Por dois minutos, Antonis perdeu o voo fatal da Ethiopian Airlines
No Quénia, Khalid Ali Abdulrahman acreditou por instantes que tinha perdido o filho, até este telefonar a avisar que também não tinha embarcado. São duas histórias de quem escapou por pouco a mais uma tragédia aérea.
“Foi o meu dia de sorte”. Por dois minutos, Antonis Mavropoulos perdeu o voo ET 302 da Ethiopian Airlines, com destino a Nairobi, que se despenhou este domingo nos arredores de Addis-Abeba, a capital da Etiópia. Morreram 157 pessoas, entre 149 passageiros e oito tripulantes.
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“Foi o meu dia de sorte”. Por dois minutos, Antonis Mavropoulos perdeu o voo ET 302 da Ethiopian Airlines, com destino a Nairobi, que se despenhou este domingo nos arredores de Addis-Abeba, a capital da Etiópia. Morreram 157 pessoas, entre 149 passageiros e oito tripulantes.
Através de uma publicação no Facebook, o cidadão grego, presidente da Associação Internacional de Resíduos Sólidos, recorda como tudo se passou. “Perdi o voo por dois minutos. Quando cheguei a porta de embarque já estava fechada e ainda consegui ver os últimos passageiros a entrar pelo túnel. Ainda gritei para que me colocassem naquele voo, mas não o permitiram. Só perdi o voo porque me esqueci de despachar a minha mala, ou teriam esperado por mim mais algum tempo”, explica.
Mavropoulos foi informado pela companhia aérea que poderia apanhar o voo das 11h20 para Nairobi. “Pediram-me desculpas pelo transtorno e ainda me transferiram para a zona de lounge para esperar pelo avião. No entanto, pouco depois fui informado pelos agentes policiais do aeroporto que o meu voo afinal não ia partir. Só me disseram para não protestar, mas para agradecer a Deus porque tinha sido o único passageiro a não entrar no voo ET 302”, conta o presidente da organização sem fins lucrativos.
Na publicação intitulada “O Meu Dia de Sorte”, Mavropoulos mostra o bilhete para o voo ET 302 que o levaria a Nairobi na manhã de Domingo para participar numa conferência das Nações Unidas. Para a capital do Quénia também se dirigiam muitos dos seus colegas, que acabariam por morrer na queda do Boeing 737 Max 8 da Ethiopian Airlines.
“Escrevi este texto para gerir o meu choque. É a primeira vez que estou feliz por ter escrito um post e sinto-me grato por estar vivo. Talvez seja muito velho para o rock n’ roll, mas sou certamente muito jovem para morrer”, remata Mavropoulos.
Ao contrário do que Mavropoulos escreveu, o grego não foi o único a não embarcar no Boeing 373 da Ethiopian Arilines na manhã deste domingo. Ahmed Khalid, residente no Dubai, ia visitar a sua família no Quénia e teria estado a bordo do avião que se despenhou caso o seu primeiro voo do dia, proveniente dos Emirados Árabes Unidos, não se tivesse atrasado a caminho de Addis-Abeba.
“Disseram-me para apanhar o voo das 11h e eu disse que não havia problema, mas quando percebemos que algo se tinha passado com o voo anterior começamos a perguntar aos funcionários da companhia aérea. Ninguém disse nada, mas um dos passageiros acabou por ver no seu telemóvel que o primeiro avião que tinha descolado antes simplesmente caiu”, disse Khalid ao The National, um jornal diário dos Emirados Árabes Unidos.
O pai de Khalid estava à sua espera no Aeroporto Internacional de Jomo Kenyatta, em Nairobi, sem saber que o seu filho tinha perdido o voo que acabara de se despenhar. “Cheguei aqui [aeroporto de Nairóbi] pouco depois das 10h e um segurança aproximou-se de mim e perguntou-me de que voo é que eu estava à espera. Respondi-lhe rapidamente Etiópia porque queria que ele me direccionasse para as chegadas, mas ele só me respondeu ‘desculpe, esse voo despenhou-se'”, conta Khalid Ali Abdulrahman, pai do jovem, ao diário dos Emirados. No entanto, foi pouco depois que recebeu uma chamada do filho, que lhe disse que ainda estava na Etiópia e que tinha perdido o voo ET 302.
Pelo menos 19 das 157 vítimas do desastre aéreo tinha ligações à Organização das Nações Unidas. E começam a ser conhecidas mais identidades das vítimas do acidente. Entre eles, três médicos austríacos, o fundador de uma organização humanitária, um embaixador, familiares de um deputado eslovaco ou um professor universitário canadiano nascido na Nigéria são algumas das vítimas do desastre aéreo. Há 35 nacionalidades representadas na lista das vítimas, mas não há nenhum cidadão português.
Ainda se desconhecem as causas do acidente, apesar de as caixas negras do avião já terem sido encontradas. Há no entanto dúvidas sobre a segurança do Boeing 737 Max 8, que sofre o seu segundo acidente em seis meses. Em ambos os casos, na Etiópia e na Indonésia, os aparelhos acidentados eram novos e despenharam-se logo após a descolagem, depois de as respectivas tripulações terem relatado dificuldades técnicas. Nas duas situações há registo de oscilações bruscas na velocidade vertical. Sindicatos de pilotos têm criticado o software do aparelho norte-americano. Por precaução, a China suspendeu toda a frota 7373 Max, lançando a Boeing numa inesperada crise.