A defesa dos direitos humanos chegou à passerelle do Portugal Fashion

O segundo dia do Portugal Fashion teve casa cheia. Os direitos humanos, a mulher e a sustentabilidade desfilaram na passerelle.

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A defesa dos direitos humanos e igualdade de género, a luta contra as desigualdades entre homens e mulheres no trabalho e a fragilidade humana tomaram conta da tarde do segundo dia da 44.ª edição do Portugal Fashion, que termina amanhã, na Alfândega do Porto. A noite já foi no formato normal de desfile com uma enchente para conhecer as criações de Diogo Miranda, Luís Buchinho e Miguel Vieira. 

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A defesa dos direitos humanos e igualdade de género, a luta contra as desigualdades entre homens e mulheres no trabalho e a fragilidade humana tomaram conta da tarde do segundo dia da 44.ª edição do Portugal Fashion, que termina amanhã, na Alfândega do Porto. A noite já foi no formato normal de desfile com uma enchente para conhecer as criações de Diogo Miranda, Luís Buchinho e Miguel Vieira. 

A tarde começou solarenga lá fora, mas dentro de portas era de roupa de Outono/Inverno que se tratava, com as performances de alguns designers a alertarem para vários temas.

Inês Torcato foi uma das primeiras a chamar a atenção para os direitos humanos e igualdade de género com os 26 coordenados, a maioria unissexo e alguns feitos de vinil. Desta vez, a designer “arriscou” nas cores dos coordenados e optou por uma performance com uma pequena actuação do músico brasileiro Jaloo.

“Convidei o Jaloo a participar no desfile, porque ele personifica isso no trabalho dele, o ser mais andrógino, mesmo as causas que ele defende”, elucida Inês Torcato, entre o o frenesim dos bastidores.

Começa uma nova performance de moda. O silêncio toma conta do espaço, apenas interrompido pelo burburinho do público. Não há música e os modelos desfilam em zig-zag pela passerelle, cada um deles a ouvir a sua própria música numa chamada de atenção ao individualismo que a sociedade está a viver. É esta é a forma do ex-bloomer Estelita Mendonça chamar a atenção para a fragilidade humana com 15 coordenados unissexo. “Partimos sempre da ideia de reutilizar materiais, de lhes dar uma nova vida”, diz. “A ideia aqui é brincar um bocadinho com a fragilidade humana. Por isso, fui buscar o plástico bolha para as peças”, explica depois da performance

Pela segunda vez consecutiva no Portugal Fashion, esteve Sophia Kah, a marca de alta-costura feminina de Ana Teixeira de Sousa, que já vestiu Beyoncé, Keira Knightley, Nelly Furtado e Florence Welch. Levou à passerelle a colecção “Tiger Souls”, que apresentou recentemente na London Fashion Week. “A colecção é feita para uma mulher desmentida, autoconfiante, sofisticada, que tem carreira e que se quer empoderar”, descreve nos bastidores do Portugal Fashion, rodeada dos 28 coordenados que horas depois iria apresentar. O rosa forte impera nesta colecção. “Quis alertar para as desigualdades entre os salários e as carreiras profissionais entre mulher e homem”, conclui a designer enquanto dá as últimas indicações à equipa e modelos.

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No final do desfile de Sofia Kah Ugo Camera

Também Katty Xiomara homenageou a mulher na passerelle com a coleção “Maria Mimosa” que apresentou, recentemente, em Milão, mas à qual acrescentou mais 11 coordenados novos. Esta colecção resulta do convite que a designer de moda teve Sanrio para criar uma colecção comemorativa dos 45 anos da Hello Kitty. A mesma idade de Katty Xiomara, que criou formas femininas com cores fortes e brilhos e texturas. “Nasci na Venezuela e cresci numa família rodeada de mulheres”, conta a designer, que exibiu uma curta película durante o desfile com depoimentos de diferentes mulheres de diferentes gerações, desde políticas, artistas a cantoras. 

“A ideia não foi fazer activismo no sentido negativo. Pedi-lhes depoimentos, que falassem sobre a diferença entre ser mulher há mais de 45 anos e hoje, e o que se pode ou não mudar”, elucida. A autora da colecção “Maria Mimosa” alertou ainda para a durabilidade e intemporalidade das peças de vestuário como, por exemplo, a capa com 100% de reaproveitamento do tecido que pode ser vestida em mais de três formas diferentes.

As preocupações ambientais continuam a ser o mote das colecções, por exemplo com Pé de Chumbo que incluiu casacos com fios reaproveitados e também pela utilização de poliéster reciclado do plástico dos oceanos. Ou, no caso da TM TERESAMARTINS, que utilizou tecidos naturais e técnicas de confecção tradicionais.

Noite de enchente na Alfândega do Porto

A noite trouxe novamente o Inverno para dentro de portas da Alfândega do Porto, e com preocupações de peças intemporais e com durabilidade. Não passou muito tempo desde que Diogo Miranda e Luís Buchinho apresentaram as criações em Paris. Diogo Miranda inspirou-se na personagem de Catherine Deneuve no filme “Indochina” para exibir 30 coordenados com motivos náuticos, como riscas, usados de forma feminina e com um visual clássico. Casacos náuticos, calças de marinheiro em contraste com saias plissadas. E com uma paleta de cores “mais fechada — branco, bege, preto e azul —, [com cores que] que acabam por ser intemporais. Diogo Miranda deixou um apelo para que os portugueses “comprem roupa nacional”.

Luís Buchinho inspirou-se no “imaginário das aviadoras dos anos 1940, das mulheres pioneiras da aviação”. O designer de moda apresentou 40 coordenados feitos de feltro, lã, malha, cabedal em preto, cinza e azul-marinho, pontuados com cores mais fortes como o azulão, vermelho e amarelo torrado, e com uma vertente gráfica muito forte.

Miguel Vieira fechou o segundo dia do Portugal Fashion com a colecção “Um inverno em África” que levou, em Janeiro, ao Milano Moda Uomo. “Foi inspirada no Inverno, em África, com um nascer e pôr-de-sol maravilhosos, onde tenho feito vários desfiles”, conta o criador. Ao Portugal Fashion Miguel Vieira levou 50 coordenados feitos de materiais italianos de “grande eleição”, com estampados e nas tonalidades bege bronze, laranja ocre, amarelo caril, azul celeste, castanho tabaco e azul-marinho. “As colecções que faço são para ser usadas durante anos e intemporais”, diz o criador, enquanto explica que a marca é “a única em Portugal com as peças numeradas, com um holograma”. Por fim, conclui: “Temos um preocupação social, porque não compramos materiais que poluam rios e não trabalhamos com fabricas que tenham crianças”.