"O PS está porventura incomodado com o que fez - não é com o que o BE diz"

Líder bloquista vinca que divergência entre BE e PS sobre sistema financeiro não é nova. Catarina Martins relativiza subida do tom das divergências com os socialistas por causa do Novo Banco.

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LUSA/ESTELA SILVA

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, destacou nesta segunda-feira que “a enorme divergência entre Bloco e PS” sobre o sistema financeiro não é nova, assim como as críticas, apontando “uma certa desilusão” da população pela manutenção da política neste sector.

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A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, destacou nesta segunda-feira que “a enorme divergência entre Bloco e PS” sobre o sistema financeiro não é nova, assim como as críticas, apontando “uma certa desilusão” da população pela manutenção da política neste sector.

A comparação que Catarina Martins fez, no sábado, entre António Costa e Pedro Passos Coelho naquilo que é a actuação em relação ao sistema financeiro mereceu entretanto duras críticas do PS, que a considerou “inaceitável".

Em entrevista nesta segunda-feira de manhã à Antena 1, Catarina Martins sublinhou que “há uma divergência enorme entre o Bloco e PS” sobre a forma como se lida “com o sistema financeiro”, uma divergência que “está à vista, que não é nova”, tal como “as críticas do Bloco não são novas”. “Que em ano de eleições haja mais atenção sobre as nossas afirmações e propostas divergentes sobre esta matéria, é natural, mas as pessoas julgarão”, disse.

Questionada sobre a aproximação às eleições, a líder do BE lembrou que “o grande ano de problemas do sistema financeiro perto de eleições foi 2015, não foi 2019”, sustentando que na altura, “com a grande ajuda do Banco de Portugal, PSD e CDS esconderam esses problemas todos”. “Este é um ano em que se está a ver consequências das decisões tomadas ao longo de vários anos e em que uma boa parte da população portuguesa, que colocou uma expectativa grande, fundada, numa alteração da política, vê que afinal o PS no Governo acabou por fazer, com o sistema financeiro, o mesmo que PSD/CDS”, insistiu.

Na opinião de Catarina Martins, o Governo minoritário do PS, apoiado parlamentarmente por BE, PCP e PEV, “não alterou a prática de limpar dinheiros privados com dinheiro público”, nem “alterou a prática de dizer “ámen” a tudo o que diz a Comissão Europeia”. “Isso está à vista e há uma certa desilusão desse ponto de vista. Para nós não há desilusão porque nós estamos a avisar há anos”, destacou.

Se o PS “sente desconforto com o facto de a população estar a compreender que não mudou o que devia na sua relação com o sistema financeiro” ou se “sente dificuldade em explicar porque é que tem que pôr mais dinheiro no fundo do resolução”, na opinião da líder do BE, “a culpa não é ser ano de eleições nem é do Bloco”. “É porque o PS preferiu manter o mesmo mecanismo criado por PSD e CDS e não levou a sequer a votação no Parlamento, como nós exigimos tantas vezes”, criticou.

Tema não coube no acordo

Interrogada sobre o porquê destas acusações e denúncias surgirem agora, Catarina Martins recordou que o partido as faz desde o início e que “as questões sobre o sistema financeiro não couberam no acordo”. “Na altura tivemos de escolher: ou não fazemos acordo nenhum por causa das questões do sistema financeiro e, portanto, o sistema financeiro vai ficar como está e, para além disso, as pensões e os salários vão continuar a ter cortes; ou fazemos um acordo para proteger os serviços públicos, salários, pensões e sabemos que não há acordo sobre o sistema financeiro”, afirmou.

À tarde, no final de uma visita ao Jardim de Infância de Belém, em Lisboa, Catarina Martins voltou a ser questionada sobre a reacção e as críticas do PS em relação à comparação feita por si entre o actual primeiro-ministro, António Costa, e o seu antecessor, Pedro Passos Coelho, naquilo que diz respeito à actuação sobre o sistema financeiro. “Comprova-se que nós temos razão à medida que a factura sobre os contribuintes vai aumentando e a banca é cada vez mais pesada, é verdade. O PS fica incomodado? O PS está por ventura incomodado com o que fez, não é com o que o BE diz hoje”, respondeu.

Segundo Catarina Martins, o que o partido que lidera diz hoje é o que afirma “desde o primeiro dia e quem fez votações ao lado da direita para manter tudo na mesma quanto ao sistema financeiro foi o PS”.

“A posição do BE sobre o Novo Banco não tem nenhuma novidade. Lembro, aliás, que o próprio PS concordava com esta visão do Bloco de Esquerda”, começou por dizer. Quando o Governo PSD/CDS-PP “anunciou o Fundo de Resolução e a forma como ia ser injectado dinheiro público” nesse mesmo fundo, exemplificou a coordenadora bloquista, “o próprio António Costa, na altura na oposição, veio dizer que não era verdade que não fosse dinheiro dos contribuintes ou que não ficasse caro aos contribuintes”.

“Nós não mudamos de ideias. Vemos com algum espanto que agora o PS e o senhor primeiro-ministro venham dizer que, afinal, o Fundo de Resolução não é dinheiro dos contribuintes se, quando o Fundo de Resolução foi criado o PS [disse] - como Bloco de Esquerda, disse isso mesmo - que era dinheiro dos contribuintes”, recordou.

Catarina Martins reiterou que aquilo que “o PS fez, tanto com o Banif como com o Novo Banco, é exactamente o mesmo caminho que o Governo PSD/CDS já tinha começado a trilhar”. “Não desconhecemos e reconhecemos que em 2015, PSD e CDS, com a ajuda do governador do Banco de Portugal esconderam os problemas financeiros em vários bancos para deixar que explodissem depois das eleições”, criticou, desta vez apontando à direita. Insistindo na ideia que o” Bloco não mudou de posição e continua a dizer o mesmo”, Catarina Martins sublinhou que “o Novo Banco está a ficar caro demais aos contribuintes”.

As críticas de Catarina Martins no sábado já tinham motivado uma reacção da secretária-geral adjunta do PS. Em declarações à Lusa neste domingo, Ana Catarina Mendes acusou a coordenadora do BE de fazer uma “comparação inaceitável” entre o primeiro-ministro, António Costa, e o antecessor, Pedro Passos Coelho, sobre o sistema financeiro.

“Em períodos eleitorais não pode valer tudo. A seriedade é aquilo que mais respeitamos. Por isso, a credibilidade do Estado Português diz tanto lá fora”, disse Ana Catarina Mendes.