O povo que regressou a casa
A Crimeia é o seu povo e eles decidiram voltar à casa, à Rússia. Respeitemos, então, esta sua decisão.
“A Crimeia é uma Ordem no peito do planeta Terra!” Esta frase, exclamada pelo grande poeta, diplomata e político chileno Pablo Neruda após ter conhecido a península, carateriza muito emblematicamente as emoções daqueles que têm a oportunidade de visitar esta região russa.
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“A Crimeia é uma Ordem no peito do planeta Terra!” Esta frase, exclamada pelo grande poeta, diplomata e político chileno Pablo Neruda após ter conhecido a península, carateriza muito emblematicamente as emoções daqueles que têm a oportunidade de visitar esta região russa.
Na verdade, há muito poucos tais lugares no mundo que sejam tão atraentes e ricos pela sua beleza natural, potencial de recreação, arquitetura e cultura. Para gerações de escritores, poetas, pintores russos – inclusive os grandes Pushkin, Tolstoy, Tchtekhov, Bunin ou o marinhista Ayvazovskiy, entre muitos outros –, a península era uma fonte de inspiração. O antigo palácio de Bakhchisaray, único no género, a fortaleza genovesa na cidade de Sudak, o palácio Ninho de Andorinha, no estilo neogótico, são apenas alguns dos mundialmente conhecidos lugares de interesse na Crimeia.
A 18 de março completam-se cinco anos desde a sua reunificação com o nosso país, conforme foi decidido por mais de 95% dos participantes do referendo na península, com a afluência de 83%. A leitora do PÚBLICO Olga Olegovna nota a este respeito, num comentário na versão digital do jornal a 23 de fevereiro passado: “Eu sou da Crimeia, onde está a toda minha família. [...] Vi eu que o povo estava muito contente e feliz para voltar à casa que a Rússia sempre foi para a Crimeia”. O leitor Jonas Almeida acrescenta: “Subscrevo. Dos livros como de conversas com colegas e alunos, ucranianos e russos, não ouço outra história se não que a Crimeia é russa, e antes disso tártara, mas nunca ucraniana, que sempre foram uma pequena minoria. [...] A tentativa da Ucrânia de proibir o ensino do russo entornou o caldo e envenenou as águas irreversivelmente – a Crimeia seria hoje palco de uma guerra civil violenta...”.
A história da sua permanência na Rússia tem raízes nos séculos remotos. É ainda em 1783 que a Crimeia se tornou parte da Rússia, segundo a ordem da imperatriz Catarina II. A propósito, é esta mesma grande governante russa que pode ser conhecida ao público português pela sua sábia decisão de estabelecer as relações diplomáticas com Portugal, dando-nos a oportunidade de celebrar o seu 240.º jubileu em 2019.
Apesar da campanha do atual regime de Kiev, das provocações e tentativas de sufocar a região energética e economicamente, a Crimeia russa continua a desenvolver-se e a prosperar, recuperando-se das doenças deixadas pelo legado ucraniano. Eis alguns exemplos: salários no setor público duplicaram em comparação com o ano de 2013; está a ser levado a cabo, desde 2015, o programa federal visando o desenvolvimento social e económico da República, com um orçamento acima de 13 mil milhões de euros; desenvolve-se, com dinâmica alta, a infraestrutura da República – vale a pena mencionar, em particular, a maior ponte na Europa que é a Ponte da Crimeia, cujo componente rodoviário foi inaugurado em 2018.
Atualmente, a República da Crimeia, como parte integrante da Federação da Rússia, empenha-se no estabelecimento de cooperação intermunicipal com parceiros na Europa, mesmo que a União Europeia tenha uma posição contrária. E este trabalho traz resultados concretos proeminentes. A partir de 2014, foram concluídos acordos de cooperação das cidades da Crimeia com uma série de municípios europeus, inclusive na Itália, Grécia, França (se não falarmos daqueles que ficam fora da região, na África ou no Médio Oriente). Entre os parceiros económicos internacionais, fora da zona da ex-URSS, a Crimeia mantem laços comerciais com a Turquia (11% das trocas de mercadorias), Itália (9%), Índia e China (4% cada).
Tornam-se uma coisa habitual e quotidiana visitas de parlamentares europeus e eurodeputados à Crimeia russa. São checos, alemães, italianos, franceses... Contatados pela imprensa, explicam abertamente que a motivação deles é a de perceber a verdade sobre a Crimeia e avaliar a situação na península com os seus próprios olhos, tendo pouca confiança na informação falsa sobre a região propagada no Ocidente.
É de agradar que não se pode esconder a verdade. Para mim, enquanto embaixador russo em Portugal, é muito importante que o público português também saiba distinguir mentiras da verdade. Basta ler os comentários aos recentes artigos publicados pelos representantes de Kiev (Observador.pt, a 28 de fevereiro, PÚBLICO, a 20 de fevereiro), em que eles, pela enésima vez, tentam desesperadamente criar uma falsa alternativa à realidade, um mito político, uma pós-verdade fundada na propaganda antirussa. Até o próprio jornalista José Milhazes, bem conhecido pela sua posição dura e crítica em relação ao Kremlin, nota (e bem nota): “Uma opinião [no artigo mencionado no Observador] onde se deforma a história e escrita com vista a salvar o atual regime corrupto nas próximas eleições de março [as presidenciais na Ucrânia].”
A mentira é sempre uma mentira, em geral e em pormenores, até à última gota. Quando Kiev grita sobre a “anexação” da península em resultado da dita “intervenção” dos militares russos, omite o facto jurídico que, até durante a permanência temporária da Crimeia na Ucrânia de 1991 a 2013, as forças navais e militares russas sempre estavam legalmente presentes na região, como era previsto pelo respetivo acordo interestatal Rússia-Ucrânia sobre as condições de deslocação da Marinha russa do Mar Negro no território da Crimeia.
Agora, e por último, o mais importante. A Crimeia não é uma região. Não é terra, península, plataforma estratégica, lugar qualquer... A Crimeia é o seu povo, as pessoas de várias nacionalidades e culturas, com as suas vidas, aspirações, sonhos e necessidades, com a sua grandeza, história e nobreza. São as pessoas que, há cinco anos, realizaram o seu direito legítimo, consagrado no direito internacional, de determinar, livre e democraticamente, o seu próprio destino.
E eles decidiram voltar à casa, à Rússia.
Respeitemos, então, esta sua decisão.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico