Bienal de Veneza com muito menos artistas na exposição internacional (nenhum é português)
Segundo os números da bienal, há uma maioria de artistas mulheres entre os nomes escolhidos pelo curador Ralph Rugoff.
Num ano em que a Bienal de Arte de Veneza não quer estar presa a um tema, o curador londrino Ralph Rugoff optou por ter não uma mas duas exposições principais, a que chamou, minimalmente, Proposta A e Proposta B. A primeira ocupará o espaço do Arsenale e a segunda o pavilhão principal dos Giardini, mas ambas vão mostrar os mesmos 79 artistas, numa lista em que não figura qualquer nome de Portugal, confirmou ao PÚBLICO Franscesca Buccaro, do gabinete de imprensa da bienal.
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Num ano em que a Bienal de Arte de Veneza não quer estar presa a um tema, o curador londrino Ralph Rugoff optou por ter não uma mas duas exposições principais, a que chamou, minimalmente, Proposta A e Proposta B. A primeira ocupará o espaço do Arsenale e a segunda o pavilhão principal dos Giardini, mas ambas vão mostrar os mesmos 79 artistas, numa lista em que não figura qualquer nome de Portugal, confirmou ao PÚBLICO Franscesca Buccaro, do gabinete de imprensa da bienal.
Noutras contas feitas com os números fornecidos pela bienal, a exposição chega aos 83 artistas, se contarmos com os pares e os colectivos, mostrando mesmo assim uma grande redução em relação às últimas duas edições — 136 artistas em 2015 e 120 em 2017.
A edição que abre a 8 de Maio terá mais mulheres do que homens entre os 83 artistas: 42 mulheres, 38 homens e três artistas não binários que não se identificam com nenhum dos dois géneros. O resultado com as mulheres a ultrapassarem o número de homens é acidental, diz o site ArtNet, citando o curador.
A paridade homem-mulher é atingida pelos 90 pavilhões nacionais — Portugal estará presente com a artista Leonor Antunes —, afirmou o presidente da bienal, Paolo Baratta, numa apresentação em Londres que coincidiu com o Dia Internacional da Mulher.
A lista dos artistas escolhidos por Ralph Rugoff, um norte-americano que vive em Londres, mostra uma mistura entre artistas consagradas e outras mais emergentes como Hito Steyerl, Dominique Gonzalez-Foerster, Rosemarie Trockel, Teresa Margolles, Carol Bove, Njideka Akunyili Crosby, Jesse Darling, Otobong Nkanga ou Zanele Muholi. Já o artista mais novo é o lituano Augustas Serapinas, nascido em 1990, enquanto o mais velho é o norte-americano Jimmie Durham, nascido em 1940.
Se os Estados Unidos são o país mais representado e a China chega aos seis artistas na exposição internacional, temos a estreia da Argélia, Gana, Madagáscar e Paquistão nas representações nacionais.
Apesar de um título geral, May You Live in Interesting Times, revelado quando a curadoria de Ralph Rugoff foi conhecida em Dezembro, o director da Hayward Gallery sublinhou, num comunicado de imprensa da bienal, que a 58.ª edição “não vai ter um tema em si”, porque a arte na sua complexidade desafia categorizações. “Vai focar-se no trabalho de artistas que desafiam os hábitos de pensamento existentes e que alargam as nossas leituras de objectos e imagens, gestos e situações. Este tipo de arte surge de uma prática que tem em conta perspectivas múltiplas, capaz de abordar noções contraditórias e incompatíveis, equilibrando várias formas de encontrar um sentido para o mundo.”
A bienal vai centrar-se num tipo de obras capaz de se opor às narrativas redutoras “que tem definido o ciclo de notícias contemporâneo e o discurso político polarizado”, diz o site da Frieze, que também esteve na apresentação da bienal em Londres. Se “muros” e “factos alternativos” evocam o Presidente dos EUA, não haverá, promete o curador, imagens de Donald Trump na exposição: “A sua presença será, de certa forma, uma assombração da bienal.”
O título da exposição, aliás, é uma ironia que reflecte, em si, o problema das fake news: a frase “May you live in interesting times” entrou no discurso político no final da década de 1930, pela boca do deputado britânico Austen Chamberlain, que julgava estar a citar uma maldição chinesa. Apesar de ficção, a frase que alertava para as tensões e crises sucessivas que antecederam a II Guerra Mundial entrou em vários outros discursos nos últimos cem anos, desde Albert Camus a Hillary Clinton, nota Rugoff.
“O que podemos fazer em tempos em que as fake news tem efeitos graves?”, perguntou o curador, citado novamente pela Frieze. “A arte não vai deter o aumento dos movimentos nacionalistas e dos governos autoritários em diferentes partes do mundo”, lembrava o curador no comunicado de imprensa, mas talvez “possa ser uma espécie de guia para viver e pensar em ‘tempos interessantes’”.
Com as duas exposições a apresentarem a mesma lista de nomes, o curador pretende dar mais espaço ao trabalho de cada artista. “A ideia é sublinhar a multiplicidade da prática destes artistas, uma vez que cada um vai contribuir com trabalhos muito diferentes para cada mostra. O meu sonho é que o visitante mais casual que não gosta de ler as tabelas das paredes possa visitar as duas exposições e assumir que são de artistas diferentes.”
Esta quarta-feira, às 11h, no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, será apresentada, pela primeira vez, a representação oficial portuguesa na bienal, num projecto da escultora Leonor Antunes intitulado “a seam, a surface, a hinge or a knot”, que tem curadoria de João Ribas. Além da artista e do curador, estarão também presentes na conferência de imprensa o novo director-geral das Artes, Américo Rodrigues, e a ministra da Cultura, Graça Fonseca.
Leonor Antunes foi a única artista portuguesa presente na exposição internacional comissariada em 2017 pela francesa Christine Macel, no ano em que a representação nacional coube ao artista José Pedro Croft.
Este ano, o artista plástico luso-luxemburguês Marco Godinho é o representante do Luxemburgo na bienal.
Artigo alterado a 19/3/2019: corrige a nacionalidade de Ralph Rugoff