Médicos retratam profissionais exaustos, frustados e indignados no hospital de Leiria

A Ordem dos Médicos e o Sindicato Independente dos Médicos foram ouvidos nesta quarta-feira no Parlamento.

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Rui Gaudencio

Médicos exaustos, frustrados, indignados e a trabalhar mais de 50 horas por semana é o retrato da situação vivida na urgência do hospital de Leiria e relatado nesta quarta-feira na comissão parlamentar de Saúde.

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Médicos exaustos, frustrados, indignados e a trabalhar mais de 50 horas por semana é o retrato da situação vivida na urgência do hospital de Leiria e relatado nesta quarta-feira na comissão parlamentar de Saúde.

A Ordem dos Médicos e o Sindicato Independente dos Médicos foram ouvidos nesta quarta-feira no Parlamento onde sublinharam as dificuldades “dramáticas e graves” que se vivem no Hospital de Leiria, sobretudo na urgência.

Miguel Pires, médico internista do hospital de Leiria, deixou também aos deputados um retrato do que se vive diariamente na urgência, começando por indicar que está na iminência de rescindir o contrato e abandonar o hospital.

O médico recusou qualquer alarmismo criado pela ordem, pelo Sindicato ou pelos profissionais do hospital e sublinha que “o que se passa na urgência é muito pior” do que o que tem sido relatado e divulgado na comunicação social.

“Sofremos até já não aguentarmos mais. Os profissionais estão completamente exaustos, com um grande sentimento de frustração e de indignação por não conseguirem atender às necessidades mais básicas dos doentes”, afirmou.

O especialista em medicina interna disse que já assistiu à saída de pelo menos 15 médicos que fizeram a sua formação no hospital de Leiria nos últimos seis anos, profissionais que decidiram que não ficariam a trabalhar na unidade.

“Corremos sérios riscos de ficar sem médicos na urgência”, alertou Miguel Pires.

O médico descreve que muitas vezes estão apenas dois especialistas na urgência e que têm de se desdobrar por idas a outros locais e pisos de internamento.

“Fazemos todos 24 horas de urgência todas as semanas. Acabamos por fazer muito mais do que 40 ou 50 horas de trabalho semanal. Em média, fazemos todos mais de 50 horas por semana de trabalho, com prejuízo para a saúde física e mental”, descreveu aos deputados.

Miguel Pires, que até final deste mês decide se abandona o hospital de Leiria, relata até que há muitos colegas que choram à entrada ou saída do trabalho e que “têm somatizações de ansiedade”.

“Eu apelo a que seja feita alguma coisa. Ou arriscamo-nos a que o hospital de Leiria fique sem especialistas em medicina interna”, sublinhou, indicando que pelo menos a área de influência devia ser diminuída para se reduzir a quantidade de população que recorre àquela urgência.

As declarações de Miguel Pires foram corroboradas pelo representante da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes. Para a Ordem, a urgência do hospital de Leiria tem vivido nas últimas semanas e meses dificuldades “profundas, graves e dramáticas”.

O presidente da secção regional do Centro da Ordem dos Médicos refere que muitos médicos deixaram de aguentar a pressão e a falta de condições, tendo abandonado o hospital.

Esta semana, na sexta-feira, o Parlamento ouve também a ministra da Saúde, Marta Temido, sobre a situação que se vive no hospital de Leiria, que já motivou um pedido de demissão do presidente do conselho de administração, bem como de chefes de serviço de urgência.