Europa não pode ignorar “intenções malévolas” de Obiang, diz oposição

“Não queremos a morte de Obiang, mas sim uma transição política para a democracia facilitada pelo próprio Obiang”, diz partido de oposição em resposta à acusação de estar a conspirar para matar o ditador.

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Teodoro Obiang está no poder há 40 anos TIAGO PETINGA/LUSA

A Convergência para a Democracia Social (CPDS), um partido da oposição da Guiné Equatorial, escreveu um comunicado urgente a pedir ao mundo que “permaneça atento” às “intenções malévolas do regime” do Presidente Teodoro Obiang Nguema em relação ao seu líder.

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A Convergência para a Democracia Social (CPDS), um partido da oposição da Guiné Equatorial, escreveu um comunicado urgente a pedir ao mundo que “permaneça atento” às “intenções malévolas do regime” do Presidente Teodoro Obiang Nguema em relação ao seu líder.

Andrés Esono Ondo, secretário-geral da CPDS, sociólogo e antigo professor universitário, foi acusado pelas autoridades — indirectamente — de estar a conspirar para matar Obiang, no poder há 40 anos e considerado por ONG e especialistas em política africana como um dos mais violentos ditadores de África.

“Não queremos a morte de Obiang, mas sim uma transição política para a democracia facilitada pelo próprio Obiang”, lê-se no texto, divulgado na segunda-feira à noite em Malabo, a capital guiné-equatoriana. “Tudo o que o regime faz é uma cortina de fumo para esconder a divisão entre os seus seguidores.”

A União Europeia, a União Africana e os EUA não devem acreditar “nas montagens grosseiras do regime”, cujo objectivo é “eliminar da política nacional” dois líderes da oposição — Andrés Esono Ondo e Guillermo Nguema Ela, coordeador da Força Democrática Republicana (FDR) e antigo ministro de Obiang — e “desviar a atenção da encarniçada luta pelo poder no regime”.

O comunicado foi divulgado horas depois de Joaquín Eló Ayeto, um militante da CPDS, preso há duas semanas de forma arbitrária, ter sido levado a tribunal e testemunhado, perante o juiz, que foi torturado no Comissariado Central da Polícia da capital e também na prisão Black Beach por membros da segurança do Presidente Obiang.

Segundo o comunicado da CPDS, Ayeto relatou ter sido submetido a “torturas físicas e ameaças de morte” com a intenção de o forçarem a dizer que sabia de um plano para assassinar o ditador que estaria a ser montado por Esono Ondó e Nguema Ela. Os seguranças do Presidente Obiang, relatou o detido, queriam saber com que frequência os dois líderes da oposição se encontram, se alguma vez ele tinha estado em casa de Nguema Ela e se poderia conduzir os agentes a essa casa.

Joaquín Eló Ayeto — um informático de 39 anos que é um dos mais incómodos opositores do regime — respondeu que não conhecia nenhum plano e que o líder da FDR vai com frequência à sede da CPDS, “parte das relações entre partidos da oposição, tendo em conta, até, que a FDR participou da V Mesa de Diálogo, em 2004”.

Perante a insistência para que confirmasse a existência de um plano para matar o Presidente, os seguranças de Obiang — relatou Ayeto no tribunal — telefonaram a uma mulher, sua colega num curso que frequenta na Universidade Nacional da Guiné Equatorial. Esta disse, com o telefone em alta voz, que contara à polícia que Ayeto “criticava muito o regime de Obiang e que tinha criticado até a doação de três milhões de euros que Obiang acaba de fazer à igreja para as obras da Catedral de Malabo”. Mas a “rapariga acabou terminou dizendo que era a única coisa que tinha contado à polícia”, diz a nota do partido da oposição.

Contactada pelo PÚBLICO, a embaixada da Guiné Equatorial em Lisboa não quis comentar o caso e o Governo português não respondeu sobre o que vai fazer perante as denúncias de tortura num Estado-membro da CPLP.