivo (CEO) dos negócios do grupo (que é proprietário do PÚBLICO), também considera que a aposta em novos modelos de negócio (wholesale, online, serviços e franchising) foi ganha, passando de um volume de vendas de 525 milhões de 884 milhões de euros, quatro anos depois. Noutras áreas, destacou igualmente a aposta na área tecnológica, financeira ou de saúde e bem-estar.

O balanço nos negócios estratégicos (core), nos últimos quatro anos, também dá conta de taxas de crescimento confortáveis. De acordo com os dados apresentados, a Vendas da Sonae MC aumentaram 22,7%, a Worten Portugal 37% e a Nos 26%.

Mas nem tudo correu como Paulo Azevedo desejava. Questionado sobre o trabalho realizado na internacionalização, o gestor admitiu que “gostava de ter feito mais nesse domínio”, mas recusou que tenha falhado, lembrando os desafios enfrentados na sequência da crise financeira, em que foi preciso reduzir a dívida.

“Almas gémeas”

Sobre os desafios futuros do grupo que se colocam à futura CEO, Paulo Azevedo não quis entrar em detalhes, mas admitiu que é para a sua irmã que fica a missão de dar maior impulso à internacionalização dos negócios do grupo. Esse desafio coloca-se na área do retalho alimentar, que representa 4,2 mil milhões de euros em cerca de seis mil milhões de euros dos negócios totais, e nas restantes unidades, nomeadamente no retalho especializado.

A actividade da Sonae MC continua quase exclusivamente centrada no mercado nacional e a alteração dessa situação não se perspectiva, para já. Sobre este aspecto, a posição do grupo em relação a um eventual interesse na cadeia espanhola Dia é de cautela. Paulo Azevedo não exclui a operação, mas lembra que a estratégia do grupo para esta área tem assentado no crescimento orgânico. Voltar a olhar para Angola (depois do fracasso da parceria com Isabel dos Santos) também não está em cima da mesa. Em relação à concorrência, no mercado nacional, que possa vir da cadeia espanhola de distribuição Mercadona, a reacção é de “tranquilidade, muito respeito” e promessa “de continuar a trabalhar como até agora”.

Apesar da transição ainda não estar formalizada em assembleia geral (marcada para dia 30 de Abril, segundo o Expresso), a apresentação de contas do grupo ficou marcada pela despedida de Paulo Azevedo e Ângelo Paupério de funções executivas, e de mais de trinta anos de “cruzamento” dos dois gestores em órgão sociais do grupo. Paulo Azevedo elencou um conjunto de alternâncias de cargos entre os dois até que chegaram um ponto que decidiram ser co-CEO. “Muita gente achou que não ia funcionar, mas funcionou”, disso.

Depois dos agradecimentos de Ângelo Paupério à família Azevedo - referindo, emocionado, o nome de Belmiro de Azevedo (já falecido), e a toda a equipa da Sonae, que o apoiaram “no projecto [Sonae]” - acrescentou não ter tido “outro [projecto]”. Paulo Azevedo também resumiu 30 anos de convivência: “Queria agradecer à minha alma gémea, em nome pessoal e em nome do próprio grupo”, disse, referindo-se a Paupério, que continua no grupo, mas sem funções executivas. A Cláudia Azevedo e à sua equipa, os dois gestores deixaram votos de sucesso e a confiança no futuro. Paulo Azevedo disse acreditar que a irmã “vai levar a Sonae para novos patamares”.