As linhas virtuais do fora-de-jogo
Do jogo Moreirense-Benfica, destacam-se algumas decisões difíceis e no limite, quer por parte do árbitro, de acordo com as indicações dos seus assistentes, quer posteriormente por parte do videoárbitro (VAR), no que aos “foras-de-jogo” diz respeito, entre golos validados e anulados. Por isso escolhi, para tema de hoje, exactamente a lei 11 (Fora-de-Jogo) bem como algumas considerações gerais em torno das transmissões televisivas.
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Do jogo Moreirense-Benfica, destacam-se algumas decisões difíceis e no limite, quer por parte do árbitro, de acordo com as indicações dos seus assistentes, quer posteriormente por parte do videoárbitro (VAR), no que aos “foras-de-jogo” diz respeito, entre golos validados e anulados. Por isso escolhi, para tema de hoje, exactamente a lei 11 (Fora-de-Jogo) bem como algumas considerações gerais em torno das transmissões televisivas.
Comecemos pelo filme do jogo no que diz respeito às incidências ocorridas. Minuto 22, fora-de-jogo assinalado a Arsénio, do Moreirense, numa bola que hoje se discute se foi ao lado ou se entrou na baliza; minuto 30, golo anulado a Jonas por fora-de-jogo de Pizzi; minuto 37, golo validado a João Félix no limite em relação a Ivanildo; minuto 48, golo validado a Rafa no limite em relação a Adalberto.
Começo por dizer que concordo com todas as decisões que foram tomadas em relação aos mesmos, por parte do binómio árbitro/VAR. Um dos lances mais discutidos em termos de comunicação social é o do minuto 22: Biel passa a bola para Arsénio, que mesmo não lhe tocando, e por estar ligeiramente adiantado em relação ao penúltimo adversário, a tenta jogar. E a questão é se isso interfere ou não no jogo, na jogada ou no adversário, que neste caso seria Vlachodimos, o guarda-redes do Benfica.
A lei, que sofreu ao nível do texto alterações significativas no que aos lances desta natureza diz respeito (quando um jogador, não tocando fisicamente na bola, deve ou não ser penalizado), é muito taxativa e esclarecedora. Assim sendo, lê-se na página 97, das Leis de Jogo, que um jogador na posição de fora-de-jogo no momento em que a bola é jogada por um colega de equipa só deve ser penalizado se tomar parte activa no jogo. Se, entre outras situações, interferir com o adversário, nomeadamente disputando a bola com ele, tentando claramente jogar a bola que se encontra perto quando esta acção tiver impacto no rival.
Na minha opinião, foi isso que aconteceu. Arsénio correu para a bola, tentou jogá-la e isso teve impacto em Vlachodimos. Nesse sentido, o fora-de-jogo é bem assinalado, e, sendo assim, torna-se pouco relevante perceber se posteriormente a bola foi ao lado ou se entrou na baliza, porque em ambas as situações tem de se penalizar a acção anterior de fora-de-jogo.
Em relação a este e aos outros lances, aquilo que mais se destaca, é a grande dificuldade em ter a certeza se há ou não fora-de-jogo, porque nenhuma das câmaras colocadas no estádio nos dá essa garantia, e isto tem a ver com questões de natureza técnica, porque em alguns dos recintos não é possível dispor as câmaras com altura suficiente para nos darem a perspectiva ideal. Mais: temos lances sobre os quais, ao nível do fora-de-jogo, dispomos de imagens na diagonal, mas isso não tem a ver com quem opera e transmite o jogo, mas sim com as condições do estádio, que impossibilitam a colocação das linhas de fora-de-jogo.
Outra limitação técnica é que, mesmo nos jogos em que é possível colocar a tecnologia da linha de fora-de-jogo, só é possível passar essa linha ao nível dos pés dos jogadores. Ou seja, os técnicos dessa empresa sabem que o fora-de-jogo não se avalia ao nível dos pés, mas sim da parte do corpo (pés, corpo, cabeça) que está mais perto da linha de baliza adversária, mas tecnicamente isso não é possível, pois não conseguem traçar uma linha “suspensa”. Daí ser ao nível dos pés que o fazem - e depois cada um deve verificar a tal parte do corpo que está mais para a frente.
A este respeito, não há nenhuma tecnologia perfeita e sem margem de erro, razão pela qual a FIFA ainda não avançou para a certificação universal do VAR de forma definitiva. Mas é de uma desigualdade completa que o público receba em casa, por via das transmissões televisivas, os foras-de-jogo com as linhas virtuais e o VAR não tenha acesso a tal; e que, no caso português, estando situado na Cidade do Futebol, ainda tenha de analisar, como foi o caso desta partida, os lances no limite e sem uma câmara no seu enfiamento, ou seja, com imagens na diagonal.
Depois, como é público, nestas situações-limite acaba por não intervir, fruto do protocolo, que estipula que só o pode fazer em caso de erro claro e óbvio. Seria importante que a FPF pudesse, uma vez mais, dar um passo em frente e resolver esta situação, dando desta forma uma ajuda ao VAR para efeitos futuros no que ao fora-de-jogo diz respeito. Se há alguém que o pode fazer, é a federação, que tem sido pioneira no que às tecnologias diz respeito e no contributo positivo que tem dado à arbitragem.