Greve Climática Estudantil: “Os jovens acordaram” e podem contar com eles
Grupo de estudantes foi recebido pelo ministro do Ambiente. A 15 de Março saem à rua para sublinhar a urgência de actuar contra as alterações climáticas.
São apenas seis, mas representam milhares. E sabem que têm nos ombros a responsabilidade de se fazerem ouvir. O grupo de estudantes que na semana passada, durante a conferência Climate Change Leadership no Porto, pediu ao ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, para ser ouvido, foi recebido nesta terça-feira, 12 de Março, no Ministério do Ambiente em Lisboa. Da conversa com o ministro e com os secretários de Estado da Energia e Educação saíram com uma certeza: não estão satisfeitos, mas continuarão “empenhados, decididos e atentos para lutar por um travão ao aquecimento global”.
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São apenas seis, mas representam milhares. E sabem que têm nos ombros a responsabilidade de se fazerem ouvir. O grupo de estudantes que na semana passada, durante a conferência Climate Change Leadership no Porto, pediu ao ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, para ser ouvido, foi recebido nesta terça-feira, 12 de Março, no Ministério do Ambiente em Lisboa. Da conversa com o ministro e com os secretários de Estado da Energia e Educação saíram com uma certeza: não estão satisfeitos, mas continuarão “empenhados, decididos e atentos para lutar por um travão ao aquecimento global”.
Matilde Alvim, Rita Vasconcelos, Margarida Marques, Duarte Antão, Beatriz Barroso e Carolina Silva fazem parte do movimento Greve Climática Estudantil, que organiza o protesto nacional de 15 de Março para se manifestar contra a inércia do Governo face às alterações climáticas.
À porta do ministério, instalado no número 51 da Rua do Século, em Lisboa, os estudantes com idades entre os 16 e os 20 anos não se mostram intimidados com a conversa que os espera. Vão acertando pontas soltas daquilo que dirão ao ministro, enquanto prestam atenção ao avançar do relógio.
“Não viemos pedir para pôr mais ecopontos nas freguesias”, diz Carolina, 20 anos, aluna de psicologia da Universidade de Coimbra. “Não viemos fazê-los perder tempo”, afirmam em uníssono. O que este grupo de estudantes pretende é que o Governo encare este tema como uma crise.
As suas reivindicações são muito claras. O fim da exploração de combustíveis fósseis em Portugal, a expansão das energias renováveis, dando primazia à solar, são algumas das suas preocupações mais prementes. Mas também pretendem chamar a atenção para casos concretos como os das centrais de Sines e do Pego, que ainda funcionam a carvão. Em suma, querem que o Governo actue “incisivamente e priorize esta urgência”.
E se só existe uma janela de “12 a 15 anos” para agir, argumentam os jovens, porque é que se “estabelecem metas para 2050"? “É uma incoerência”, defendem, e há que “pensar de forma mais urgente”.
Do encontro com os jovens estudantes, o ministro do Ambiente mostrou-se alerta para as preocupações expostas, considerando-as “as mais importantes das causas”. Questionado sobre se o Governo apoia a greve e manifestação desta sexta-feira, João Pedro Matos Fernandes diz que “não vai tão longe”, concordando contudo que se trata de “uma causa muito justa” e que é também ela uma causa do Estado.
O secretário de Estado da Educação, João Costa, instou os alunos portugueses a que, “mais do que na greve, seja na escola, em cada aula ou acto, que consigam aliar a responsabilidade governativa a uma responsabilidade individual”. Afinal de contas, defende o ministro do Ambiente, é nas gerações do presente que “reside a responsabilidade para alterar o cenário negativo das alterações climáticas”.
Adesão “significativa” ou “pontual"?
Para o grupo de estudantes, o protesto da próxima sexta-feira terá “uma adesão significativa”, ainda que o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, Manuel Pereira, antecipe que “não terá a visibilidade nem o impacto que queriam que tivesse”.
A eventual mobilização dos estudantes para o protesto está a ter pouco eco nas escolas. “Talvez em Lisboa e no Porto se possa reflectir um pouco mais, mas no interior do país não vai sentir-se”, acrescenta.
Filinto Lima, que dirige a Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escola Pública, faz uma análise semelhante. A greve dos alunos vai ter um efeito “muito pontual”. “Talvez mais em escolas secundárias, em particular naquelas que tenham associações de estudantes mais activas”, acrescenta. Os agrupamentos dirigidos por Pereira e por Lima têm alunos apenas até ao 9.º ano. Não está prevista greve em nenhuma delas. Ambos os dirigentes desconhecem, de resto, que haja escolas a alterar rotinas (marcação de testes, por exemplo) por causa do protesto.
“Independentemente de ter muita ou pouca adesão, esta é uma atitude positiva por parte dos alunos”, elogia, ainda assim, Filinto Lima, admitindo que “no meio de outras preocupações” os adultos nem sempre olham para os problemas ambientais “que são essenciais”. “É um bom sinal, também para as escolas, que os alunos estejam a acordar para esta realidade”, diz, por seu turno, Manuel Pereira.
O protesto dos estudantes face às alterações climáticas não chegou ao conhecimento da Confederação Nacional das Federações de Associações de Pais e Encarregados de Educação (Confap), disse ao PÚBLICO o seu presidente, Jorge Ascensão.
Apesar destas previsões, os jovens adiantam que não vão parar por aqui e que futuramente pretendem “tratar as coisas a nível regional”. “Temos grupos em Coimbra, Lisboa e Faro”, explicam, e cada uma dessas regiões “têm os seus problemas que precisam de ser resolvidos”, concluem. Será assim, a focarem-se nas pequenas mudanças das localidades onde estão presentes, que poderão fazer “mudar muita coisa”. O foco é ser um movimento descentralizado. “Os jovens acordaram”, garantem. Podem contar com eles.