Portugueses ciganos querem ser activos na vida política nacional e pedem Estatuto do Mediador
Representantes das comunidades ciganas foram ouvidos no Parlamento no âmbito da elaboração de um relatório sobre racismo e discriminação a ser apresentado até ao final da legislatura.
Os portugueses ciganos querem ser parte activa na vida política nacional, e garantem que podem fazer a diferença, pedem melhores políticas de habitação, educação e formação profissional e defendem a criação do Estatuto do Mediador Sociocultural.
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Os portugueses ciganos querem ser parte activa na vida política nacional, e garantem que podem fazer a diferença, pedem melhores políticas de habitação, educação e formação profissional e defendem a criação do Estatuto do Mediador Sociocultural.
Vários representantes das comunidades ciganas, bem como organizações que trabalham com estas pessoas, estiveram esta terça-feira a ser ouvidos no Parlamento numa audição no âmbito da elaboração de um relatório sobre racismo, xenofobia e discriminação étnico-racial, a ser apresentado até ao final da legislatura.
Uma ideia partilhada entre a maioria dos presentes, é a necessidade da criação do Estatuto do Mediador Sociocultural, tendo Luís Romão, mediador escolar, defendido que esta função é “extremamente importante para o sucesso das comunidades ciganas na educação”. Luís Romão deu vários exemplos de sucesso e de como ao longo de 17 anos de trabalho como mediador escolar ajudou a aumentar o número de crianças ciganas no pré-escolar e no primeiro ciclo e questionou a falta de verbas por parte do Ministério da Educação para apostar em mais mediadores.
“A estratégia é simples. Pode não resolver a 100% ou a 50%, mas mesmo que resolva só a 30% colocando um mediador. Isso implica assim tantas verbas? Ou de uma vez por todas criar o Estatuto do Mediador? É assim tão difícil?”, questionou.
Pela Rede Europeia Anti-Pobreza, Maria José defendeu uma educação para a saúde e a necessidade de mediação nos centros de saúde, não só para aproximar as comunidades ciganas dos cuidados de saúde, como para ajudar a diminuir desconhecimento por parte dos vários funcionários, entre médicos e enfermeiros, sobre esta comunidade.
Defendeu, nesse sentido, a criação de carrinhas móveis que pudessem deslocar-se junto das comunidades ciganas.
A presidente da associação Letras Nómadas, Olga Mariano, defendeu que é importante dar voz aos ciganos porque eles podem fazer a diferença e lembrou que há muitas zonas do país onde a comunidade cigana é maioritária.
“Não é só quando [os partidos] vão às feiras e pedem o nosso voto. Temos de fazer parte da vida activa do nosso país. Nós somos portugueses ciganos e não ciganos portugueses”, sublinhou, questionando como é que depois de mais de 500 anos de presença em Portugal a comunidade cigana continua a ser grande ausente nas listas dos partidos.
A questão da habitação também foi abordada, tendo o presidente da Associação de Mediadores, Prudêncio Canhoto, relatado as condições em que vivem as pessoas ciganas da zona de Beja. Referiu que a maioria vive em barracas, sem qualquer saneamento ou acesso a água potável, com esgotos a céu aberto e rodeados de lixo.