Pedro Nuno Santos, a sua mulher e o PS
O símbolo do PS já foi um punho e já foi uma rosa – talvez valha a pena juntá-los num bonito bouquet matrimonial.
Eu acredito em Pedro Nuno Santos. Mais: eu elogio Pedro Nuno Santos pelo esclarecimento público que prestou, admitindo que o facto de também a sua mulher – seguindo a imparável tendência de 2015-2019 – ter ido parar ao governo de António Costa (foi nomeada na semana passada chefe de gabinete do novo secretário de Estado adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro) é uma decisão digna de escrutínio, já que – palavras suas – “o povo tem o direito de questionar e de querer garantir que os cargos de poder político não são usados para que alguns se sirvam a si e às suas famílias”.
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Eu acredito em Pedro Nuno Santos. Mais: eu elogio Pedro Nuno Santos pelo esclarecimento público que prestou, admitindo que o facto de também a sua mulher – seguindo a imparável tendência de 2015-2019 – ter ido parar ao governo de António Costa (foi nomeada na semana passada chefe de gabinete do novo secretário de Estado adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro) é uma decisão digna de escrutínio, já que – palavras suas – “o povo tem o direito de questionar e de querer garantir que os cargos de poder político não são usados para que alguns se sirvam a si e às suas famílias”.
Está dito, bem dito, e bem justificado: Pedro Nuno Santos explicou que conheceu a sua mulher, Catarina Gamboa, também ela militante socialista, há 16 anos, quando Duarte Cordeiro ganhou a corrida à liderança da JS de Lisboa e ele a corrida à JS de Aveiro. Apaixonou-se por alguém que conheceu no trabalho de militância, o que tanto “acontece com políticos” como “acontece em muitas outras profissões”. E acrescentou: “É fácil compreender porquê: afinal, é nesses meios que passamos a maior parte do nosso dia-a-dia, e é com essas pessoas que partilhamos as vitórias e as derrotas profissionais e pessoais.”
Isto é totalmente verdade. Também acontece com os jornalistas. Passei os primeiros oito anos da minha carreira a trabalhar no Diário de Notícias, e se não tivesse já namorada quando para lá entrei seria difícil não acabar enrolado com alguém da redacção. Eu entrava às dez e meia da manhã e saía, com frequência, depois da meia-noite. Nos primeiros anos, como ainda não tinha filhos, trabalhava, em média, seis dias por semana. Quando saí do DN tinha 100 folgas em atraso. Num contexto como este, é difícil não concordar com Pedro Nuno Santos: tirando o tempo que estamos a dormir, passamos o dia todo com aquelas pessoas. Qual é o espanto dos jornalistas casarem com jornalistas e os políticos com políticos?
Não há espanto algum. Mas sabem o que é que se dizia (e ainda se diz) dos jornalistas? Que não conhecem o mundo para além das redacções. Que perderam a ligação às pessoas comuns. Que vivem em circuito fechado. Que essa forma de vida é limitada, pobre e pouco saudável – nem lhe serve a eles, nem aos objectivos da sua profissão. Pedro Nuno Santos tem absoluta razão nas justificações que dá. Elas são plausíveis, e eu acredito sinceramente que a sua mulher não foi para o governo porque ele andou a meter cunhas (tal como Mariana Vieira da Silva não precisou do pai para ascender a secretária de Estado). Só que isso em nada resolve o principal problema que está em causa.
E o problema é este: a vida desta nova geração de políticos, tal como a dos jornalistas, é limitada, pobre e pouco saudável. Os nossos governantes deveriam ser oriundos de sectores diversificados da sociedade, já que é suposto representarem todo o país – e isso pura e simplesmente não acontece.
O problema de a lista dos convidados para a festa de anos de António Costa estar toda ela publicada no Diário da República é o facto de isso escandalosamente demonstrar que a política portuguesa se transformou num circuito fechadíssimo de gente que se conhece desde o jardim-escola. Fora de um círculo de poder cada vez mais restrito quase ninguém entra, seja qualificado ou não. É preciso rondar, militar, confiar, bajular, lisonjear, amar e até casar. O símbolo do PS já foi um punho e já foi uma rosa – talvez valha a pena juntá-los num bonito bouquet matrimonial.