Inventor da Web diz que problemas não são culpa de um só governo ou rede social
O cientista britânico que inventou a World Wide Web usou o trigésimo aniversário da sua proposta de um novo sistema de informação para alertar para os problemas que da Internet.
Há 30 anos, Tim-Berners Lee ajudou a criar a World Wide Web. Hoje, num dos aniversários possíveis da sua criação, o engenheiro britânico diz que a “comunidade Web” tem de se unir para impedir a proliferação de ataques de desinformação orquestrados por Estados, linguagem abusiva, informação manipulativa, clickbait e assédio online. Para Berners-Lee “a luta pela Web é uma das causas mais importantes dos nossos tempos.”
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Há 30 anos, Tim-Berners Lee ajudou a criar a World Wide Web. Hoje, num dos aniversários possíveis da sua criação, o engenheiro britânico diz que a “comunidade Web” tem de se unir para impedir a proliferação de ataques de desinformação orquestrados por Estados, linguagem abusiva, informação manipulativa, clickbait e assédio online. Para Berners-Lee “a luta pela Web é uma das causas mais importantes dos nossos tempos.”
“Embora a Web tenha criado oportunidades, dado voz a grupos marginalizados, e facilitado o nosso dia-a-dia, também criou oportunidades para charlatães, deu voz a quem quer espalhar ódio, e facilitou todo o tipo de crimes,” escreve o britânico numa carta aberta para marcar a ocasião. “Se desistirmos de trabalhar para uma Web melhor agora, não é a Web que nos falhou. Nós é que falhámos.”
Foi em Março de 1989 que Tim Berners-Lee apresentou a sua primeira proposta para “um sistema de gestão de informação universal”. Estava a trabalhar no CERN, um laboratório europeu de física, na Suíça. O objectivo era ajudar investigadores a partilharem informação interna – quem desempenha determinadas funções ou que laboratórios estão a trabalhar em que projectos.
Décadas mais tarde, a WWW – um conjunto de páginas, sites e serviços online ligados pela Internet – é usada por cerca de metade da população mundial. Só que gigantes como o Google e o Facebook são acusados de recolher demasiada informação sobre os utilizadores, e de não impedirem informação falsa de circular. Em 2018, descobriu-se, por exemplo, que a Cambridge Analytica, uma empresa de consultoria política, usou o Facebook para aceder a dados de 87 milhões de utilizadores sem autorização, e usou a informação para personalizar várias campanhas. O YouTube e o Twitter espalharam informação falsa sobre sobreviventes de Parkland, um tiroteio numa escola dos EUA.
Em todo o mundo, políticos e governos usam redes de utilizadores – alguns, em formato de programas informáticos – para espalhar mensagens na Internet e silenciar vozes críticas com ataques pessoais. O fenómeno é conhecido como “trolling patriótico”.
Para Berners-Lee não se pode culpar “um só governo, rede social ou espírito humano”. O inventor da Web considera que “narrativas simplistas gastam a nossa energia” e que um dos grandes problemas é “o tom e a qualidade polarizada do discurso online”.
Um contrato para a Web
Uma das propostas do cientista é um “contrato para a Web”. A campanha foi lançada durante a mais recente edição da Web Summit, em Lisboa. O objectivo é levar governos, empresas tecnológicas e cidadãos a estabelecer princípios comuns para o mundo online. Mais de 50 empresas e organizações – incluindo o Facebook, o Google e a Microsoft, mas também os governos de França e da Alemanha – já assinaram o contrato, que será divulgado em Maio deste ano.
Outra proposta é a Solid, uma plataforma em código aberto que permite aos utilizadores monitorizar onde armazenam a informação pessoal que têm online, quem é que a pode ver e quais as aplicações que a ela têm acesso.
“Os governos têm de adaptar as leis e regulações ao mundo digital. E têm de garantir que o mercado se mantenha concorrencial, inovador e aberto”, escreve Berners-Lee. “E as empresas têm de fazer mais para garantir que os seus lucros não surgem à custa dos direitos humanos, da democracia, dos factos científicos ou da segurança pública.”