O prolongamento do “Brexit” tem que ser do interesse da União Europeia, diz Barnier
May vai enviar carta a pedir adiamento da data do “Brexit” antes do Conselho Europeu de quinta-feira. Negociador europeu diz que a "incerteza" não pode manter-se e avisa que os britânicos têm que ter um "plano muito concreto" para justificar a extensão do prazo.
A extensão do prazo para a negociação do “Brexit” não é “uma questão ideológica ou dogmática”, mas sim uma “questão prática": a decisão sobre o adiamento da saída do Reino Unido da União Europeia tem que ter em conta o “melhor interesse” dos 27 Estados membros, que é o de mitigar os elevados “custos económicos e políticos" da actual situação de incerteza, justificou o negociador de Bruxelas para o “Brexit”, Michel Barnier.
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A extensão do prazo para a negociação do “Brexit” não é “uma questão ideológica ou dogmática”, mas sim uma “questão prática": a decisão sobre o adiamento da saída do Reino Unido da União Europeia tem que ter em conta o “melhor interesse” dos 27 Estados membros, que é o de mitigar os elevados “custos económicos e políticos" da actual situação de incerteza, justificou o negociador de Bruxelas para o “Brexit”, Michel Barnier.
“Prolongar a incerteza tem custos económicos e políticos e tem consequências, por exemplo ao nível das eleições europeias. É por isso que o Governo e o Parlamento britânico têm que decidir muito depressa”, avisou.
O diplomata francês que foi encarregado de negociar o divórcio com o Reino Unido em nome dos 27 apresentou esta terça-feira, à porta fechada, as “várias fórmulas possíveis” da resposta da UE ao pedido de adiamento da data do “Brexit” que a primeira-ministra britânica, Theresa May, deverá apresentar aos seus congéneres na véspera do Conselho Europeu.
“Estamos a dez dias do dia D, que foi escolhido pelo Governo britânico para a sua saída da UE: precisamos de escolhas e decisões da parte do Reino Unido”, sublinhou Barnier, referindo-se à data de 29 de Março em que, pela operação automática da lei, o país deixará de pertencer ao clube europeu.
Segundo um porta-voz do Governo britânico, a líder conservadora britânica vai enviar um pedido formal para o adiamento da data do “Brexit” ao presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, para ser discutido na cimeira de chefes de Estado e de governo da União Europeia que arranca na quinta-feira, em Bruxelas.
“A primeira-ministra vai escrever a Donald Tusk antes do Conselho Europeu”, confirmou o porta-voz de May nesta terça-feira. A mesma fonte recusou dizer, porém, por quanto tempo a primeira-ministra prevê ser necessário prologar as negociações: “Têm que esperar pela carta”.
Ora, como respondeu Barnier, mais importante do que o prazo -- mais curto ou mais longo -- que Downing Street venha pedir para a extensão do artigo 50º., importa analisar “as razões e a utilidade de tal extensão”. “Qual é o propósito do Governo do Reino Unido? Como nos pode assegurar que no fim da extensão não nos vamos encontrar exactamente na mesma situação em que nos encontramos agora?”, perguntou, repetindo que só em função de um “plano muito concreto” é que os líderes poderão “decidir de forma informada” quanto tempo mais estão dispostos a conceder ao Reino Unido.
“A extensão tem de ser útil”, insistiu o negociador europeu, que apontou dois objectivos para o prolongamento do período negocial: a aprovação do acordo de saída negociado entre Londres e Bruxelas, e a revisão da declaração política que lança as bases do relacionamento futuro entre os dois blocos, “e que pode ser tornada muito mais ambiciosa se os deputados britânicos assim o desejarem”.
Sem querer especular sobre a resposta que pertence inteiramente aos líderes, Barnier revelou porém a sua opinião de que um adiamento mais prolongado da data do “Brexit” teria de estar ligado a “um novo desenvolvimento ou um novo processo político” que não se está ainda a antever.
A margem de manobra de Theresa May complicou-se significativamente depois da decisão do presidente da Câmara dos Comuns que inviabilizou o plano do Governo de convocar uma terceira votação do acordo de saída antes da cimeira de líderes em Bruxelas. John Bercow disse que não aceitava a terceira votação se não fossem feitas alterações substanciais ao texto da proposta, que já chumbou por duas vezes. O Governo reagiu responsabilizando o Parlamento pela abertura de uma crise constitucional.
Perante o caos instalado em Londres, e todas as incertezas que pairam sobre o processo, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que no Conselho Europeu pretende “lutar até ao fim” para garantir que o Reino Unido sai da UE de forma ordenada, ou seja com um acordo. “Vou lutar até ao fim, antes do dia 29 de Março, para que haja uma saída ordenada”, disse Merkel em Berlim, acrescentando que a UE vai continuar a responder ao Reino Unido “de forma adequada e em conjunto”.
Uma nova prova da unidade dos 27 foi dada esta terça-feira, com a aprovação de mais uma série de medidas de contingência para o cenário de no deal. “Da nossa parte nada mudou. Continuámos a preparar-nos para todos os cenários possíveis”, garantiu o ministro dos Assuntos Europeus da Roménia, George Ciamba.