O “grande debate” de Macron foi bom, mas o Presidente pôs o dedo na balança
Para tentar ultrapassar a crise dos "coletes amarelos", o Presidente francês lançou uma iniciativa para ouvir os cidadãos. Que foi também uma forma de campanha eleitoral.
O “grande debate” a nível nacional com que Emmanuel Macron pretendeu dar resposta ao desafio dos Coletes Amarelos nas ruas de França está a chegar ao fim – após mais de dez mil reuniões em municípios em todo o país, normalmente conduzidas pelo presidente da câmara, desde 15 de Janeiro. Por vezes, o próprio Presidente, ou um dos ministros do seu governo foi o animador do debate – algo que os cinco investigadores encarregues de zelar pela imparcialidade do processo classificam como “interferências” governamentais, logo indesejáveis.
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O “grande debate” a nível nacional com que Emmanuel Macron pretendeu dar resposta ao desafio dos Coletes Amarelos nas ruas de França está a chegar ao fim – após mais de dez mil reuniões em municípios em todo o país, normalmente conduzidas pelo presidente da câmara, desde 15 de Janeiro. Por vezes, o próprio Presidente, ou um dos ministros do seu governo foi o animador do debate – algo que os cinco investigadores encarregues de zelar pela imparcialidade do processo classificam como “interferências” governamentais, logo indesejáveis.
Pascal Perrineau, ex-director do Centro de Investigação Política do Instituo Sciences Po e especialista em extrema-direita, é um dos académicos designados como “garantes” da imparcialidade desta grande operação de auscultação dos franceses. “Foi útil ter havido comunicação governamental no início, para fazer entrar os cidadãos no processo”, afirmou, ao apresentar a avaliação do “grande debate” – que é “em grande parte positiva”.
Só que a maneira como a comunicação do Governo e da presidência se foi prolongando nos debates “contribuiu para entravar a mobilização, depois de ter mobilizado”, diz Perrineau. “Introduziu a dúvida nos cidadãos sobre a neutralidade dos debates”, conclui o investigador, citado pelo Le Monde. “Tínhamos avisado que os membros do executivo deviam ter-se retirado do debate. Não fomos escutados”, diz ainda.
Uma sondagem de Fevereiro avisava Macron que os franceses preferiam não o ver tanto: 55% diziam que o Presidente “faz coisas demais” e que “está demasiado presente nos media” (inquérito Odoxa para Franceinfo e Le Figaro). E para 66% dos cidadãos, o Presidente estava a aproveitar o “grande debate” para fazer indevidamente campanha para as eleições europeias de Maio. A sua popularidade teve uma ligeira melhoria.
Ainda assim, o movimento Coletes Amarelos foi perdendo força – no último sábado foram cerca de 28 mil nas ruas em todo o país. E houve de facto um esforço de ouvir os franceses: além de mais de dez mil reuniões ao nível dos municípios, foram recebidas 1,5 milhões de contribuições através da Internet. Todos estes documentos vão digitalizados e analisados e os seus resultados devem ser apresentados em meados de Abril.
Macron deverá decidir o que fazer com estas indicações – que não representam uma sondagem sobre o que pensam os franceses, pois apenas participou quem quis, sublinham Jean-Paul Bailly, presidente do grupo La Poste, operador do serviço de correios em França, e Isabelle Falque-Pierrotin, presidente da Comissão Nacional Informática e Liberdades, outros dois elementos do grupo de especialistas que garante a imparcialidade do “grande debate”.
Esta auscultação popular tem ainda uma última fase, que implica a realização de duas conferências regionais, nesta sexta-feira e sábado, e de novo daqui a uma semana, para abranger as 13 regiões de França continental e também os quatro departamentos de Ultramar. Mas em algumas regiões, os cidadãos cujo nome é sorteado pelo instituto de sondagens Harris Interactive – deveriam ser 70 a 100 em cada conferência – simplesmente não aceitam. Mesmo que sejam oferecidas estadias em hotel e refeições.