Falta de material tira cinco comboios por dia dos carris no Alentejo, Oeste e Algarve

Avarias e material imobilizado nas oficinas à espera de manutenção prejudicaram a oferta regular da empresa em 2018. Passageiros transportados diminuíram no Oeste e Alentejo, mas subiram no Algarve.

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Nuno Ferreira Santos

Em 2017 e 2018, a CP suprimiu nas linhas do Oeste, Alentejo (Casa Branca – Évora) e Algarve 3322 comboios, dos quais 2411 devido a falta de material. As greves explicam a supressão de 855 comboios nestas linhas, tendo havido ainda 56 circulações que não se realizaram devido a ocorrências ligadas com a infra-estrutura. Estes números mostram que no conjunto destes 720 dias, circularam menos cinco comboios por dia do que estavam planeados, devido a este conjunto de circunstâncias.

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Em 2017 e 2018, a CP suprimiu nas linhas do Oeste, Alentejo (Casa Branca – Évora) e Algarve 3322 comboios, dos quais 2411 devido a falta de material. As greves explicam a supressão de 855 comboios nestas linhas, tendo havido ainda 56 circulações que não se realizaram devido a ocorrências ligadas com a infra-estrutura. Estes números mostram que no conjunto destes 720 dias, circularam menos cinco comboios por dia do que estavam planeados, devido a este conjunto de circunstâncias.

A maior parte das vezes em que a empresa deixou os passageiros em terra foi por causa de avarias ou devido à impossibilidade da EMEF de fazer a manutenção das automotoras por falta de pessoal, acabando estas por ficar imobilizadas nas oficinas. A campeã das supressões por estas razões, durante estes dois anos, foi a linha do Oeste, com 1313 comboios suprimidos, seguida do Algarve com 873 e do troço Casa Branca – Beja com 225.

Se olharmos apenas para o ano de 2018, quando o problema de manutenção se intensificou, verifica-se que a CP retirou dos carris, por falta de material circulante, 1789 comboios no Oeste, Alentejo e Algarve, o que dá uma média coincidente com a registada no total dos dois anos por várias razões: cinco comboios suprimidos por dia só à conta da falta de material, sem contar com as greves ou outros problemas. 

Impacto nas receitas

A irregularidade da oferta foi fatal para o número de passageiros transportados e para as receitas de bilheteira nas linhas do Oeste e do Alentejo. Na primeira, o número de passageiros desceu de 484 mil para 313 mil entre 2016 e 2018, tendo as receitas acompanhado essa redução de um milhão de euros para 813 mil.

Aumentar

No Alentejo, em igual período, a CP viu a procura diminuir de 139 mil passageiros para 116 mil, enquanto as receitas desciam de 349 mil euros para 301 mil euros.

Só o Algarve resistiu às supressões. De 2017 para 2018 os clientes diminuíram de 191 mil para 185 mil, mas as receitas aumentaram de 370 mil para 380 mil euros.

Só nestas três linhas a CP perdeu entre 2017 e 2018 cerca de 207 mil passageiros, que representam 56% do total de clientes perdidos no serviço regional durante esses dois anos.

Em resposta a perguntas do PÚBLICO, a CP diz explica que quando há supressões, a empresa “procura disponibilizar transbordo rodoviário como alternativa”, mas que nem sempre é possível antecipar as necessidade de supressão, além de que, por vezes, não há disponibilidade de autocarros. Noutros casos, “o tempo gasto no percurso por estradas nacionais não compensa face ao horário da viagem seguinte no mesmo percurso”.

Ainda assim, a empresa diz que na linha do Oeste 65% dos comboios suprimidos tiveram alternativas rodoviárias (táxis ou autocarros), percentagem que foi de 82% no Algarve e de mais de 60% no troço Casa Branca – Évora.

