No Algarve rochoso, há risco elevado de derrocada em 30% das praias

Agência Portuguesa do Ambiente procedeu a 16 derrocadas controladas após a tragédia da praia Maria Luísa.

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Virgilio Rodrigues

A seguir à tragédia da praia Maria Luísa, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) procedeu a 16 derrocadas controladas e reforçou a sinalização para evitar que se repetissem ocorrências semelhantes. Passados cerca dois meses, sem aviso prévio, na praia de Santa Eulália, contígua à Maria Luísa, desabou um rochedo com dez metros de altura e cinco de largura. As arribas e grutas do litoral do barlavento algarvio, dizem os técnicos, são frágeis, por natureza, e não há maneira de as segurar. Mais tarde ou mais cedo estão condenadas a desabar.

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A seguir à tragédia da praia Maria Luísa, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) procedeu a 16 derrocadas controladas e reforçou a sinalização para evitar que se repetissem ocorrências semelhantes. Passados cerca dois meses, sem aviso prévio, na praia de Santa Eulália, contígua à Maria Luísa, desabou um rochedo com dez metros de altura e cinco de largura. As arribas e grutas do litoral do barlavento algarvio, dizem os técnicos, são frágeis, por natureza, e não há maneira de as segurar. Mais tarde ou mais cedo estão condenadas a desabar.

O então director da APA, Sebastião Teixeira, num relatório apresentado em Setembro de 2009, diz que a “imprevisibilidade e carácter instantâneo” do desmoronamento tem características “muito idênticas aos perigos associados aos sismos”. Podem ser tomadas medidas preventivas, mas não se consegue prever o colapso. A título de exemplo, refere uma derrocada na praia do Canavial (Lagos) em Junho de 1997, que só por sorte não causou mortes. Tudo começou com uns pequenos blocos a deslizarem de uma arriba com 40 metros de altura. As três dezenas de pessoas que estavam a jantar saíram do restaurante, aos primeiros sinais de alarme. A seguir, deu-se um movimento de massas com 30 toneladas, e o estabelecimento desapareceu.

A praia Maria Luísa, encontra-se catalogada com vulnerabilidade “elevada” e “muito elevada”. A radiografia é feita por Óscar Ferreira e Alveirinho Dias, investigadores da Universidade do Algarve, numa “nota pública”, divulgada a seguir à tragédia, em 2009. Quando a maré sobe, os banhistas aconchegam-se junto às rochas e os sinais de “queda de blocos” são ignorados. Ao PÚBLICO, a APA informou que a Administração da Região Hidrográfica (ARH) “não levantou qualquer auto sobre a permanência em zonas sinalizadas como zonas de risco”, pela simples razão de que “não existem zonas interditas no litoral algarvio”

Óscar Ferreira e Alveirinho Dias defendem que o Estado “não pode eliminar (ou, pelo menos, minimizar fortemente) todos os riscos, sem coarctar de forma perigosa e quiçá inaceitável as liberdades individuais”. Os alertas para as situações de “perigo”, sublinham, devem fazer parte do conjunto de informação a dar aos cidadãos, para que sejam “responsáveis” pelos seus actos.

“Não é credível nem aceitável que a solução passe pela interdição sistemática de praias”, já que na região, enfatizam: “30 por cento das praias do Algarve rochoso [aquele mostrado nos cartazes turísticos] possuem vulnerabilidade muito elevada”. Porém, deixam alguns alertas que podem interferir na segurança das escarpas: “construção no topo das arribas e o trânsito de veículos [que transmitem vibrações]”, destacam. Na praia Maria Luísa, pode-se observar um quadro bem diferente daquele que os académicos preconizam. Mesmo por cima da escarpa que ruiu, estão construídas seis vivendas, com relvados que se prolongam até quase à crista da arriba.