Guiné-Bissau: Campanha marcada por ostentação e apresentação de programas
Foi uma das campanhas mais caras do país onde 67% dos 1,8 milhões de habitantes vive abaixo do limiar da pobreza.
A campanha eleitoral para as legislativas de domingo na Guiné-Bissau, que terminou na sexta-feira, foi marcada pela ostentação de meios, mas também pela apresentação de programas eleitorais por todos os partidos políticos.
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A campanha eleitoral para as legislativas de domingo na Guiné-Bissau, que terminou na sexta-feira, foi marcada pela ostentação de meios, mas também pela apresentação de programas eleitorais por todos os partidos políticos.
“Há uma coisa diferente em relação às campanhas passadas, praticamente todos os partidos têm-se cingido aos programas, houve uma interacção entre partidos e eleitores para tentar convencê-los a votar nos seus projectos políticos, que é muito bom. É uma inovação que a campanha trouxe”, disse o analista político guineense Rui Jorge Semedo.
Durante as três semanas em que decorreu a campanha eleitoral, os partidos políticos apresentaram os seus programas de Governo ao eleitorado e participaram numa iniciativa inédita de uma rádio de Bissau que pôs os candidatos a deputados a responderem às perguntas da população.
O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) regressou com o “Terra Arranca”, um programa já apresentado em 2014, mas que se viu na impossibilidade de cumprir depois de o então primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira, ter sido demitido do cargo em 2015 pelo chefe de Estado guineense, José Mário Vaz.
“O programa do PAIGC é de facto o único programa credível, sério, que é apresentado no sentido de resgatar o país, tirar o país do marasmo em que tem vivido durante estes anos e propor um programa de desenvolvimento”, disse Domingos Simões Pereira.
Já a segunda maior força política do país, o Partido de Renovação Social (PRS) apresentou o “Lantanda Guiné” (Reerguer a Guiné), um programa que prevê reformas desde a saúde à educação, passando pelos recursos naturais, justiça e Constituição da República.
O povo guineense “quer mudanças”, afirmou Alberto Nambeia, presidente do PRS.
E são mudanças ou reformas, as principais promessas apresentadas pelos partidos políticos guineenses, que defendem, quase todos, uma refundação do Estado.
Com 1,8 milhões de habitantes, a Guiné-Bissau é um dos países mais pobres com 67% da população a viver abaixo do limiar da pobreza, segundo dados de 2015.
“Num país pobre, onde as pessoas vivem dificuldades imensas, fazer campanhas políticas milionárias durante 21 dias é preocupante, porque de todas as formas alguém terá hipotecado qualquer coisa que depois os guineenses terão de vir a pagar e a grande verdade é que é preciso fazer passar esta mensagem”, disse Agnelo Regala, líder da União para a Mudança, também candidato às legislativas de domingo.
A crítica foi feita por mais formações políticas, de menor dimensão, mas também pela sociedade civil.
“Do ponto de vista da estratégia para a mobilização dos eleitores, acho que o país está a fazer uma das campanhas mais caras da sua recente história”, afirmou à Lusa Rui Jorge Semedo, manifestando a sua preocupação porque o Estado da Guiné-Bissau é “incapaz de fazer alguns investimentos”.
A Guiné-Bissau volta a escolher os seus novos representantes na Assembleia Nacional Popular cinco anos depois de, em Abril de 2014, ter realizado eleições legislativas e presidenciais, na sequência de um golpe de Estado, em 2012.
Se as eleições de 2014 significaram uma esperança de desenvolvimento e estabilidade para o país, rapidamente as expectativas se dissiparam com o início de uma grave crise política em 2015.
Durante aquele período, a Guiné-Bissau teve seis primeiros-ministros e o parlamento nacional esteve encerrado. A grave crise levou à intervenção e mediação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, que ameaçou impor sanções a quem criasse obstáculos ao processo eleitoral.
Para o politólogo guineense Rui Landim, a Guiné-Bissau está cada vez mais a “progredir na grande regressão e o país afunda-se”.
“A Guiné-Bissau está perante uma situação em que tem de ter uma opção clara, ou sobrevive como país ou desaparece. Estas eleições são determinantes para o futuro”, salientou.