António Ramalho: no BES “separaram a família mas não separaram os amigos”
O presidente do Novo Banco considerou que a resolução do BES não foi preparada "totalmente" e defendeu que a injecção inicial de 4,9 mil milhões foi insuficiente.
O presidente do Novo Banco, António Ramalho, disse que a resolução do Banco Espírito Santo (BES) “não foi preparada totalmente”, e considerou “insuficientes” os 4,9 mil milhões de euros injectados à data da operação.
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O presidente do Novo Banco, António Ramalho, disse que a resolução do Banco Espírito Santo (BES) “não foi preparada totalmente”, e considerou “insuficientes” os 4,9 mil milhões de euros injectados à data da operação.
“É uma resolução que tem o seu quê de premonitório e não foi preparada totalmente, não é uma decisão continuada”, considerou António Ramalho, lembrando que foi uma decisão tomada no contexto de uma “potencial extraordinária corrida aos depósitos”.
António Ramalho disse ainda que “os 4,9 mil milhões que foram decididos afectar foram claramente insuficientes”, por causa das exigências regulatórias futuras, e que “as imparidades se notaram desde logo”.
O presidente executivo afirmou ainda que a resolução evitou “que o colapso fosse incidir sobre os contribuintes do passado” e do futuro.
“O BES perdeu todas as acções e todos os depósitos, todas as obrigações subordinadas e as seniores, que são também consideradas para o passivo”, explicou António Ramalho, acrescentando que os activos que foram escolhidos para ficar no chamado “banco mau” foram “na prática, Angola, Miami, Líbia, e todo o Grupo Espírito Santo (GES), tudo o que fosse família Espírito Santo”.
“Mas se separaram a família, não separaram ‘family and friends’ [família e amigos]”, disse António Ramalho numa referência ao legado do Banco Espírito Santo e à família detentora do antigo BES.
Sobre os 44 créditos mais problemáticos, António Ramalho disse que “valiam 4,25 mil milhões de euros”, e que o Novo Banco já conseguiu recuperar 1,5 mil milhões desse valor.
O actual presidente do Novo Banco rejeitou ainda qualquer suspeita sobre a venda de activos a entidades relacionadas com o actual dono do banco, o fundo norte-americano Lone Star. “Sobre as suspeitas de que no final da cadeia da venda [de activos tóxicos] está a Lone Star, é importante dizer que o contrato proíbe essa prática liminarmente. Se acontecesse, teríamos de enfrentar as consequências de vários reguladores”. E acrescentou que os interessados nas compras dos activos são mesmo obrigados a assinar um termo de responsabilidade que assegura que não têm qualquer relação com a entidade vendedora. “Não há transacções com a Lone Star e não faz sentido que essa desconfiança exista”, concluiu
Ramalho apreensivo com surpresa causada pelos prejuízos
O presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, disse ainda lhe causava alguma apreensão o facto dos prejuízos do banco em 2018, de 1412 milhões de euros, terem causado surpresa.
“A mim causa alguma apreensão serem surpreendentes”, disse António Ramalho na comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, justificando a sua reacção com o facto do Novo Banco ser o banco “que tem o rácio mais negativo de NPLs (crédito malparado)”.
Em 2016, lembrou o presidente do Novo Banco, “o banco apresentou um rácio de 36,2% de rácio [de crédito malparado], apresentava um terço do seu balanço improdutivo”, o que levou a uma estratégia agressiva por parte da administração.
No entanto, António Ramalho salientou que “ainda hoje o banco tem 22,2% de NPL”, e que a média portuguesa é das piores a nível europeu, “mal acompanhada pela Grécia e pelo Chipre”.
O gestor acrescentou que o banco, no seu entender, está a fazer “um esforço escrutinado, preciso e justo”, e que desde sempre tem dito que a reestruturação “custa tempo e dinheiro”.
“Isto significa que o banco no momento da venda não era bom, não era perfeito, mas não há bancos perfeitos”, considerou.