Métodos de ensino nas universidades “precisam de reorientação”
Ritmos de mudança da sociedade e da produção científico obrigam a repensar educação superior, reconhecem reitores na Convenção do Ensino Superior.
As instituições de ensino superior precisam de rever os seus métodos de ensino e a forma como estes se articulam com a investigação científica, defenderam esta sexta-feira os reitores das universidades públicas, na segunda sessão da Convenção do Ensino Superior, que decorreu em Aveiro. Para fazê-lo, “têm todos os meios necessários” o seu dispor, ainda que o sector necessite de alterações legislativas.
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As instituições de ensino superior precisam de rever os seus métodos de ensino e a forma como estes se articulam com a investigação científica, defenderam esta sexta-feira os reitores das universidades públicas, na segunda sessão da Convenção do Ensino Superior, que decorreu em Aveiro. Para fazê-lo, “têm todos os meios necessários” o seu dispor, ainda que o sector necessite de alterações legislativas.
“O ritmo de mudança da sociedade e de produção de conhecimento são elevados”, sustentou o reitor da Universidade de Aveiro, Paulo Jorge Ferreira, que apresentou as conclusões do dia de debate. Essa realidade tem levado as instituições de ensino superior “a concluir que os métodos, os conteúdos, precisam de reorientação”, apontou também.
Para fazê-lo “têm todos os meios necessários para os fazer” sem necessitar de intervenção externa, defendeu ainda Paulo Jorge Ferreira. No entanto, há alterações legislativas que têm que ser feitas, até porque o Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (RJIES) tem 12 anos e não voltou a ser revisto. “A realidade da sociedade mudou bastante” durante esse tempo, sublinha o reitor da universidade de Aveiro defendendo, aliás, que numa altura em que a sociedade está a mudar cada vez mais depressa, será necessário que os ciclos de revisão das leis e regulamentos do sector do ensino superior e ciência “se encurtem também”.
Os vários intervenientes concordam ainda que será benéfico para o sistema de ensino superior e para os alunos que haja uma maior proximidade entre os cientistas e as salas de aula. “Investigadores que trabalham no limite do conhecimento são muito mais capazes de o transmitir aos estudantes”, sistematizou o presidente do Instituto Politécnico do Porto (IPP), João Rocha.
A relação entre os sistemas de ensino superior e científico foi identificada logo na abertura da sessão da Convenção do Ensino Superior pelo investigador do Centro de Estudos de Políticas do Ensino Superior Pedro Teixeira como “a questão central para os próximos 10 a 15 anos”. O modelo foi pensado, há duas décadas, como uma “realidade dual”, em que ensino e investigação “comunicam”. “Mas estão muito mais afastados do que na realidade precisavam”. “O grande salto que demos nos últimos 20 anos foi a nível científico. O próximo tem que ser do ponto de vista pedagógico e da realidade do ensino”, afirma aquele especialista.
A sessão desta sexta-feira ficou também marcada por uma manifestação silenciosa de um grupo de investigadores, que fizeram sentar um manequim branco no auditório da Universidade de Aveiro ao longo dos vários debates, num protesto simbólico sobre a precariedade na Ciência.
O tema da precariedade foi também discutido no painel em que estiveram presentes os representantes dos partidos políticos, em que o deputado do Bloco de Esquerda José Gusmão avisou que é necessária “uma compreensão mais profunda sobre os danos que a precariedade provoca na capacidade de as instituições em Portugal captarem os melhores”.
Maria Manuel Leitão Marques, ex-ministra da Presidência e da Modernização Administrativa e candidata ao Parlamento Europeu nas próximas eleições, que foi a representante do partido do Governo na sessão, reconheceu que há “muitos casos de precariedade e acesso ao emprego científico para resolver”, mas valorizou que esses exemplos são “menos do que os que tínhamos quando este Governo assumiu funções”.