As supressões de comboios, que provocaram a crise ferroviária do Verão passado, já tinham tido início em 2017 sem que a CP ou o Governo tivessem tomado medidas, apesar de estas virem progressivamente a agravar-se. O facto de ocorrerem em linhas regionais com fraca procura não fez soar campainhas de alarme, excepto quando também começaram a afectar a linha de Sintra e a própria linha do Norte, tanto nos regionais para Tomar como nos Intercidades e Alfas. Apesar de terem acontecido poucas vezes, estas supressões acabaram por provocar mais ruído e levar o Governo a anunciar medidas apressadas para resolver o problema: contratação de pessoal para a EMEF, a empresa de manutenção, reforço do aluguer de automotoras a Espanha e compra de novos comboios.

Passageiros a crescer

Apesar da crise ferroviária, a transportadora pública fechou o exercício de 2018 com mais quatro milhões de passageiros transportados do que no ano anterior, atingindo a cifra de 126 milhões, com uma média diária de 1400 comboios operados. O aumento de 3,5% de passageiros correspondeu a um crescimento de 3,7% da receita: 250 milhões de euros em 2017 e 259 milhões em 2018.

O suburbanos de Lisboa e do Porto foram os segmentos de mercado que mais cresceram (5% e 1,8%, respectivamente), seguindo-se os serviços de longo curso (3,2%). Uns e outros transportaram 109 e 6,4 milhões de passageiros, enquanto no serviço regional viajaram 10,6 milhões de passageiros, menos 370 mil do que em 2017.

Carlos Nogueira, presidente da CP, afirmou várias vezes publicamente que “se mais comboios tivéssemos, mais passageiros transportaríamos”, referindo-se a uma procura crescente, à qual faltaram recursos à empresa para poder responder. Em muitos fins-de-semana e períodos do Verão os comboios andaram esgotados, não tendo sido possível reforçar alguns comboios por falta de carruagens.

Ainda há poucos dias, no Parlamento, este responsável, garantiu “tolerância zero” na segurança da frota, apesar das limitações ao nível do material circulante e dos meios humanos. Carlos Gomes Nogueira foi ouvido na Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas e explicou, citado pela Lusa, que “Portugal no domínio da ferrovia está ao nível da Grécia e da Roménia e muito desfasado de países como a vizinha Espanha”, disse Carlos Nogueira, lamentando a “crónica falta de investimento nas últimas décadas no sector ferroviário”.

Frota envelhecida

O presidente da CP recordou, a propósito, a abertura do concurso em Janeiro para a compra de novo material circulante, referindo que, nas linhas não electrificadas, a CP recorre a uma frota a diesel que, em alguns casos, chega aos 65 anos quando “os standards da indústria apontam para vidas úteis de 35 anos”.

A somar ao envelhecimento da frota está o problema da falta de meios humanos na EMEF devido, em grande parte, à saída de profissionais com grande experiência na sequência do programa de longas carreiras contributivas no Estado.

A falta de material levou também a empresa a praticamente abandonar a realização de comboios especiais (como foi o caso dos comboios do Benfica), tendo rejeitado pedidos de autarquias para alugar composições para percursos específicos.

Carlos Nogueira salientou ainda a importância do reforço na unidade de manutenção do grupo, tendo em conta que a fornecedora de aluguer de comboios à espanhola Renfe “se esgotou” e que as 22 novas composições que a CP vai comprar só chegarão em 2022 ou 2023.

A pairar sobre as dificuldades da CP continua a elevada dívida acumulada ao longo dos anos. “Temos uma dívida asfixiante de 2,6 mil milhões de euros”, disse o responsável, referindo que “o problema está em vias de resolução para o saneamento financeiro da CP”, tendo sido apresentado à tutela um plano de reestruturação financeira para a redução dessa dívida.

Numa audição anterior, a Comissão de Trabalhadores (CT) da EMEF, confirmou que os ciclos de manutenções estão a ser alargados, mas garantiu que este alargamento não põe em causa a segurança dos comboios, embora lamente o envelhecimento da frota.