Bolsonaro e Trump juntos: agora é que a América vai ser “great” como nunca

Os dois mais carismáticos políticos da nova vaga de direita do continente americano vão reunir-se em Washington. Será o princípio de uma bela amizade e uma mudança profunda das posições do Brasil?

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Jair Bolsonaro vai ter um encontro com influentes figuras da direita Ueslei Marcelino/REUTERS

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, visita Donald Trump na Casa Branca esta segunda-feira – é o encontro de sonho para a direita radical brasileira, que vê em Washington o seu modelo inspirador e o novo aliado estratégico, invertendo décadas de posicionamento diplomático de Brasília, que sempre estimou muito a sua independência em relação ao grande vizinho do Norte.

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O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, visita Donald Trump na Casa Branca esta segunda-feira – é o encontro de sonho para a direita radical brasileira, que vê em Washington o seu modelo inspirador e o novo aliado estratégico, invertendo décadas de posicionamento diplomático de Brasília, que sempre estimou muito a sua independência em relação ao grande vizinho do Norte.

Com esta visita, o Brasil deve passar a ter o estatuto de “aliado preferencial” dos Estados Unidos enquanto país fora da NATO, tal como 17 outros países, entre os quais Israel, Austrália, Coreia do Sul, ou Japão, diz a correspondente da televisão Globo News em Washington, Raquel Krähenbühl.

Os dois países devem também assinar um acordo de cooperação que permitirá aos EUA lançar satélites, foguetões e mísseis a partir da base de Alcântara, no estado do Maranhão – um tema que não é inédito, mas que desperta algum desconforto nacionalista. Em 2000, o então Presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, assinou um acordo nesse sentido com Washington, mas o Congresso rejeitou-o.

Agora, Bolsonaro, sempre disposto a rentabilizar os recursos do Brasil, quer pô-lo em prática. “Estamos a perder dinheiro naquela região há muito tempo. Poderíamos estar lançando satélites do mundo todo ali [em Alcântara]”, afirmou.

A questão venezuelana deverá ser outro prato forte no menu dos dois líderes – fortes apoiantes de Juan Guaidó, o presidente da Assembleia Nacional que accionou um artigo da Constituição para se declarar Presidente interino –, que têm marcado um almoço na terça-feira. Os militares brasileiros opõem-se a uma intervenção militar na Venezuela – a ideia foi claramente posta de lado pelo vice-presidente, o general na reserva Hamilton Mourão.

Na comitiva de Bolsonaro, que chega a Washington ainda neste domingo, vai também Steve Bannon, ex-conselheiro estratégico do Presidente Trump, e que se tornou próximo de Eduardo Bolsonaro, o filho mais novo do Presidente brasileiro. Mas Bannon não é hoje bem-vindo na Casa Branca, pelo que a sua inclusão na comitiva fez disparar sinais de alarme, diz o jornal Folha de São Paulo.

O encontro de chefes de Estado alinhados à direita radical servirá de concretização da agenda do ministro dos Negócios Estrangeiros Ernesto Araújo, um trumpista sem disfarces, que deu ordem passar a incluir no serviço de recortes do Itamaraty (a sede do seu ministério) notícias do Breitbart, o site de extrema-direita que promove Trump, e que foi dirigido por Steve Bannon. Aliás, o primeiro ponto na agenda do Presidente Bolsonaro em Washington é um jantar na casa do embaixador brasileiro com figuras ligadas à alt-right norte-americana, diz o jornal Folha de São de São Paulo.

O actual embaixador, Sérgio Amaral, deve estar no entanto de saída, e o seu substituto pode ser anunciado durante a visita de Bolsonaro, diz o mesmo jornal. As apostas dividem-se entre Nestor Forster, um diplomata amigo do guru ideológico do Governo, Olavo de Carvalho, e defendido pelo ministro, e o advogado Murillo de Aragão, próximo dos militares que rodeiam o Presidente brasileiro.

Entre as ambições brasileiras que não devem ser satisfeitas por Washington está o desejo de entrar para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), por vezes chamado o “clube dos ricos”, ou pelo menos dos países remediados (e ricos, certamente). Desde 2017 que Brasília pretende entrar nesta organização, por considerar que isso daria mais confiança aos investidores internacionais – daí que o ministro da Economia e Finanças, Paulo Guedes, que também vai nesta viagem, seja um dos maiores defensores da ideia. Mas a expansão da OCDE tem fortes opositores no seio da Administração norte-americana, diz a Folha.

Por outro lado, o Partido Democrata preparou uma recepção pouco simpática ao Presidente brasileiro: congressistas democratas divulgarão esta segunda-feira uma carta com críticas a Bolsonaro, em que fazem referência a ligações da família do Presidente às milícias (organizações criminosas) do Rio de Janeiro e a posições de Jair Bolsonaro ofensivas para mulheres e minorias étnicas.