Saudita defensora do direito das mulheres a conduzir começa a ser julgada
Segundo a Amnistia Internacional, Loujain al-Hathloul, presa sob suspeita de "traição", foi torturada na prisão. Não teve direito a advogado nem sabe de que crimes é acusada.
Uma das mais conhecidas entre a dezena de sauditas detidas desde o ano passado, Loujain al-Hathloul, começa a ser julgada esta quarta-feira no tribunal de Riad especializado em casos de terrorismo, confirmou a família da activista de 29 anos.
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Uma das mais conhecidas entre a dezena de sauditas detidas desde o ano passado, Loujain al-Hathloul, começa a ser julgada esta quarta-feira no tribunal de Riad especializado em casos de terrorismo, confirmou a família da activista de 29 anos.
O Ministério Público Saudita anunciou no início do mês que tinha completado as investigações contra vários activistas, a maioria detidos desde Maio de 2018, e disse que todos serão julgados.
Segundo o irmão de Hathloul, Walid, a saudita não conhece os crimes de que é acusada nem teve direito a um advogado. Sabe-se apenas que foi detida por suspeitas de “ameaçar a segurança nacional e oferecer apoio a elementos hostis”. A imprensa saudita tem descrito estes activistas como “traidores” e o tribunal onde Hathloul vai ser julgado é especializado em terrorismo.
Organizações como a Amnistia Internacional dizem que Hathloul foi torturada e alvo de assédio sexual na prisão. A família diz que ela não está capaz de se sentar nem de andar normalmente.
Uma das mais conhecidas defensoras do direito das sauditas a conduzir, Hathloul já tinha passado 73 dias na prisão, em 2014, depois de ter tentado entrar na Arábia Saudita a conduzir vinda dos Emirados Árabes Unidos. A jovem estudou Sociologia na Universidade Sorbonne de Abu Dhabi entre 2016 e 2016 – um grupo de professores da Sorbonne subscreveu a sua candidatura ao Prémio Nobel da Paz de 2019, apresentada por uma deputada canadiana.
Nos últimos dois anos, dezenas de activistas, incluindo intelectuais e líderes religiosos, têm sido detidos no que aparenta ser uma tentativa do príncipe herdeiro, e regente de facto, Mohammed bin Salman, para consolidar o poder.
Semanas antes da entrada em vigor da lei que permite às sauditas conduzir, as autoridades detiveram Hathloul, Hathoon al-Fassi, Emaan al-Najfan, entre outras mulheres que se tornaram conhecidas por mobilizarem campanhas para permitir às sauditas guiarem. Todas foram impedidas de comentar publicamente o fim da proibição.
Estas detenções intensificaram as críticas internacionais à Arábia Saudita depois da morte do jornalista Jamal Khashoggi, assassinado em Outubro no consulado saudita de Istambul. Os governos do Reino Unido e dos Estados Unidos garantem ter pedido a libertação das activistas nos últimos encontros que tiveram com autoridades da monarquia.
Quando o Ministério Público de Riad anunciou que os julgamentos teriam início, a Amnistia exigiu a “libertação imediata das prisioneiras de opinião” e descreveu os processos como um “símbolo chocante da intensificação da repressão do reino”. “As autoridades sauditas não fizeram nada para investigar as graves alegações de tortura”, lamentou, por seu turno, a Human Rights Watch num comunicado. “E são as defensoras dos direitos das mulheres, e não os torcionários, que serão acusados e julgados”.