Sociedade Iberista critica polémica em volta da primeira viagem de circum-navegação
Associação classifica como “uma vergonha” a gestão do quinto centenário da primeira volta ao mundo realizada por Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano.
A Sociedade Iberista (SI), uma plataforma cidadã criada em 2015 e oficializada em 2018 reunindo membros de Portugal e Espanha, lamenta a polémica em torno da comemoração do quinto centenário da primeira viagem de circum-navegação, iniciada por Fernão de Magalhães em 1519 e concluída por Juan Sebastián Elcano em 1522. “É uma vergonha e não está à altura dos dois países que, em conjunto, conseguiram alcançar grandes feitos”, diz a associação, em comunicado tornado público esta quinta-feira.
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A Sociedade Iberista (SI), uma plataforma cidadã criada em 2015 e oficializada em 2018 reunindo membros de Portugal e Espanha, lamenta a polémica em torno da comemoração do quinto centenário da primeira viagem de circum-navegação, iniciada por Fernão de Magalhães em 1519 e concluída por Juan Sebastián Elcano em 1522. “É uma vergonha e não está à altura dos dois países que, em conjunto, conseguiram alcançar grandes feitos”, diz a associação, em comunicado tornado público esta quinta-feira.
“A informação nesta área é escassa e dá azo a que nacionalistas venham minar uma colaboração supranacional entre Portugal e Espanha”, acrescenta a SI, classificando ainda como “absurda a luta entre os nacionalismos espanhol e português” a pretexto do projecto de Fernão de Magalhães (1480-1521).
Na base desta polémica está o projecto português de lançar a candidatura da Rota de Magalhães a Património da Humanidade, anunciado já em 2017, e as posteriores reacções de meios académicos e políticos em Espanha que acusam Portugal de apropriação indevida de uma empresa que foi financiada pela coroa castelhana e concluída pelo marinheiro basco Juan Sebastián Elcano (1476-1526), após a morte do comandante português nas Filipinas, em 1921, a meio da viagem.
O episódio mais recente desta polémica foi a divulgação, a 10 de Março, em Madrid, do relatório da Academia Real da História (ARH) a considerar como “incontestável a plena e exclusiva autoria espanhola” da primeira volta ao mundo, na sequência do pedido formal feito pelo director do diário conservador ABC para que aquela instituição se pronunciasse sobre o tema.
A Sociedade Iberista recorda que foi o marinheiro português quem, “com o apoio das cartas do [seu escravo e intérprete] Henrique de Malaca, desenvolveu toda a expedição”.
“Juan Sebastián Elcano culminou a viagem, não sem antes sublevar-se contra Magalhães em Monte Cristo, Baía de São Julião, Argentina”, acrescenta o comunicado, lembrando que o marinheiro basco, quando assumiu o comando da expedição após a morte de Magalhães, “teve o cuidado de não fazer escalas em portos portugueses”, que desde o início hostilizaram o empreendimento.
A concluir, a SI realça que “o mérito e o êxito da expedição só podem ser atribuídos aos marinheiros que partiram de Sanlúcar de Barrameda no dia 20 de Setembro de 1519”. E pergunta: “Acaso o mérito das investigações de Severo Ochoa [o bioquímico espanhol naturalizado norte-americano que foi Prémio Nobel da Medicina em 1959] é dos Estados Unidos?”; e de quem é o mérito “nos romances de José Saramago?” “As grandes obras são dos homens e das mulheres que as realizam, não daqueles que as financiam”, responde a sociedade, concluindo que nem “Portugal têm o direito de reclamar a expedição para si”, nem tão pouco a Espanha pode reivindicar “a exclusividade da mesma”.
Na declaração mais recente sobre esta polémica, recorde-se, o ministro português dos Negócios Estrangeiros reafirmou, terça-feira, numa audição perante a Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, na Assembleia da República (AR), que os dois países estão a trabalhar numa candidatura conjunta à UNESCO da Rota Magalhães, mas que o programa que está a ser delineado para a celebração da primeira volta ao mundo irá também envolver um conjunto de 14 países de onde eram originários os membros das tripulações da expedição de Magalhães-Elcano.
Augusto Santos Silva acrescentou que o plano do quinto centenário irá ser apresentado brevemente, mas que cada país terá “o seu próprio programa nacional de comemorações”.
Um programa “inclusivo e multidisciplinar”
Entretanto, também esta quinta-feira, o secretário da Comissão Nacional do Quinto Centenário da primeira volta ao mundo, Camilo Vázquez Bello, reagiu à polémica espoletada em Espanha pelo diário ABC, enumerando o trabalho que aquele órgão vem promovendo desde que foi constituído pelo decreto real de 12 de Junho de 2017.
Camilo Bello lembra que foram já aprovados mais de 200 projectos, que irão constituir um calendário de actividades a decorrer oficialmente entre o próximo mês de Agosto e o final de 2022, altura em que se “cumprem os 500 anos do regresso a Espanha da nau Victoria, com Juan Sebastián Elcano a comandar apenas 17 homens”. Trata-se, descreve, de “um programa de actividades de carácter inclusivo e multidisciplinar, que abarque o maior número possível de manifestações culturais, artísticas e náuticas em honra daquela façanha”, acrescenta o responsável da comissão espanhola.
Depois de realçar que o quinto centenário da expedição de Magalhães-Elcano constitui “uma efeméride internacional” que envolverá os vários países nela implicados, Camilo Bello refere também que ela está a ser organizada em parceria com Portugal. “É justo partilhar o protagonismo desta história com um país ao qual nos unem tantos sentimentos fraternos e uma larguíssima tradição de cooperação”, acrescenta o secretário da Comissão Nacional do Quinto Centenário da Primeira Volta ao Mundo de Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano, sublinhando que se trata de uma comemoração que deve “unir mais do que separar” os dois países.
Notícia actualizada com a posição do secretário espanhol da Comissão Nacional do Quinto Centenário da Primeira Volta ao Mundo de Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano.