Sim, na Coreia do Norte também se vota. Mas com limitações

O regime organiza neste domingo eleições para a Assembleia Suprema do Povo, mas os norte-coreanos podem apenas votar nos deputados escolhidos por Kim.

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Reuters/KCNA

Não deverá haver surpresas nas eleições para a Assembleia Suprema do Povo, este domingo na Coreia do Norte. O voto não só é obrigatório como convém chegar cedo às urnas. O boletim tem apenas um nome e até há cabines de voto – mas é aconselhável que os eleitores façam a sua escolha à vista de todos.

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Não deverá haver surpresas nas eleições para a Assembleia Suprema do Povo, este domingo na Coreia do Norte. O voto não só é obrigatório como convém chegar cedo às urnas. O boletim tem apenas um nome e até há cabines de voto – mas é aconselhável que os eleitores façam a sua escolha à vista de todos.

De cinco em cinco anos, os norte-coreanos são chamados a escolher os deputados para a Assembleia Suprema do Povo, o órgão legislativo do regime liderado por Kim Jong-un. Mas não há margem para muita escolha: o boletim tem apenas um nome, previamente escolhido por uma miríade de comités partidários.

Em teoria, é possível riscar o nome do candidato proposto, mas tal tentativa de oposição seria de imediato objecto de intervenção da polícia secreta, diz à BBC o analista Fiodor Tertitski, que estuda a política interna norte-coreana. O boletim é então depositado numa urna que se encontra no meio da sala onde decorre a votação. Há também uma cabine em que é possível votar de forma secreta, mas fazê-lo seria visto como altamente suspeito.

A partir dos 17 anos, o voto é obrigatório e frequentemente a taxa de participação aproxima-se dos 100% – no ano passado foi de 99,97%, segundo a agência estatal KCNA. Os candidatos do regime receberam a totalidade dos votos.

Num Estado fortemente controlado pela família Kim e pelo seu círculo mais próximo, a existência de eleições satisfaz “uma necessidade de legitimar o Governo simulando um procedimento democrático”, explica à AFP o director do Korea Risk Group, Andrei Lankov. Por abrangerem praticamente todo o universo de adultos, as eleições funcionam também como um censo à população.

Para as autoridades, trata-se sobretudo de mais um dos testes de lealdade à população. Votar cedo, por exemplo, é um sinal apreciado de forma positiva pelo regime e, por isso, é normal que haja longas filas logo às primeiras horas do dia das eleições. Este domingo, a três horas do fecho das urnas, mais de 92% dos eleitores tinha já votado, de acordo com a KCNA.

Depois de votar, é esperado que os cidadãos se organizem em celebrações para comemorar os líderes nacionais e a nova legislatura. “Nos media estatais, os dias de eleições são apresentados como acontecimentos festivos, com as pessoas à saída dos locais de voto a celebrar”, disse à BBC o analista da NK News, Minyoung Lee.

O Rodong Sinmun, o órgão official do Partido dos Trabalhadores, publicou um editorial em que sublinhava o papel das eleições para mostrar “a vontade do povo para confiar firmemente e apoiar” Kim Jong-un. “Cada boletim depositado pelos candidatos a deputados mostra a lealdade para defender de forma firme a ideia única dos grandes líderes em promover o poder do povo e das suas conquistas”, lia-se no jornal.

A Assembleia Suprema do Povo praticamente não exerce os seus poderes que, em teoria, incluem a possibilidade de destituir Kim, diz a BBC. “Sei que os media internacionais geralmente limam um pouco as suas notícias, dizendo que a Assembleia tem ‘pouco’ poder ou influência, mas isso não está correcto: tem zero”, diz Tertitski.